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Confissões do pastor - Caio Fábio

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que não queria era “ventar” minha ira e baixar o nível. Mas quanto mais entrevistas eu dava pelo<br />

celular, mais “notícias” tinha de tu<strong>do</strong> e mais indigna<strong>do</strong> ficava.<br />

Fui direto para o hotel tomar um banho e tentar orar um pouco. Tomei o banho, mas não<br />

consegui me concentrar na oração. O mun<strong>do</strong> inteiro girava na minha cabeça.<br />

— Cristina, você está bem? — perguntei à supervisora geral da Fábrica, que naquele dia, em<br />

razão de minha ausência, tivera de lidar com toda aquela pressão.<br />

— Reveren<strong>do</strong>, foi o pior dia de toda a minha vida. Tem muita maldade no ar. Eles querem é<br />

fazer mal à gente, não importa como. Eles odeiam a gente e a Fábrica. Volte logo, por favor.<br />

Amanhã a coisa vai ser pior. O governa<strong>do</strong>r não pára de fazer declarações cheias de ódio. Parece<br />

coisa <strong>do</strong> diabo — ela respondeu ainda dentro <strong>do</strong> carro, às sete e meia da noite, tentan<strong>do</strong> voltar<br />

para seu esposo e filhos naquele dia de angústia e injúria.<br />

O assunto da cocaína na Fábrica estava em to<strong>do</strong>s os telejornais. Mas bastava estar no Jornal<br />

Nacional para já ser um estrago. Assisti às notícias e saí para o lugar <strong>do</strong> culto.<br />

— <strong>Caio</strong>, meu irmão. Acho que eu posso te ajudar. Não faz nada sozinho. Nós temos de agir<br />

juntos. O que o governa<strong>do</strong>r quer é atingir o Reage Rio. Ele meteu na cabeça que é uma passeata<br />

contra ele. E como você é parte disso e também é o nome por trás da questão <strong>do</strong> desarmamento,<br />

ele pensa que, usan<strong>do</strong> o episódio da Fábrica, ele vai quebrar com a gente e desmobilizar a marcha<br />

— disse-me Rubem César na hora em que eu ia entran<strong>do</strong> no auditório superlota<strong>do</strong>, com mais de<br />

quatro mil pessoas, onde eu iria pregar em trinta minutos.<br />

Agradeci ao Rubem e disse que falaria com ele depois <strong>do</strong> culto. Só Deus sabe como eu estava<br />

por dentro. Pela misericórdia divina, os cânticos espirituais acalmaram a minha alma e eu tive<br />

paz. Preguei uma mensagem sobre o amor como único motiva<strong>do</strong>r legítimo da ação missionária<br />

<strong>do</strong>s cristãos. “Se você se entregar à vida missionária motiva<strong>do</strong> por qualquer outra coisa que não o<br />

amor, você vai se amargurar. Não há recompensas lógicas para a prática <strong>do</strong> bem. Não espere que<br />

paguem a você. Por isto, pague a você mesmo com a alegria de servir a Deus e ao próximo por<br />

nada, só pela bênção de poder amar”, disse muito mais para mim <strong>do</strong> que para a multidão que ali<br />

estava.<br />

Finalizada a reunião, falei com Alda para saber como ela estava; chamei Rubem para ouvi-lo<br />

sobre os des<strong>do</strong>bramentos <strong>do</strong>s fatos, e liguei para Cristina pedin<strong>do</strong> que ela chamasse a mídia toda<br />

para a Fábrica às 11 horas <strong>do</strong> dia seguinte.<br />

Não <strong>do</strong>rmi a noite toda. No meu coração não havia me<strong>do</strong> <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r nem de suas<br />

declarações. Eu tinha me<strong>do</strong> era de mim mesmo. Meu pavor era perder a linha e falar o que não<br />

devia. Marcello Alencar já perdera a compostura de governante e eu não queria perder a postura e<br />

a conduta de um <strong>pastor</strong>, ainda que tivesse de falar de mo<strong>do</strong> enérgico, se fosse necessário.<br />

Graças a Deus o avião que me levou de volta não tinha os jornais <strong>do</strong> Rio e de São Paulo, pois<br />

se eu tivesse li<strong>do</strong> o que o governa<strong>do</strong>r havia dito sobre nós, certamente minha reação não teria si<strong>do</strong><br />

de tanto controle. Quan<strong>do</strong> botei o pé na esteira da porta automática da saída <strong>do</strong> aeroporto <strong>do</strong><br />

Galeão, um batalhão de flashes espocou sobre mim e uma multidão de microfones cercou meu<br />

rosto.<br />

— O senhor vai processar o governa<strong>do</strong>r?<br />

— O governa<strong>do</strong>r disse que desde janeiro sabia que a Fábrica era depósito de drogas.<br />

— Ele disse que vai fechar a sua obra social.<br />

Estas eram algumas das muitas perguntas que vinham juntas.<br />

— Olha, o que eu tenho a dizer é que ele está sen<strong>do</strong> precipita<strong>do</strong>, leviano e irresponsável. Ele<br />

não pode sair por aí tentan<strong>do</strong> julgar quem ele não recebeu mandato para julgar. Ele é o<br />

governa<strong>do</strong>r. Não é investiga<strong>do</strong>r, delega<strong>do</strong>, promotor público, juiz nem Deus. Ele tem que se<br />

acalmar em vez de tentar destruir obras que não conhece — falei com energia, mas,

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