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Confissões do pastor - Caio Fábio

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uma leve angústia e uma pontinha de raiva.<br />

Ela não falou mais nada. Voltamos ao hotel e fomos para a cama. Rolei de um la<strong>do</strong> para outro e<br />

não consegui <strong>do</strong>rmir. Minha alma estava angustiada, frustrada, zangada e perplexa. Aí então<br />

percebi que ela também não <strong>do</strong>rmira. Sentei na cama e disse que gostaria de entender o que ela<br />

dissera lá na praia.<br />

— Não é que eu não seja feliz. Eu sou. Eu amo você e seria capaz de dar minha vida por você<br />

e por nossos filhos. Amo a Deus e quero ser Dele até o fim da vida e para sempre. Mas se pudesse<br />

voltar no tempo para antes de julho de 1973, eu voltaria. Então eu aceitaria a fé em Cristo, seria<br />

sua amiga ou mesmo sua ovelha, mas não sua esposa. Eu divi<strong>do</strong> você com tu<strong>do</strong> e com to<strong>do</strong>s, e não<br />

há limites e nem folgas. Quan<strong>do</strong> penso em viver <strong>do</strong> jeito que a gente vive até o fim da vida, eu me<br />

desespero. Eu não quero viver assim, entende? Seus pais também são maravilhosos. São gente de<br />

Deus como eu não pensei que existissem. Mas não agüento mais morar com eles e viver de favor<br />

naquele quartinho. Eu estou assim tão infeliz justamente porque eu estou tão feliz aqui e sei que<br />

tu<strong>do</strong> isso vai acabar. É por isso que eu estou sofren<strong>do</strong> — disse-me ela, choran<strong>do</strong>.<br />

No início, não entendi. Fiquei pensan<strong>do</strong> que havia amarra<strong>do</strong> meu burrinho no lugar erra<strong>do</strong>.<br />

Depois, convidei-a para orarmos juntos. Aí então ela <strong>do</strong>rmiu e pude ficar sozinho para pensar em<br />

tu<strong>do</strong> o que ela dissera. Não <strong>do</strong>rmi a noite toda. Fiquei imaginan<strong>do</strong> o que aconteceria se ela não<br />

agüentasse o tranco e resolvesse jogar tu<strong>do</strong> para o alto. Pensei no fracasso de meu ministério se<br />

isso acontecesse. Imaginei-me divorcia<strong>do</strong> e viven<strong>do</strong> longe <strong>do</strong>s filhos. A idéia para mim era muitas<br />

vezes pior que a morte. Por fim, perguntei-me o que poderia fazer para tirar aqueles obstáculos<br />

<strong>do</strong> caminho. Afinal, amava minha esposa e queria vê-la feliz.<br />

— Quan<strong>do</strong> a gente voltar, vou arrumar as coisas. Vamos comprar um terreno e construir uma<br />

casa. Vou separar as segundas-feiras apenas para nós. Também não atenderei mais ninguém em<br />

casa e vou abrir um escritório público que nos ajude a manter as coisas bem separadas de nossa<br />

vida. Vou tirar férias to<strong>do</strong>s os anos e não vou mais dar o número <strong>do</strong> nosso telefone pra to<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Certo? — afirmei e perguntei ao mesmo tempo.<br />

— E você vai conseguir? — foi a pergunta dela.<br />

— Não adianta ficar falan<strong>do</strong>. Você me conhece e sabe que eu prefiro provar as coisas com<br />

fatos. Espere pra ver. Mas, enquanto isso, relaxe e curta o que Deus está dan<strong>do</strong> pra gente agora —<br />

respondi.<br />

O retorno a Portugal foi tranqüilo. As crianças estavam bem. Ciro já falava tu<strong>do</strong> e mostrava<br />

profunda acuidade intelectual. Davi, entretanto, continuava <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. De vez em quan<strong>do</strong><br />

acordava, comia, sorria, balançava a cabeça, e <strong>do</strong>rmia outra vez. Era impressionante.<br />

Logo percebi que as pessoas que nos cercavam estavam muito mal ali. A solidão delas era<br />

impressionante. Aquela gente da corte, que andava pelas festas que meu sogro organizava<br />

profissionalmente, era muito vazia e vivia numa infelicidade desgraçada: era a <strong>do</strong>r de ter tu<strong>do</strong>,<br />

mas não ter senti<strong>do</strong> para a vida. Não me contive. Ven<strong>do</strong> tanta gente triste, mesmo que sorrin<strong>do</strong>,<br />

comecei a falar-lhes de Jesus. Foi incrível. Às vezes, no meio de uma festa ou banquete, alguém<br />

se encostava ao meu la<strong>do</strong> e começava a conversar. De repente a pessoa abria o coração. Então<br />

chorava. Depois eu falava o que Deus fizera por mim. Não raro terminávamos a noite numa sala<br />

mais reservada, buscan<strong>do</strong> a Deus em prece.<br />

— Puxa, obriga<strong>do</strong>. Eu não podia ter perdi<strong>do</strong> esta festa. Que maravilha! — era o que a pessoa<br />

dizia aos meus sogros à porta, enquanto eles ficavam orgulhosos sem saber que o seu convida<strong>do</strong><br />

não estava fazen<strong>do</strong> referência à qualidade <strong>do</strong> whisky ou da comida, mas da água viva que bebera<br />

em algum lugar na Casa <strong>do</strong>s Pene<strong>do</strong>s.<br />

Ficamos quatro meses na Europa. Visitamos 17 países e nos divertimos muito. Mas no final<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, eu já estava cansa<strong>do</strong> de não fazer nada. Estava louco para voltar para Manaus. Foi

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