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Confissões do pastor - Caio Fábio

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pobre e sem construção de idéias, tão simplista nos seus argumentos e, ao mesmo tempo, tão<br />

cheio de tolices, que achei que eles to<strong>do</strong>s, os que assinaram aquela carta, estavam me fazen<strong>do</strong> um<br />

favor.<br />

Respondi à mídia com uma “nota” na qual lamentava que as questões levantadas pelo nosso<br />

manifesto continuassem sem resposta — com certeza devi<strong>do</strong> à impossibilidade de negar as<br />

evidências de tu<strong>do</strong> o que disséramos — e que, ao invés de partirem para o nível das idéias, “eles”<br />

estivessem gastan<strong>do</strong> tanto dinheiro — a matéria era paga — para tentar enlamear o meu nome.<br />

Continuei em Foz e não mudei a rotina de minhas pregações naquela região <strong>do</strong> Brasil até o<br />

fim de meus compromissos. Na semana seguinte, a situação tinha ganha<strong>do</strong> outro contorno, <strong>do</strong><br />

ponto de vista interno. A diretoria da Associação Evangélica em São Paulo queria tomar medidas<br />

imediatas para afastar o <strong>pastor</strong> Jabes Alencar, membro da entidade naquele esta<strong>do</strong>, que, por<br />

razões de interesse pessoal, havia decidi<strong>do</strong> assinar a carta da Universal.<br />

— Na minha opinião, como se tratou de um texto dirigi<strong>do</strong> a mim e não à AEVB, não há nada a<br />

ser feito. Não foi ético o que o <strong>pastor</strong> Jabes fez, mas não foi ilegal <strong>do</strong> ponto de vista de seu vínculo<br />

para conosco — eu disse mais de uma vez, com me<strong>do</strong> de que o episódio gerasse um tempo de<br />

caça às bruxas dentro de nosso grupo espalha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o Brasil.<br />

— Mas por que o <strong>pastor</strong> Fanini também assinou a carta? — era, entretanto, a pergunta que<br />

eu mais ouvia.<br />

Ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> eleito para uma função diplomática de representação <strong>do</strong>s batistas mundiais,<br />

Fanini estava cumprin<strong>do</strong> uma formalidade da política daquela igreja, que faz rodízios<br />

democráticos, indican<strong>do</strong> presidentes de continentes diferentes a cada perío<strong>do</strong>.<br />

— O que fez o <strong>pastor</strong> Fanini mudar tanto? Não foi ele quem disse que preferia a Umbanda à<br />

Igreja Universal? — indagou de mim um evangélico que é repórter de um grande jornal.<br />

— Olha, você é repórter, então investigue para ver se descobre o que fez com que ele<br />

mudasse de um extremo para outro tão radicalmente — disse de mo<strong>do</strong> vago, ainda que soubesse<br />

qual era a razão daquela mudança.<br />

Mas como ouvira a verdadeira história de pessoas de “dentro”, o que incluía informações que<br />

o próprio <strong>pastor</strong> Fanini me passara num almoço que tivera comigo cerca de <strong>do</strong>is meses antes <strong>do</strong><br />

episódio da carta aberta, julguei que não cabia a mim desvendar o mistério, embora as razões<br />

existissem e fossem bem objetivas.<br />

Não sou e nunca fui uma pessoa amargurada. Mas aqueles fatos estavam fazen<strong>do</strong> mal à minha<br />

alma. Meu coração estava começan<strong>do</strong> a ficar malicioso outra vez, depois de 22 anos. Às vezes, me<br />

apanhava construin<strong>do</strong> um plano sofistica<strong>do</strong> para trazer tu<strong>do</strong> aquilo à luz de mo<strong>do</strong> irrefutável.<br />

Então, me recolhia na solidão de mim mesmo e buscava a Deus em oração.<br />

“Jesus, não foi para isto que a Tua Graça me alcançou um dia. Salva-me da amargura e da<br />

iniqüidade de pensamento. Eu me entrego a Ti, que és o único que conheces a verdade. Vem e<br />

traz Tua luz”, era minha prece constante.<br />

Foi naquele perío<strong>do</strong>, mais <strong>do</strong> que em qualquer outro, que pude perceber a bênção da criação<br />

que tivera, apesar de to<strong>do</strong>s os percalços. Se papai não tivesse me estimula<strong>do</strong> a ir empinar a minha<br />

pipa longe de casa, sem me<strong>do</strong> de andar sozinho, e se ele não me tivesse força<strong>do</strong> a lutar contra<br />

adversários sempre maiores <strong>do</strong> que eu, certamente estaria esbagaça<strong>do</strong> pela força daqueles<br />

acontecimentos.<br />

Ainda que sen<strong>do</strong> traí<strong>do</strong> por pessoas até então tão próximas a mim, e mesmo ten<strong>do</strong> de andar<br />

por aquele caminho em profunda solidão, jamais me senti sozinho na estrada. Podia ver onde o<br />

vento estava sopran<strong>do</strong> e para onde a minha pipa estava in<strong>do</strong>. “Para longe de casa?”, você<br />

perguntaria. É, talvez eu estivesse in<strong>do</strong> away from home. Mas as vozes <strong>do</strong> Pai e de papai estavam<br />

sempre comigo. “<strong>Caio</strong>zinho, pode ir até lá soltar o seu papagaio. Se você sabe onde está sain<strong>do</strong> e

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