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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 59<br />

“E conheci por experiência que não é de admirar que o pão seja um tormento para<br />

o paladar <strong>do</strong> enfermo, embora seja agradável para o paladar <strong>do</strong> sadio, e que olhos<br />

enfermos considerem odiosa a luz, que para os puros é amável.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

No ano de 1995 houve muitos seqüestros no Rio, o que era muito ruim para o governo <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong>, pois o governa<strong>do</strong>r Marcello Alencar havia si<strong>do</strong> eleito com forte apoio da classe média e<br />

com a promessa de reduzir a situação de pânico a níveis de razoabilidade em um ano. No entanto,<br />

o ano correra carrega<strong>do</strong> de confusão e crescente perplexidade na questão da violência. E, para<br />

piorar, vários atos isola<strong>do</strong>s de barbarismo haviam aconteci<strong>do</strong> a pessoas vinculadas à chamada alta<br />

sociedade carioca, fazen<strong>do</strong> com que um clima de histeria tomasse conta da mídia. A gota d’água<br />

foi o seqüestro de Eduar<strong>do</strong> Eugênio, filho de um industrial de renome, que acabara de ser eleito<br />

para o cargo de presidente da Federação das Indústrias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro.<br />

Os poderosos da sociedade carioca estavam se sentin<strong>do</strong> extremamente inseguros, o que<br />

poderia deixar o governa<strong>do</strong>r numa situação difícil, politicamente falan<strong>do</strong>. E aqui é bom lembrar<br />

que, no Rio, os governantes ganham ou perdem eleições dependen<strong>do</strong> de como o termômetro da<br />

violência se mostra. E na definição desses níveis, a mídia tem papel preponderante, uma vez que<br />

há a violência real e a violência psicossocial. A primeira, aqueles que nós convencionamos chamar<br />

de bandi<strong>do</strong>s realizam; já a segunda, é basicamente uma produção da mídia, e afeta o inconsciente<br />

da sociedade.<br />

O processo é o seguinte: os órgãos de comunicação constatam a violência real e divulgam-na a<br />

tal ponto, que fazem com que algo de dimensão particular se torne um fenômeno de proporções<br />

coletivas incomparavelmente mais abrangentes <strong>do</strong> que o fato noticia<strong>do</strong>. Então, to<strong>do</strong>s comentam o<br />

assunto e um espírito comunitário é cria<strong>do</strong>. E é essa entidade psicossocial que alimenta a<br />

marginalidade potencial que existe no coração humano, a qual resulta tanto de perversões de<br />

natureza intrinsecamente individual quanto de contribuições feitas pela miséria, pelas<br />

desigualdades e pelas injustiças instituídas em microssociedades, onde inúmeros seres humanos<br />

são força<strong>do</strong>s a existir. E as favelas são o mais trágico exemplo dessa forma de existência.<br />

— Reveren<strong>do</strong>, o publicitário Roberto Medina está sugerin<strong>do</strong> que a cidade <strong>do</strong> Rio pare para<br />

um ato contra tanta violência. O que o senhor acha? — perguntou-me uma repórter.<br />

— Não acredito em atos contra a violência. Acredito em ações contra a violência. Atos desse<br />

tipo só fazem senti<strong>do</strong> se forem segui<strong>do</strong>s de ações práticas, tipo: intervenção econômico-social nas<br />

favelas, uma política de geração de renda para áreas empobrecidas e um trabalho de saneamento

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