A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
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Na primeira semana que eu estava dan<strong>do</strong> aula ele saiu corren<strong>do</strong> e gritan<strong>do</strong> no<br />
corre<strong>do</strong>r, aí eu fui atrás dele e falei escuta aqui, você lembra que nós temos<br />
regras na escola? Na classe? (...) Olha agora onde você está in<strong>do</strong>? “Eu tô in<strong>do</strong><br />
ao banheiro...” olha, você vai ao banheiro hoje, e agora, a partir deste<br />
momento, toda vez que você precisar ir ao banheiro você vai me comunicar<br />
antes, não é para sair corren<strong>do</strong>. Você é um menino inteligente, porque precisa<br />
sair corren<strong>do</strong> desse jeito e gritan<strong>do</strong>?? tem outras pessoas estudan<strong>do</strong> na sala,<br />
não é para gritar ou sair corren<strong>do</strong> gritan<strong>do</strong> no corre<strong>do</strong>r.(...) Graças a Deus, foi<br />
a única vez que ele fez isso. (...) Aí ele falava assim “Y” [Professora], vou ao<br />
banheiro” (risos) Aprendeu! Uma vez! Graças a Deus. (GD-P2)<br />
[referin<strong>do</strong>-se a atenção constante] mas nós temos que ter cuida<strong>do</strong> com isso<br />
porque, com o meu aluno aconteceu isso, isso infantiliza, eu tive um que to<strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> tratava ele como bebê e ele foi fican<strong>do</strong> manhoso, ele foi pegan<strong>do</strong> a<br />
manha, inclusive ele percebeu que era o meu fraco, eu amava ele de paixão, e<br />
não percebi. (GD-P2)<br />
Os comportamentos inadequa<strong><strong>do</strong>s</strong> reforçam a ideia equivocada de que pessoas com<br />
deficiência não compreendem, não sabem ou não são capazes de manter um <strong>do</strong>mínio de si<br />
mesmos. Criam estigmas e preconceitos em torno das diferenças.<br />
No relato abaixo, chama a atenção a compreensão da professora acerca da capacidade da<br />
criança em se auto-controlar. Fica evidente, pelo relato, como comportamentos podem ser<br />
modifica<strong><strong>do</strong>s</strong>, a partir da intervenção adequada <strong>do</strong> adulto.<br />
e o engraça<strong>do</strong> é que com a outra professora esse aluno, ele latia e imitava<br />
cachorro, lembra? eu falei, comigo você não vai fazer isso não [...] era muito<br />
difícil ele falar, ai, muito difícil falar... agora ele sabia, assim, imitar cachorro,<br />
eu falei para ele você não vai imitar cachorro. Você é cachorro? Ele fez<br />
comigo a primeira vez, e com a professora anterior ele gritava o tempo to<strong>do</strong>,<br />
ficava o tempo to<strong>do</strong> imitan<strong>do</strong> cachorro na sala, daí eu falei, ganhei um<br />
cachorro em sala de aula, né, mas daí, a primeira vez que ele fez isso eu falei<br />
séria, ele não me deu nenhuma resposta, não fez nada, mas nunca mais ele<br />
imitou cachorro... (GD – P6)<br />
Quan<strong>do</strong> não trabalha<strong><strong>do</strong>s</strong>, os comportamentos inadequa<strong><strong>do</strong>s</strong> acabam assumin<strong>do</strong> amplas<br />
proporções, impedin<strong>do</strong> ainda a criança de voltar sua atenção para a aprendizagem, que neste<br />
caso, permanece relegada a um segun<strong>do</strong> plano. Além disso, tais comportamentos<br />
estabelecem uma marcação simbólica negativa, que também interfere na construção de sua<br />
identidade.<br />
Conforme aponta Woodward (2000), a identidade é de caráter relacional, construída<br />
através da marcação simbólica da diferença, ou seja, pela maneira pela qual atribuímos<br />
senti<strong>do</strong> às <strong>prática</strong>s e relações sociais, definin<strong>do</strong> quem é ou quem não é excluí<strong>do</strong>, por<br />
exemplo.