As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
As determinantes locais da paradiplomacia: o caso dos municípios ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
estatais (KEOHANE, 1984, McGREW, 1992). Os desafios se encontrariam, tanto no aspecto<br />
<strong>da</strong> soberania, porque a autori<strong>da</strong>de política do Estado se vê desloca<strong>da</strong> e comprometi<strong>da</strong> pelos<br />
sistemas regionais e globais de poder, quanto na legitimi<strong>da</strong>de, porque com maior<br />
interdependência regional e local, não conseguem ofertar bens e serviços fun<strong>da</strong>mentais a seus<br />
ci<strong>da</strong>dãos (HELD e McGREW, 2003).<br />
Para Nye, as discussões acerca do destino do Estado soberano estão sendo pauta<strong>da</strong>s<br />
por visões equivoca<strong>da</strong>s. Para comprovar sua tese, ele cita o cientista político John Ruggie.<br />
Segundo o construtivista: “Existe uma postura mental adota<strong>da</strong> nesse sentido que é<br />
extraordinariamente pobre, a qual só é capaz de visualizar os desafios a longo prazo ao<br />
sistema de Esta<strong>dos</strong> em termos de enti<strong>da</strong>des que sejam institucionalmente substituíveis pelo<br />
Estado” (RUGGIE apud NYE, 2009, p. 287).<br />
Isso significa que novas formas de interação e comuni<strong>da</strong>des transnacionais podem<br />
não substituir os Esta<strong>dos</strong> nacionais soberanos, mas modificar a forma como as identi<strong>da</strong>des e<br />
leal<strong>da</strong>des são forma<strong>da</strong>s com relação ao período anterior ao advento <strong>da</strong> internet. <strong>As</strong>sim como<br />
as feiras de comércio medievais não substituíram os feu<strong>dos</strong>, nem as relações de leal<strong>da</strong>de com<br />
os senhores feu<strong>da</strong>is, mas proporcionou novos padrões de relações comerciais e sociais entre<br />
indivíduos, a internet não substitui os governos centrais soberanos, mas acrescenta uma nova<br />
cama<strong>da</strong> de relações que os Esta<strong>dos</strong> não controlam eficazmente.<br />
Diante disso, a questão não é se transformações <strong>da</strong> revolução <strong>da</strong> informação irão<br />
solapar os Esta<strong>dos</strong> nacionais soberanos, mas como sua centrali<strong>da</strong>de e sua função estão sendo<br />
altera<strong>da</strong>s na política mundial. Ca<strong>da</strong> vez mais existem problemas que são difíceis de serem<br />
controla<strong>dos</strong> nos limites territoriais em que os governos exercem sua soberania, como as<br />
mu<strong>da</strong>nças climáticas, o terrorismo, as epidemias, os fluxos financeiros, os imigrantes ilegais,<br />
etc. É ver<strong>da</strong>de também que os Esta<strong>dos</strong> veem sua soberania diminuir em alguns setores, porém<br />
aumentar em outros, até mesmo em áreas que isto parecia ser menos provável. Exemplos<br />
disso são os problemas com o aquecimento global e com as crises financeiras internacionais<br />
(HELD e McGREW, 2003), especialmente a de 2009. Em ambos, o Estado retomou a<br />
centrali<strong>da</strong>de e a responsabili<strong>da</strong>de de atuação, no primeiro em propostas como as do Green<br />
New Deal, em que o Estado tem o papel indutor de fortalecer a economia de baixo carbono<br />
(por meio de taxações aos emissores e isenções para as tecnologias limpas) e, no segundo, por<br />
meio de maior regulação <strong>dos</strong> sistemas financeiros. Os governos acabam cedo ou tarde se<br />
a<strong>da</strong>ptando a novas reali<strong>da</strong>des, mas não há dúvi<strong>da</strong> sobre a mu<strong>da</strong>nça que está em curso.<br />
O tema <strong>da</strong> soberania é ain<strong>da</strong> controverso do ponto de vista <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de. A lógica <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de do conhecimento facilita a coordenação e fortalece o poder de ativistas de meio<br />
ambiente ou de Direitos Humanos que se veem como um grupo identitário próprio, no<br />
73