As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Esse ponto é bastante controverso, já que existem defesas bastante contundentes<br />
sobre a pouca (ou falta de) responsivi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> governos <strong>locais</strong>. Nesses <strong>caso</strong>s, prevalece a<br />
concepção de que os gestores municipais se preocupam mais com políticas de<br />
desenvolvimento que melhorem o bem-estar econômico do município, independentemente se<br />
elas atendem as preferências <strong>dos</strong> ci<strong>da</strong>dãos – entre outros motivos, pelo fato de os governos<br />
<strong>locais</strong> não terem primazia por políticas redistributivas (PETERSON, 1981).<br />
Os gestores <strong>locais</strong> também possuem interpretações próprias <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, que se<br />
refletem em sua administração assim que tomam posse. Em outras palavras, a percepção que<br />
surge <strong>da</strong> segmentação objetiva atinge duplamente os governantes <strong>locais</strong>, seja por meio direto,<br />
em que eles mesmos olham a reali<strong>da</strong>de local, seja por meio indireto com o eleitorado, que,<br />
diante dessa mesma reali<strong>da</strong>de, busca candi<strong>da</strong>tos que exprimam na administração as suas<br />
preferências.<br />
Conforme apresentado, acredita-se na tese de que os governos <strong>locais</strong>, assim como<br />
nas outras esferas, seguem ideologias, mesmo que parte <strong>da</strong> literatura suponha que a natureza<br />
<strong>da</strong> política local faz <strong>dos</strong> governos municipais mais pragmáticos e com interesses de curto-<br />
prazo, inclusive na <strong>paradiplomacia</strong>; no entanto, há pensamentos divergentes. Para Kincaid<br />
(1984, p. 104, grifo nosso), ‘‘individual preferences, partisan affiliations, and constituency<br />
opinion pressure may lead a governor to express opinion on any foreign policy issue.’’ Isso é<br />
ain<strong>da</strong> mais forte quando existem parti<strong>dos</strong> regionais, como no <strong>caso</strong> do partido quebecois, que<br />
exprimem os anseios <strong>da</strong> região na busca de maior autonomia. No estudo quantitativo norte-<br />
americano, a variável “partido do governador” também é leva<strong>da</strong> em consideração. McMillan<br />
(2008) estu<strong>da</strong> se há relação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de paradiplomática <strong>dos</strong> governos estaduais com o fato<br />
de serem coman<strong>da</strong><strong>dos</strong> por democratas ou republicanos.<br />
No <strong>caso</strong> brasileiro, há discussão pareci<strong>da</strong> sobre até que ponto existe influências<br />
ideológicas na atuação paradiplomática <strong>dos</strong> <strong>municípios</strong>. Ela se refere basicamente ao Partido<br />
<strong>dos</strong> Trabalhadores (PT) e a ligação que as ci<strong>da</strong>des e esta<strong>dos</strong> que são administra<strong>dos</strong> pela<br />
agremiação tem com a <strong>paradiplomacia</strong>; a suposição, no entanto, não é unânime.<br />
Segundo Salomón (2011, p.-),<br />
110<br />
Os prefeitos mais ativos no movimento internacional de ci<strong>da</strong>des (Tarso Genro em Porto Alegre, Marta<br />
Suplicy em São Paulo, posteriormente Eloy Pietà de Guarulhos) têm sido to<strong>dos</strong> eles petistas. Isso não é<br />
casual. O envolvimento <strong>dos</strong> prefeitos petistas no movimento internacional <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des pode ser explicado,<br />
por um lado, pela preponderância <strong>dos</strong> líderes de esquer<strong>da</strong> nesse movimento, e por conseguinte com a<br />
sintonia política entre ele e o PT. Por outro, a cooperação internacional entre ci<strong>da</strong>des e governos <strong>locais</strong> e a<br />
difusão de boas práticas urbanas encaixavam bem com os modelos inovadores de governo que o PT<br />
procurava implantar nas ci<strong>da</strong>des sobre seu controle, como laboratório (e ao mesmo tempo plataforma<br />
política) prévio ao acesso ao governo federal. Portanto, identificamos a chega<strong>da</strong> do Partido <strong>dos</strong><br />
Trabalhadores aos governos municipais de várias ci<strong>da</strong>des brasileiras como o segundo fator determinante<br />
do desenvolvimento <strong>da</strong> <strong>paradiplomacia</strong> brasileira nos últimos anos.