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Confissões do pastor - Caio Fábio

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sain<strong>do</strong> com uns caras que te odeiam. Lembra <strong>do</strong> Renato Oliveira? Saiu com ela. E o Michileno,<br />

lembra? Saiu com ela também. Então, dá pra ver qual é o tipo de cara que ela gosta: só<br />

burguesinho careta, bicho — falou com ar professoral e, ao mesmo tempo, sempre cínico,<br />

puxan<strong>do</strong> o canto da boca para baixo, como se fosse cair na gargalhada a qualquer momento.<br />

— Que nada, Brum. Essa gatinha é igual a todas as outras: sai com os caretas pra agradar<br />

papai e mamãe, mas gosta mesmo é de cara <strong>do</strong>i<strong>do</strong> como eu. Quer valer como eu faturo rapidinho<br />

e num tem pra ninguém se eu partir pra dentro? — apostei com ele.<br />

— Essa aí num dá. Quero valer qualquer coisa como cê quebra a cara. Tô mais que positivo.<br />

Vai que vou ficar aqui pra rir gostoso, bicho — disse.<br />

Brum não sabia como eu funcionava ao contrário. Tu<strong>do</strong> o que era difícil me seduzia, e as<br />

coisas fáceis enfastiavam-me antes mesmo de prová-las. Além <strong>do</strong> mais, havia uma meiguice na<br />

gatinha que me chamou a atenção. Ela não era arrebata<strong>do</strong>ra, mas era suave e parecia sensível e<br />

boa de cabeça. Eu não sabia o que era, mas senti um forte desejo de ir conferir quem era ela.<br />

Ela estava cercada de burguesinhas das classes sociais mais elevadas e badaladas de Manaus.<br />

Atravessei a rua, fingin<strong>do</strong> que não percebia a mulherada agitar-se com minha aproximação, e ouvi<br />

alguém dizer: “Ai meu Deus! Ele tá vin<strong>do</strong>. O que a gente faz, Alda?”<br />

— Meu amigo ali, o Brum, diz que você não gosta de caras como eu. Mas eu não acreditei.<br />

Vim aqui conferir. Escuta, cê num quer sair comigo uma hora dessas? — falei seguro, sem<br />

cinismo e com muita seriedade, mas com uma franqueza desconcertante e objetivíssima.<br />

As meninas em volta ficaram excitadíssimas. Uma ex-namoradinha minha, Virgínia, ficou<br />

torcen<strong>do</strong> contra. Umas outras fizeram cara de raiva, mas eu sabia que era só fachada. Lá no<br />

fun<strong>do</strong>, tinha certeza de que meu banditismo light dava a elas um sentimento ambíguo: falavam<br />

mal de mim, mas sonhavam comigo sempre que o inconsciente queria se liberar em algum<br />

encontro com o animal e o selvagem. Se era realmente isso que acontecia, não posso afirmar, mas<br />

era assim que eu me sentia. E quase sempre dava certo.<br />

Alda não disse quase nada. Falou apenas que estava dan<strong>do</strong> uma festa na casa dela no dia<br />

seguinte, no sába<strong>do</strong> à noite. Voltei para o Brum já cantan<strong>do</strong> vitória.<br />

— Pô, bicho, inacreditável. Quê qui cê falô pra ela? Impressionante! — ele falou.<br />

Não disse nada, apenas o coloquei na garupa da moto e saí agitan<strong>do</strong> a frente da escola em alta<br />

velocidade.<br />

No dia seguinte, vesti-me de hippie de butique e fui à festa <strong>do</strong> capitão <strong>do</strong>s portos. Era a<br />

apresentação de Alda às famílias de Manaus. Um acontecimento absolutamente idiota e sem<br />

propósito, na minha maneira de ver. Mas era minha hora de fazer o que mais gostava: chocar.<br />

Parei minha moto na calçada da casa e entrei na fila de acesso ao portão.<br />

— Aí, gente boa. Boa noite — gritei quan<strong>do</strong> chegou a minha vez e fui entran<strong>do</strong>.<br />

De repente, ouvi uma voz fina, estridente, com sotaque baiano, gritan<strong>do</strong> nas minhas costas.<br />

— Péra aí, meu filho! Tá pensan<strong>do</strong> que isso aqui é a casa da sogra? — era uma mulher bem<br />

vestida, magra, de uns 38 anos, segura de si e que parecia estar queren<strong>do</strong> fazer um showzinho<br />

particular, curtin<strong>do</strong> com a minha cara.<br />

Olhei para ela sem alteração. Mas os meninos <strong>do</strong> vôlei e <strong>do</strong>s outros esportes — os “caretas <strong>do</strong><br />

Rio Negro Clube”, como os chamava — estavam ali, se delician<strong>do</strong>, contentes com o episódio e<br />

seu possível desfecho: minha expulsão <strong>do</strong> lugar. O que não faltava eram marinheiros e seguranças<br />

para me “botar para fora”.<br />

Continuei olhan<strong>do</strong> fixo para a senhora <strong>do</strong> portão.<br />

— Como é o seu nome, seu cabelu<strong>do</strong> indecente? — ela perguntou provocativa, enquanto o<br />

pessoal <strong>do</strong> vôlei dava uma estron<strong>do</strong>sa gargalhada em volta de mim.<br />

— <strong>Caio</strong>, minha senhora. Meu nome é <strong>Caio</strong> — disse com o olhar preso ao dela, começan<strong>do</strong> a

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