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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 16<br />

“A alma pratica fornicação quan<strong>do</strong> ela se vira para longe de Ti e procura fora de Ti<br />

as boas e limpas intenções que não se encontram exceto na reconciliação dela<br />

Contigo. Assim é que no mun<strong>do</strong>, de certo mo<strong>do</strong> às vezes até perverti<strong>do</strong>, toda a<br />

humanidade busca a Ti.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Em 1971, Manaus era uma cidade de aproximadamente quinhentos mil habitantes. A Zona<br />

Franca fora estabelecida na região com o objetivo de desenvolver uma área que o governo federal<br />

julgava ter importância estratégica. Por isso, andava-se pelas ruas ven<strong>do</strong> carros importa<strong>do</strong>s,<br />

aparelhos de som sofistica<strong>do</strong>s, motocicletas com roncos poderosos, roupas de grifes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

inteiro, to<strong>do</strong>s expostos ali como bens tão banais, que os meus amigos <strong>do</strong> Rio jamais sonhariam<br />

ser possível.<br />

Entretanto, uma das marcas mais características da cidade era o seu provincianismo.<br />

Modernidade e tecnologia não tinham ti<strong>do</strong> o poder de alterar o sentir interiorano <strong>do</strong>s<br />

manauenses. Para a gente <strong>do</strong> lugar — de forma diferente <strong>do</strong> que acontecia nos dias da infância de<br />

meu pai, quan<strong>do</strong> a Europa era a referência <strong>do</strong>s amazonenses — o Rio de Janeiro era o máximo.<br />

Era o lugar onde tu<strong>do</strong> de novo e revolucionário acontecia. Por isso, quem quer que chegasse de lá<br />

já trazia consigo a vantagem de estar vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> centro no qual todas as modas, novidades e<br />

loucuras invejáveis se materializavam.<br />

Para mim, foi facílimo faturar em cima daquilo. Meu primo João <strong>Fábio</strong> era entrosadíssimo<br />

nos ambientes sociais e colunáveis, e não hesitou em plantar notícias que faziam de mim uma<br />

figura muito especial, chegan<strong>do</strong> de volta à terra, depois de muito curtir no Rio. No primeiro fim<br />

de semana fui leva<strong>do</strong> ao baile <strong>do</strong> Ideal Clube, que ficava na parte mais badalada da cidade. O<br />

ambiente era pequeno-burguês, com aquele monte de garotinhas entre 13 e vinte anos dançan<strong>do</strong><br />

de rosto cola<strong>do</strong>, sob os olhares sau<strong>do</strong>sos e cobiçosos de suas mães, para quem aquelas<br />

experiências eram apenas lembranças.<br />

Quan<strong>do</strong> eu entrei ali pela primeira vez, já era famoso entre os colunáveis da cidade. Algumas<br />

colunas sociais tinham noticia<strong>do</strong> minha chegada e eu achei delicioso sentir-me objeto da<br />

curiosidade social da burguesia. O bom de tu<strong>do</strong> aquilo era saber que eu estava sen<strong>do</strong> deseja<strong>do</strong><br />

por gente que eu nem conhecia. Portanto, eu saía caçan<strong>do</strong> gatinhas no salão sem ter me<strong>do</strong> de ser<br />

rejeita<strong>do</strong>. Para elas, naquelas circunstâncias, era uma honra dançar com aquele “menino <strong>do</strong> Rio”,<br />

como elas se referiam a mim.<br />

Ainda havia a minha aparência extravagantemente diferente. O cabelo estava compri<strong>do</strong>,

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