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Confissões do pastor - Caio Fábio

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queria te experimentar. Sou amiga de umas meninas que já saíram contigo e sempre quis sair<br />

também. Mas quan<strong>do</strong> a gente sair daqui, você me deixa onde me pegou e não vai jamais saber<br />

meu nome, quem sou ou onde moro, OK? — declarou quase como se fosse um roteiro de filme.<br />

— OK! Se é assim que cê quer, que seja assim — respondi guloso e disposto a viver aqueles<br />

momentos com intensidade, a fim de “beijar daquela vez como se fosse a última”, diria Chico<br />

Buarque.<br />

Ficamos ali apenas umas duas horas. O suficiente para que o mistério da situação iniciasse<br />

em mim o prelúdio de uma paixão. Queria saber quem ela era. Mesmo nos clímax das emoções<br />

vividas naquelas duas horas, eu haveria de pedir, de implorar.<br />

— Me diz teu nome. Me diz teu nome! — eu suplicava, quase em preces. Ela ficava agitada<br />

de tentação para falar, mas não dizia, o que me seduzia ainda mais.<br />

Ao fim daquelas duas horas, deixei-a na mesma calçada da rua Getúlio Vargas. Ela saiu da<br />

garupa, me beijou, sorriu para sempre, atravessou a rua, parou um táxi e desapareceu para toda a<br />

vida.<br />

Choca<strong>do</strong>, fiquei pensan<strong>do</strong> que a existência estava me pregan<strong>do</strong> uma peça e que não havia<br />

nada que eu pudesse fazer para impedir. Nunca a vira antes e, talvez, jamais a visse depois. No<br />

entanto, ela plantara em mim uma estranha semente. Não era paixão, nem sequer um broto <strong>do</strong><br />

amor. Era a sedução <strong>do</strong> mistério, <strong>do</strong> inacessível, <strong>do</strong> proibi<strong>do</strong> e daquilo que se cobre de véu e se<br />

recusa a fazer apocalipse, “revelação”. Nunca mais a vi, até hoje.<br />

Fiquei com raiva. Virei a moto contra o fluxo de carros, acelerei, fechei os olhos e pedi para<br />

morrer. Corri uns vinte segun<strong>do</strong>s de olhos fecha<strong>do</strong>s. Senti alguns automóveis se desviarem de<br />

mim. “Seu idiota, seu maluco, seu....”, eram as expressões que eu ouvia. Depois que achei que<br />

tinha da<strong>do</strong> tempo suficiente ao destino para me liquidar, reassumi o controle e fui procurar o Zé<br />

<strong>Fábio</strong>, meu primo. Disse a ele apenas que tinha saí<strong>do</strong> com uma mulher estranha e extraordinária.<br />

Zé <strong>Fábio</strong> não era de muitas palavras. Apenas deu um sorriso e disse: “Tu num toma jeito cara, só<br />

vive apaixona<strong>do</strong>.”<br />

A experiência com a mulher sem nome, sem endereço, sem passa<strong>do</strong> e sem futuro fez muito<br />

mal a mim. Para a maioria <strong>do</strong>s homens que ouvisse a história, eu tinha saí<strong>do</strong> no lucro. Possuí sem<br />

precisar pagar a conta, e o noivo dela não a conhecia como eu, um estranho, a conhecera. Que<br />

vantagem!<br />

Mas para mim a interpretação já não era aquela. De algum mo<strong>do</strong>, mesmo sem saber por que<br />

ou quan<strong>do</strong> começara, meu interior estava em profunda mudança. Já não me satisfazia dizer como<br />

coisas tão incríveis aconteciam comigo, de graça. Lá no fun<strong>do</strong>, já não era isso que eu desejava. De<br />

fato, queria conhecer alguém e mergulhar nas águas de um relacionamento que tivesse começo,<br />

meio e, se possível, não tivesse fim. Portanto, a “mulher da rua Getúlio Vargas” apenas acentuou<br />

aquele sentimento de que a vida não estava me oferecen<strong>do</strong> nada consistente e dura<strong>do</strong>uro. Já não<br />

me sentia como um garanhão, aproveita<strong>do</strong>r de mulheres. Estava começan<strong>do</strong> a me sentir usa<strong>do</strong> e<br />

não como aquele que usufruía <strong>do</strong>s prazeres. E o sentimento era confuso para mim, pois gritava<br />

por profundidade, embora eu amasse os vínculos passageiros. Essa era minha perdição: desejar<br />

aquilo que mais me fazia mal.<br />

E foi na tentativa banal de usar sem ser usa<strong>do</strong>, que peguei duas garotinhas de programa numa<br />

noite de <strong>do</strong>mingo. Naquele tempo, papai estava inician<strong>do</strong> o <strong>pastor</strong>eio na Igreja Presbiteriana<br />

Central de Manaus e havia um lugar nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong> templo, onde tu<strong>do</strong> poderia acontecer sem que<br />

ninguém notasse. No tal lugar havia cama e banheiro, e isso era mais <strong>do</strong> que eu precisava. Sabia<br />

que depois das dez da noite ninguém aparecia por lá. E mais: sabia como entrar “na igreja” e não<br />

hesitei em levar as meninas para aquele lugar de culto. Assim, fiz sexo com elas num lugar que eu<br />

considerava sagra<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> as levei de volta à praça onde as havia encontra<strong>do</strong>, meu coração

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