A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
117<br />
Em tal diferenciação, ainda que mais próxima às atividades da classe, ainda<br />
encontramos porém, a recusa da criança à atividade, por “sentir-se diferente”.<br />
Analisan<strong>do</strong>-a ainda, pela lógica <strong>do</strong>cente, esta parece ser uma decisão acertada: os alunos<br />
discutem, participam de atividades coletivamente iguais a <strong><strong>do</strong>s</strong> demais, porém, na hora de<br />
realizarem as atividades individuais, as atividades para aqueles que não estejam no mesmo<br />
nível <strong><strong>do</strong>s</strong> demais é adaptada, simplificada, facilitada.<br />
No depoimento da professora P19 logo abaixo, podemos observar um movimento<br />
interessante. A professora relata o progresso da criança, desde aprendizagens de atividades de<br />
vida diária (comer, mastigar) como as escolares. Comenta, ainda, a participação da criança em<br />
to<strong><strong>do</strong>s</strong> os momentos da classe, e também em atividades específicas, diferenciadas:<br />
Eu tive um aluno no ano passa<strong>do</strong> que era muito faltoso. Ele tinha muito<br />
problema com pai e mãe, ele tem um tal de x... x... não lembro. [...] Nós<br />
chegamos até a ir no sítio onde ele mora, agora eles foram até embora,<br />
sempre conversei com ele, eu trabalhava muito com ele, mas ele não<br />
reconhecia nada, nada, nada, ele não reconhecia todas as letras <strong>do</strong> alfabeto.<br />
Mas aquele menino era tão delica<strong>do</strong> e educa<strong>do</strong>... a gente investiu muito na<br />
auto-estima dele, no social, sentava ele na frente, e fiquei emocionada de<br />
ver aonde este menino chegou. Este ano, está comigo, a gente fica<br />
queren<strong>do</strong> ficar com ele, e eu fiquei com outra criança bem pior, um outro<br />
aluno que no ano passa<strong>do</strong> já tinha si<strong>do</strong> meu também, aí eu falei esta<br />
criança eu trabalhei com ele isso, isso, isso, e ele chegou no final <strong>do</strong> ano,<br />
mesmo com todas as faltas que ele tinha, chegou muito bem. [...] eu<br />
ensinei a ele tu<strong>do</strong>: a comer, a mastigar, tu<strong>do</strong>, ele aprendeu a comer<br />
sozinho, nem isso ele fazia, ele tinha muito pouco em casa.[...] é<br />
complica<strong>do</strong> a gente interferir nestas coisas, nestas conversas, questões,<br />
sabe, mas consegui isso com ele, aprendeu a comer, escovar os dentes, aí<br />
tu<strong>do</strong> bem, foi para outra professora. Só que agora, ele está bem, a<br />
própria professora falou olha, eu não esperava que ele ia aprender<br />
tanto assim. Tu<strong>do</strong> o que ela dava para ele eram as atividades da classe,<br />
e estas atividades diferentes que o povo fala, mas é ruim isto... (risos)<br />
mas ele tem que saber que hora ele vai colocar tal letrinha e que letrinha,<br />
precisa aprender... ele superou tu<strong>do</strong>. Até texto ele já está saben<strong>do</strong>. Agora<br />
ele foi para Santa Catarina, a mãe resolveu ir embora para lá. (GD –P19 –<br />
grifo nosso)<br />
A realização das atividades diferenciadas parece ser, para a professora, uma situação<br />
contraditória: ao mesmo tempo em que as cita, comenta, que “é ruim”, porém, a frase<br />
posterior parece fundamentar a necessidade de tais atividades: “mas ele tem que saber que<br />
hora ele vai colocar tal letrinha e que letrinha, precisa aprender...”<br />
Atentos, porém, à ótica <strong>do</strong> aluno, tal proposta nos remete a pensar se os desafios que<br />
estão sen<strong>do</strong> propostos – uma vez que pré-determina<strong><strong>do</strong>s</strong> pelos <strong>professores</strong> - não ficam aquém