As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
federa<strong>da</strong>s competem por papéis na política externa. Ele é comumente mais pronunciado em<br />
socie<strong>da</strong>des como as do Canadá, onde o “processo de formação do Estado” não está concluído<br />
e, de jure e de facto, a descentralização permite um papel provincial, regional e municipal<br />
mais ativo nas relações exteriores.<br />
Cabe ressaltar que ao final <strong>dos</strong> anos 1980 não estava muito clara a dimensão que o<br />
fenômeno alcançaria. Nesse sentido, é lógico entender porque Sol<strong>da</strong>tos admite que a<br />
<strong>paradiplomacia</strong> tem preponderância em federações industriais avança<strong>da</strong>s. Atualmente,<br />
decorri<strong>da</strong>s mais de duas déca<strong>da</strong>s do lançamento de sua tese, pode-se afirmar que a atuação<br />
transnacional de governos <strong>locais</strong> e regionais não se restringe a federações, muito menos a<br />
países desenvolvi<strong>dos</strong>. Tanto isso é ver<strong>da</strong>de que são comuns estu<strong>dos</strong> que apresentam a<br />
<strong>paradiplomacia</strong> em países não federa<strong>dos</strong>, como França (BALME, 1995, LANGEVIN, 1996,<br />
OBERDOFF, 1996) e Espanha (LECOURS, 2007, CORNAGO, 2000, GARCIA SEGURA,<br />
2004), e em emergentes, como o próprio Brasil (SALOMÓN, 2007, RODRIGUES, 2004,<br />
VIGEVANI, 2006, VIGEVANI et al, 2004, LESSA, 2007, BRIGAGÃO, 2005, BOGEA,<br />
2001), a Argentina (COLACRAI e ZUBELZÚ, 2004, IGLESIAS et al, 2008), a China<br />
(HOOK e NEVES, 2002) e a Rússia (CORNAGO, 2004, SHARAFUTDNIVA, 2003, KIILO,<br />
2006, KUZNETSOV, 2009) . Nesses últimos dois <strong>caso</strong>s, porém, mais no penúltimo do que no<br />
último, é interessante perceber que nem outras características habituais relaciona<strong>da</strong>s à<br />
<strong>paradiplomacia</strong> estão presentes, como a democracia plena e a representativi<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> agentes<br />
<strong>locais</strong>.<br />
Nesse sentido, é interessante recorrer à Cornago (2004), que apresenta a atuação<br />
paradiplomática em regiões menos estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s como as do leste europeu no período pós-<br />
soviético, as <strong>da</strong> Ásia-Pacífico, com destaque para a <strong>paradiplomacia</strong> chinesa, australiana, do<br />
sudeste asiático e Índia, e as <strong>da</strong> região <strong>da</strong> América Latina. Fica claro nos exemplos que o<br />
fenômeno, atualmente, está longe de ser reduzido às federações industriais avança<strong>da</strong>s, como<br />
sugere Sol<strong>da</strong>tos.<br />
A recuperação histórica que Sol<strong>da</strong>tos faz com a ação externa no Quebec<br />
anteriormente cita<strong>da</strong> remete ao final do século XIX, mas é durante as déca<strong>da</strong>s de 1960 e 1970,<br />
que, para ele, testemunhou-se um processo mais nítido de erosão <strong>da</strong>s prerrogativas do governo<br />
central nas relações exteriores. O desenvolvimento <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Europeia como ator<br />
supranacional no campo <strong>da</strong>s relações econômicas internacionais e o envolvimento crescente<br />
<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des subnacionais (regiões, comuni<strong>da</strong>des urbanas, ci<strong>da</strong>des) e transnacionais<br />
(corporações multinacionais, organizações não-governamentais) trouxeram para o front <strong>da</strong><br />
literatura especializa<strong>da</strong> o conceito de novos atores na política externa e o correlato fenômeno<br />
<strong>da</strong> segmentação.<br />
56