A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
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Correlaciona<strong>do</strong> a uma pedagogia comportamental, centra<strong>do</strong> no meio externo, o uso de<br />
reforço positivo já foi um <strong><strong>do</strong>s</strong> marcos da Educação Especial, principalmente por acreditar que<br />
pessoas com deficiência mental eram capazes apenas de serem treinadas.<br />
A abordagem a<strong>do</strong>tada pela professora ao utilizar reforços positivos parece ter outra<br />
conotação, mais voltada a criar vínculos afetivos com o aluno e, assim, motivar sua<br />
aprendizagem, conforme podemos observar no relato abaixo:<br />
no começo tive muito me<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> fiquei saben<strong>do</strong> que teria um menino<br />
com DM, a professora <strong>do</strong> ano anterior relatava que ele não parava na sala,<br />
agredia a to<strong><strong>do</strong>s</strong>, gritava, não fazia nada...era muito me<strong>do</strong> que eu tinha...ele<br />
era muito agressivo, se jogava no corre<strong>do</strong>r...ninguém suportava ele [...]<br />
Então eu falei assim , então nós vamos fazer assim, to<strong>do</strong> o final de semana<br />
eu vou trazer <strong>do</strong>ce para você se você trabalhar comigo, tá bom? Tá. To<strong>do</strong><br />
final de semana eu levava <strong>do</strong>ce, levava mesmo, aí, menina, e quan<strong>do</strong> ele<br />
não queria trabalhar naquela semana eu falava: não vou levar, não trago<br />
<strong>do</strong>ce essa semana... Ele falava: ah, mas nenhum bombom? Nenhum<br />
bombom. Aí menina ele foi assim, foi se ajeitan<strong>do</strong>, foi fican<strong>do</strong> calmo, sabe,<br />
e quan<strong>do</strong> eu faltava, ele não entrava na sala, ele ficava senta<strong>do</strong> no corre<strong>do</strong>r,<br />
olha ele dava um trabalho para entrar... (GD – P11)<br />
Cumpre destacar ainda, conforme pode ser observa<strong>do</strong> no relato acima, o apontamento da<br />
professora acerca da inconveniência da a<strong>do</strong>ção de tais recursos uma vez que a modificação <strong>do</strong><br />
comportamento é efetivada por via externa, não se manten<strong>do</strong> ao mudar as pessoas.<br />
Ao pensarmos sobre a a<strong>do</strong>ção de reforços positivos, há de se considerar ainda outros<br />
<strong>do</strong>is aspectos. Por um la<strong>do</strong>, a a<strong>do</strong>ção desse tipo de atitude pode dificultar a construção da<br />
autonomia moral pela criança, uma vez que esta passa a ser regulada pelo meio externo<br />
(adultos, prêmios, etc.). Por outro la<strong>do</strong>, ao controlar comportamentos inadequa<strong><strong>do</strong>s</strong> (agressão<br />
aos colegas, não parar na classe, gritar), tal atitude cria um ambiente favorável para que<br />
ocorra a interação entre os alunos, bem como inibe a formação de uma imagem negativa da<br />
criança, como a de um “pequeno terrível”, com o qual ninguém pode.<br />
No relato abaixo, a própria professora enfatiza que tais estratégias podem caracterizar-se<br />
como chantagem, questionan<strong>do</strong> sua adequação, embora aponte que tenha possibilita<strong>do</strong> ao<br />
aluno criar vínculos afetivos antes não conquista<strong><strong>do</strong>s</strong>.<br />
Eu, eu, eu acho que estou certa sim porque eu consegui trabalhar com ele,<br />
entende? Eu peguei a amizade dele e ele foi gostan<strong>do</strong> de mim, sabe? Foi<br />
aquela coisa. Mas eu não sei se eu estou certa, entende? Então assim, “não,<br />
não pode fazer isso”. Às vezes eu posso ouvir assim de alguém, você não<br />
pode fazer isso, entende? É chantagem essas coisas, você entende, eu<br />
penso assim também. (...) mas eu não tinha outro jeito, você entende? Eu<br />
falava assim, ai meu Deus <strong>do</strong> céu. Eu elogiava ele na sala, tu<strong>do</strong>, mas eu