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Confissões do pastor - Caio Fábio

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objetivos com os quais a justiça brasileira venha a julgar os muitos corruptos que<br />

encontram guarida à sombra <strong>do</strong> poder.”<br />

As seiscentas pessoas presentes ao evento, para minha surpresa, puseram-se em pé e<br />

explodiram num interminável aplauso. Olhei em volta e vi que to<strong>do</strong>s estavam aplaudin<strong>do</strong>,<br />

inclusive o supostamente renitente Lula. Termina<strong>do</strong> o evento, Lula veio falar comigo. “Olha, eu<br />

quero me encontrar com você. Liga pra minha casa. Temos coisas muito sérias pra tratar”,<br />

disse-me e desapareceu cerca<strong>do</strong> por vários repórteres.<br />

Dei várias entrevistas sobre a prisão de Mace<strong>do</strong> e sempre fiz questão de repetir: “Não estou<br />

defenden<strong>do</strong> um homem chama<strong>do</strong> Mace<strong>do</strong>. Estou defenden<strong>do</strong> um princípio chama<strong>do</strong> liberdade<br />

de fé.”<br />

Mace<strong>do</strong> ficou agradeci<strong>do</strong>, mas não completamente satisfeito. Afinal, eu o estava defenden<strong>do</strong>,<br />

porém minha defesa não era incondicional. E para ele, aparentemente, to<strong>do</strong> e qualquer<br />

relacionamento tinha de ser incondicional. E incondicionalidade era algo que eu tinha si<strong>do</strong><br />

ensina<strong>do</strong> a dar apenas a Deus.<br />

No dia 6 de junho de 1992, cerca de 12 dias após a prisão de Mace<strong>do</strong>, pelo menos meio milhão<br />

de pessoas estavam nas ruas <strong>do</strong> Rio e caminharam até a Cinelândia, que não agasalhou nem<br />

mesmo 15% <strong>do</strong>s presentes ao ato. Foi uma festa fantástica, cuja preparação já vinha sen<strong>do</strong> feita<br />

há mais de <strong>do</strong>is anos sob a presidência <strong>do</strong> <strong>pastor</strong> Túlio Barros e com a direção executiva <strong>do</strong><br />

reveren<strong>do</strong> Guilhermino Cunha. Mas como o bispo Edir Mace<strong>do</strong>, posto em liberdade no dia<br />

anterior, também foi ao evento fazer uma oração de intercessão, a mídia entendeu que aquilo<br />

tu<strong>do</strong> tinha aconteci<strong>do</strong> como ato de desagravo pela prisão <strong>do</strong> líder da Universal. E não deixou de<br />

haver elementos de ligação entre as duas coisas.<br />

— Nunca mais vão prender <strong>pastor</strong> no Brasil. Nunca mais — gritou o <strong>pastor</strong> Fanini de cima<br />

de um trio elétrico no meio da avenida Presidente Vargas, fazen<strong>do</strong> meu estômago gelar.<br />

— Isso não vai dar certo. A mídia vai pensar que estamos aqui em desagravo à prisão de<br />

Mace<strong>do</strong> — falei ao reveren<strong>do</strong> Guilhermino enquanto andávamos apressa<strong>do</strong>s, tentan<strong>do</strong> passar<br />

pela multidão em direção ao palanque.<br />

— Só a TV Record tem o direito de gravar este evento. A TV Globo não — disse,<br />

desautorizadamente, o <strong>pastor</strong> Washington de Souza, inician<strong>do</strong> uma polarização entre redes de<br />

televisão que a ninguém interessava. Era grande o constrangimento de toda a comissão<br />

organiza<strong>do</strong>ra com tu<strong>do</strong> o que estava acontecen<strong>do</strong>.<br />

— Eu nunca pensei que depois de tu<strong>do</strong> o que eu disse sobre os evangélicos, eles ainda<br />

fossem se solidarizar comigo assim — disse o próprio Mace<strong>do</strong> para um <strong>do</strong>cumentário que a Rede<br />

Record colocou no ar três dias após a concentração da Cinelândia, dizen<strong>do</strong> que aquele havia si<strong>do</strong><br />

um ato de desagravo pela prisão de seu <strong>do</strong>no.<br />

Os prega<strong>do</strong>res daquela tarde fomos Fanini, Gesiel Gomes e eu. Cada um falou vinte minutos.<br />

Hinos tradicionais foram entoa<strong>do</strong>s e o povo evangélico cantou a uma só voz suas convicções<br />

básicas:<br />

— Castelo forte é o nosso Deus; Os guerreiros se preparam para a grande luta; Vencen<strong>do</strong> vem<br />

Jesus.<br />

Mace<strong>do</strong> ficou em pé ao meu la<strong>do</strong>, no máximo a um metro de distância, durante to<strong>do</strong> o evento,<br />

mas não falou comigo. Achei estranho. Afinal, eu havia puxa<strong>do</strong> o coro pela libertação dele.<br />

— Mace<strong>do</strong>, estamos felizes que você esteja em liberdade. Quero reafirmar meu desejo de<br />

conhecer você melhor. Não esqueça disso — disse a ele, que mu<strong>do</strong>u de expressão, deixan<strong>do</strong> de<br />

la<strong>do</strong> o sorriso e franzin<strong>do</strong> gravemente o rosto tão logo viu que não tinha como me evitar na saída<br />

<strong>do</strong> palanque.

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