A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
A prática pedagógica dos professores do ensino fundamental
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
como ateliês, cantinhos, oficinas” são opções interessantes apenas para alunos com<br />
deficiência mental?<br />
Na pretensa ‘boa intenção’ de possibilitar o sucesso <strong>do</strong> aluno, propõe-se que o professor<br />
determine o que o aluno é ou não capaz de fazer ou substitua objetivos propostos para o ano<br />
por objetivos e conteú<strong><strong>do</strong>s</strong> “acessíveis, significativos e básicos”.<br />
Desta maneira, o <strong>ensino</strong>, para alunos com deficiência, assume uma característica tão<br />
peculiar e diferenciada que cabe perguntar qual seria o senti<strong>do</strong> de tais crianças estarem no<br />
<strong>ensino</strong> comum, se tu<strong>do</strong> para elas será diferente <strong>do</strong> coletivo da classe: objetivos adapta<strong><strong>do</strong>s</strong>,<br />
conteú<strong><strong>do</strong>s</strong> adapta<strong><strong>do</strong>s</strong>, meto<strong>do</strong>logia adaptada, materiais adapta<strong><strong>do</strong>s</strong>, avaliação adaptada. E mais:<br />
qual seria a proposta para lidar com as diferenças <strong><strong>do</strong>s</strong> demais alunos que não apresentam<br />
diagnósticos clínicos, mas sim maneiras peculiares de ser, de sentir, de pensar e de agir?<br />
Conforme reafirma Mantoan (2003), a diferenciação e “adaptação” da atividade são<br />
feitas pelo próprio aluno:<br />
O ponto de partida para se ensinar a turma toda, sem diferenciar o <strong>ensino</strong><br />
para cada aluno ou grupo de alunos, é entender que a diferenciação é feita<br />
pelo próprio aluno, ao aprender, e não pelo professor ao ensinar! Essa<br />
inversão é <strong>fundamental</strong> para que se possa ensinar a turma toda,<br />
naturalmente, sem sobrecarregar inutilmente o professor (para produzir<br />
atividades e acompanhar grupos diferentes de alunos) e alguns alunos (para<br />
que consigam se “igualar” aos colegas da turma).<br />
Buscar essa igualdade como produto final da aprendizagem é fazer<br />
educação compensatória, em que se acredita na superioridade de alguns,<br />
inclusive a <strong>do</strong> professor, e na inferioridade de outros, que são menos<br />
<strong>do</strong>ta<strong><strong>do</strong>s</strong>, menos informa<strong><strong>do</strong>s</strong> e esclareci<strong><strong>do</strong>s</strong>, desde o início <strong>do</strong> processo de<br />
aprendizagem curricular. (p.72)<br />
A compreensão da “adaptação curricular” como saída para garantir a educação de<br />
qualidade para to<strong><strong>do</strong>s</strong>, conforme preconiza<strong>do</strong> nesta publicação oficial, se disseminou. Na<br />
<strong>prática</strong>, esta ideia materializou-se em planos individualiza<strong><strong>do</strong>s</strong>, com cadernos pré-organiza<strong><strong>do</strong>s</strong><br />
para algumas crianças, com atividades diferentes daquelas desenvolvidas na sala de aula, mais<br />
facilitadas, nas quais pre<strong>do</strong>minam atividades motoras.<br />
A proposta de adaptações curriculares legitimou e reforçou na escola o conceito de que<br />
o problema <strong>do</strong> fracasso educacional se deve à inabilidade de algumas crianças na escola, para<br />
as quais basta fazer atividades a parte, substituin<strong>do</strong> objetivos e conteú<strong><strong>do</strong>s</strong>. Nesta perspectiva,<br />
as mudanças educativas são pontuadas e não geram tantos desconfortos e conflitos,<br />
mascaran<strong>do</strong> e/ou desconsideran<strong>do</strong> as diferenças.<br />
51