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A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental

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Na sala encontrei “Nenê”, assim chamada por seus coleguinhas, sequer sabiam seu<br />

nome verdadeiro, na época com 5 anos. Sua fala era bem lenta, pausada, em alguns<br />

momentos, difícil de entender sua pronúncia. Andava de maneira diferente das demais<br />

crianças, demonstran<strong>do</strong> uma certa rigidez em um <strong><strong>do</strong>s</strong> la<strong><strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> corpo, pouca coordenação<br />

motora para atividades da vida diária que as demais crianças já realizavam, como: desabotoar<br />

a blusa, abaixar o shorts para ir ao banheiro, levar a comida até a boca. Parecia ter certa<br />

dificuldade para aprender, demorava a entender as propostas, perdia-se ao escolher as<br />

atividades <strong>do</strong> dia. Enquanto as crianças em pouco tempo já reconheciam suas fichas com<br />

nomes, cadernos, pastas, Nenê sempre precisava ser auxiliada. Utilizava os jogos sempre da<br />

mesma maneira, como uma atividade muito mais motora (empilhava, juntava, derrubava) que<br />

simbólica (não seguia suas regras, não compreendia porque ganhou ou perdeu). Apesar de<br />

suas dificuldades, estava sempre sorridente e disposta a fazer tu<strong>do</strong> o que lhe era proposto,<br />

demonstrava gostar de estar na escola, relutan<strong>do</strong> e reclaman<strong>do</strong> na hora de voltar para o abrigo.<br />

O fato de Nenê não saber seu nome me incomodava muito. Procurei a direção <strong>do</strong> abrigo<br />

e somente no último dia da semana consegui finalmente descobri-lo. No decorrer das<br />

atividades, buscava ajudá-la a desenvolver sua independência, a fazer suas opções, escolhas...<br />

Hoje, analisan<strong>do</strong> minha primeira experiência como professora, não tenho certeza se<br />

consegui ajudá-la em seu desenvolvimento. Não tenho dúvidas de que esta criança<br />

apresentava uma deficiência, talvez até um quadro de paralisia cerebral; não havia um<br />

diagnóstico clínico, nem tampouco o solicitei. Atualmente sei que ela precisava de outras<br />

intervenções. No entanto, acredito que o fato de não conhecer sua patologia talvez tenha me<br />

ajuda<strong>do</strong> a olhar para ela sem me prender em sua dificuldade e tratá-la de forma natural como<br />

fazia com as demais crianças, ou seja, propon<strong>do</strong> situações para que to<strong><strong>do</strong>s</strong> pudessem se<br />

desenvolver e aprender, oferecen<strong>do</strong> ajuda, intervenção e carinho.<br />

No meu caminhar profissional, este foi o primeiro contato que tive com uma pessoa com<br />

deficiência. Percebo que enquanto a Rede Municipal era composta apenas pela educação<br />

infantil, minha experiência foi muito parecida com o que ocorria em outras classes, em toda a<br />

Rede. A preocupação estava em grande parte em pensar o que propor para que cada criança<br />

aprendesse. Se o agrupamento de crianças de diferentes idades trazia problemas de ordem<br />

meto<strong>do</strong>lógica, por outro la<strong>do</strong> a diferença de ritmos não era motivo de aflição ou desespero<br />

como hoje, muitas vezes, é questiona<strong>do</strong> pelos <strong>professores</strong>. O desafio estava em propor<br />

simultaneamente diferentes atividades para serem escolhidas pelas crianças e estimulá-las<br />

para que se interessassem por aquelas de maior complexidade, como a escrita.<br />

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