23.04.2013 Views

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo 53<br />

“As palavras de nossa boca ou as de nossos atos que são conhecidas em público<br />

nos expõem a uma tentação muito perigosa, filha desse amor aos louvores, que,<br />

para nos fazer valer, recolhe e mendiga os pareceres alheios. Essa paixão ainda me<br />

tenta quan<strong>do</strong> eu a critico em mim, e por isso mesmo eu a critico.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

— <strong>Caio</strong>, o Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so está vin<strong>do</strong> ao Rio e a gente está pedin<strong>do</strong> a ele para<br />

ir conhecer a Fábrica de Esperança. Vai ser no dia 20 de janeiro — disse-me Rubem.<br />

— Ih, rapaz! Eu não vou estar no Brasil — falei.<br />

— Não, <strong>Caio</strong>. Não faz isso, irmão.<br />

— É que não dá. Estou com uma viagem agendada com mais de duzentas pessoas que vão<br />

comigo fazer uma peregrinação pelo deserto <strong>do</strong> Sinai. Vamos subir o monte Horebe. Eu os<br />

convidei, e eles aceitaram. Como é que eu posso dizer que não vou? Não tem jeito — expliquei. —<br />

Mas a Fábrica tá aí. Eu não tenho que estar. Você será o cicerone no dia.<br />

Mandamos fazer os preparativos. Quan<strong>do</strong> chegou o dia 15 de janeiro, eu estava em Vigário<br />

Geral. André Fernandes e um grupo de voluntários estavam me acompanhan<strong>do</strong> numa outra<br />

invasão de paz. Meu xará, <strong>Caio</strong> Ferraz, também estava conosco, nos ciceronean<strong>do</strong> em sua<br />

comunidade.<br />

Depois de passarmos um tempo na Casa da Paz numa reunião de orações e preces, <strong>Caio</strong><br />

Ferraz disse que recebera um reca<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>no da favela, o traficante Flávio Negão, dizen<strong>do</strong> que<br />

queria um encontro comigo. Eu já vinha oran<strong>do</strong> por Flávio Negão desde que lera sua entrevista no<br />

livro Cidade partida.<br />

— Manda dizer que eu encontro com ele na hora que ele quiser — falei.<br />

Recebemos ordens de andar pela favela para que desse tempo de irem acordá-lo.<br />

— Gente como ele <strong>do</strong>rme de dia e trabalha de noite — nos informou o rapaz que foi acordar<br />

o Negão na casa de uma de suas esposas.<br />

Depois de quase uma hora de caminhada, dan<strong>do</strong> tempo, paramos num bar para tomar um<br />

refrigerante.<br />

— O Negão chegou — falou <strong>Caio</strong> Ferraz.<br />

Sau<strong>do</strong>u-nos com o cumprimento clássico, tocan<strong>do</strong> a palma da mão na sua, giran<strong>do</strong> a mão<br />

sobre seu polegar e voltan<strong>do</strong> para o aperto final. Perguntei se não havia um lugar mais discreto,<br />

menos exposto que aquele bar, onde pudéssemos sentar e conversar. Ele sugeriu o andar de cima<br />

<strong>do</strong> mesmo bar. Subimos os quatro — ele, <strong>Caio</strong> Ferraz, André Fernandes e eu —, acompanha<strong>do</strong>s

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!