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Confissões do pastor - Caio Fábio

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estava, bem diante <strong>do</strong>s meus olhos, um crente <strong>do</strong>i<strong>do</strong>. Livre das drogas, mas devidamente manti<strong>do</strong><br />

em esta<strong>do</strong> de liberdade em relação a usos, costumes e jargões evangélicos. Eu gostei dele de<br />

saída.<br />

“Irmano, os caras estão morren<strong>do</strong>. O que eles sientem é sede de Dios”, falava ele em seu<br />

portunhol. Os caras que estavam morren<strong>do</strong> eram os milhares de hippies que andavam pela<br />

Amazônia naqueles dias, fazen<strong>do</strong> o circuito da ayahuasca que ia da Venezuela ao Pará. Em<br />

Manaus, as praças andavam cheias deles. “Por que qui usted non prega para elhos?”,<br />

indagava-me o crente hippie. Eu dizia que não me negava a fazê-lo, mas que não forçaria a barra.<br />

“Mas se nosotros não hablarmos, quiem va hablar?”, empurrava-me contra a parede. Um dia ele<br />

me apareceu com outro cara <strong>do</strong>i<strong>do</strong>. Era um tipo lin<strong>do</strong>, de cabelos escorri<strong>do</strong>s pelas costas e um<br />

aspecto imponente de índio apache de filme americano. Quan<strong>do</strong> vi Oswal<strong>do</strong> Parangues se<br />

aproximar, minha mente sofreu um impacto com a beleza indígena <strong>do</strong> rapaz. Ele estava no<br />

Amazonas queren<strong>do</strong> explorar as ondas alucinógenas <strong>do</strong>s chás de cogumelos, que eram<br />

amplamente servi<strong>do</strong>s à comunidade de malucos no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

No entanto, os braços e as costas de Oswal<strong>do</strong>, em conseqüência da profunda intoxicação<br />

causada pelos cogumelos, estavam cheios de feridas purulentas, e ele estava começan<strong>do</strong> a viver<br />

com uma febre permanente em razão das infecções. Quan<strong>do</strong> vi o esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> rapaz, levei-o para a<br />

casa de meus pais e comecei a cuidar dele. Diariamente eu o levava ao hospital de <strong>do</strong>enças<br />

tropicais para que suas ataduras e curativos fossem troca<strong>do</strong>s. Durante aquele perío<strong>do</strong> de<br />

aproximadamente duas semanas, enquanto ele recebia tratamento, eu lhe falava <strong>do</strong> amor<br />

apaixona<strong>do</strong> e louco de Deus pelos seres humanos. Um dia, quan<strong>do</strong> voltávamos <strong>do</strong> hospital, ele me<br />

olhou com lágrimas nos olhos e disse: “Iô creo que Dios me ama porque usted me ama com uno<br />

amor que solomente Dios poderia ter poni<strong>do</strong> dentro de tu corazion.” Eu achava o portunhol dele<br />

bonito e cheio de ternura humana. Parei o carro, dei-lhe um abraço fraterno e pedi em voz alta a<br />

Deus que viesse encher o coração de Oswal<strong>do</strong> com o poder <strong>do</strong> Espírito Santo. Ele nunca mais foi<br />

a mesma pessoa até o dia de hoje.<br />

A conversão de Oswal<strong>do</strong> deflagrou um processo maravilhoso. Ele e Flávio passaram a ir às<br />

praças convidar to<strong>do</strong>s os malucos para virem à minha casa fazer bijuterias. Eu comprava to<strong>do</strong> o<br />

material: couro, cola, áci<strong>do</strong>, metal, correntinhas etc. Enfim, tu<strong>do</strong> o que pudesse entretê-los<br />

trabalhan<strong>do</strong> nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> quintal da casa de meus pais, enquanto eu abria a Bíblia e falava de<br />

Jesus com eles. Foram meses fantásticos. Nossa casa virou uma comunidade hippie. De repente,<br />

comecei a ver a força renova<strong>do</strong>ra e liberta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> amor de Cristo iniciar processos de iluminação<br />

espiritual na mente daquela moçada louca. Muitos deles largaram as drogas ali, bem diante de<br />

nossos olhos, e passaram a ser anjos da graça de Deus, levan<strong>do</strong> a mesma mensagem para seus<br />

amigos ou mesmo de volta às suas casas e famílias.<br />

Eu não podia acreditar no que estava acontecen<strong>do</strong>. E mais: o assunto já se tornara tema de<br />

conversa em escolas e até em faculdades. Foi nesse ponto que comecei a ser convida<strong>do</strong> para ir<br />

falar em algumas escolas. O processo foi mais ou menos assim: motiva<strong>do</strong>s pelo trabalho com os<br />

hippies, Alda, eu, Júnior e Artunilza — amigos que também haviam acaba<strong>do</strong> de se converter à fé<br />

— iniciamos uma reunião somente para jovens, aos sába<strong>do</strong>s à noite. A iniciativa foi<br />

absolutamente bem-sucedida. Em <strong>do</strong>is meses, a velha e morta Igreja Presbiteriana Central de<br />

Manaus estava completamente lotada de moços de to<strong>do</strong>s os tipos e classes sociais.<br />

Até mesmo meu amigo Alipinho foi lá ver o que estava acontecen<strong>do</strong> e ficou por uns três<br />

meses. Depois me disse que não sabia como é que eu podia ficar sem mulher e disse que para ele<br />

não dava. Três meses sem faturar as gatas era demais. “Eu admiro você, <strong>Caio</strong>, mas eu num<br />

consigo ficar sem sexo”, disse-me com emoção, mas nunca mais voltou.<br />

A fórmula da reunião era simples: muita música cristã ao embalo de guitarras, baterias e tu<strong>do</strong>

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