You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Henrique Ziller era o diretor executivo. Sério, coerente e comprometi<strong>do</strong>, ele me passava a<br />
idéia de continuidade e honestidade. Tissiani Cavalcante era o homem <strong>do</strong> marketing. E Cristina<br />
Christiano a mais dedicada secretária que eu já tivera e que poucos poderiam almejar ter igual.<br />
Além disso, eu tinha três amigos que estavam dispostos a financiar parte <strong>do</strong>s meus estu<strong>do</strong>s e<br />
pagar as despesas da folha de pagamento <strong>do</strong>s vinte funcionários que tínhamos na época, os custos<br />
de satélite e a conta da televisão, visto que as demais atividades eram auto-sustentáveis.<br />
Daniel Vera e Alípio Gusmão eram empresários bem-sucedi<strong>do</strong>s. Baltazar, o artilheiro de<br />
Deus, não era rico, mas extremamente generoso, e também fazia parte daquele trio que criou as<br />
possibilidades que me puseram fora <strong>do</strong> país.<br />
Avalian<strong>do</strong> as circunstâncias, Alda e eu decidimos que não haveria outra chance melhor para<br />
realizarmos aquele projeto. Assim, depois de visitar amigos em diversos esta<strong>do</strong>s americanos,<br />
escolhemos a cidade de Claremont, na Califórnia.<br />
Nos primeiros quatro meses não fiz outra coisa a não ser estudar inglês 17 horas por dia. Nos<br />
fins de semana gravava meus programas de televisão, as aulas <strong>do</strong> curso via satélite, escrevia os<br />
artigos de jornais e revistas cristãos e fazia outras pequenas coisas.<br />
Ao término <strong>do</strong> curso de inglês, decidimos ficar pelo menos mais <strong>do</strong>is anos, manten<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> no<br />
Brasil <strong>do</strong> jeito que estávamos fazen<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que eu voltaria a cada cinco meses. Deu certo.<br />
A vida na América era confortável, porém tediosa. No Fuller Theological Seminary, em<br />
Pasadena, o ambiente acadêmico era intelectualmente sofistica<strong>do</strong>, mas muito lento para o meu<br />
gosto. Os cursos que fiz não me motivavam o suficiente para me manter com a adrenalina no nível<br />
ideal. Estava sempre queren<strong>do</strong> mais excitment. O que quebrava a mesmice <strong>do</strong> ambiente<br />
supercontrola<strong>do</strong> da vida em Claremont eram os terremotos que aconteciam de vez em quan<strong>do</strong><br />
para a suprema excitação das crianças e para embalar as conversas na vizinhança.<br />
A falta de mais desafio foi o que me levou a decidir fazer um curso paralelo, autodidata, sobre<br />
a obra <strong>do</strong> filósofo, mestre em direito romano e história, o francês Jaques Ellul. Eram 45 livros<br />
grossos e densos. Mergulhei neles e nos seus mais diversos temas. Eram trabalhos sobre<br />
urbanidade, ideologia, sociologia, política, dinheiro, modernidade, tecnologia, angústia, perversão<br />
<strong>do</strong> cristianismo e um leque imenso de outros atrativos. Ellul encheu minha vida naquele perío<strong>do</strong>.<br />
Enquanto isso, os quatro filhos, perfeitamente integra<strong>do</strong>s na escola e se sentin<strong>do</strong> confortáveis<br />
na língua inglesa, já não queriam mais voltar. Alda, como sempre, dizia que queria fazer a vontade<br />
de Deus. Eu, mesmo que dividi<strong>do</strong> por causa das crianças, estava começan<strong>do</strong> a ficar desespera<strong>do</strong><br />
para retornar.<br />
Minha decisão, entretanto, era a de que, se voltássemos, não seria mais para ser patina<strong>do</strong>r de<br />
elite na arena da Igreja Evangélica. Caso contrário, era melhor ficar lá e fazer uma carreira como<br />
conferencista internacional. Convites <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> é que não me faltavam. Cheguei a receber<br />
mais de cinqüenta convites de diferentes países naquele perío<strong>do</strong>. Aceitei apenas cinco, sen<strong>do</strong> um<br />
deles para a antiga União Soviética.<br />
Os dias que passei pregan<strong>do</strong> em Moscou acentuaram meu desejo de fazer algo realmente<br />
importante no Brasil. Lá, tive a oportunidade de constatar, como anos e anos de <strong>do</strong>utrinação<br />
ideológica não tiveram o poder de realizar nada dramaticamente significativo nas vidas das<br />
pessoas. E eu me sentia exatamente envolto pelas mesmas teias ideológicas que lá não haviam<br />
gera<strong>do</strong> nada, além de paralisia econômica e social.<br />
— Se a gente voltar, eu quero fazer algo forte na área social. Não agüento mais ver tanta<br />
miséria, enquanto ficamos filosofan<strong>do</strong> sobre mudanças políticas e reestruturação <strong>do</strong> sistema.<br />
Uma coisa eu sei: político eu jamais serei. O que eu quero é integrar a fé aos temas de natureza<br />
social. Sem teologia da libertação — eu já vinha dizen<strong>do</strong> há algum tempo a Lácio Pontes e<br />
Antonio Carlos Barros, meus melhores amigos naquele perío<strong>do</strong> americano.