Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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Obviamente, estas mudanças institucio<strong>na</strong>is dev<strong>em</strong> ser s<strong>em</strong>pre compreendidas<br />
como processos sociais nos quais ocorr<strong>em</strong> determi<strong>na</strong>ções complexas e recíprocas.<br />
Assim, no momento <strong>em</strong> que as ONGs trabalhavam <strong>na</strong> mobilização de atores e no<br />
incr<strong>em</strong>ento de experiências alter<strong>na</strong>tivas e locais, houve um con<strong>texto</strong> estrutural mais<br />
amplo que, a partir <strong>do</strong>s anos 90, facilitou, por caminhos enviesa<strong>do</strong>s, a sua <strong>em</strong>ergência<br />
institucio<strong>na</strong>l e a visibilidade pública de seus ideais. Naquele momento, as ONGs, a<br />
partir da microdinâmica de suas ações, fortaleceram um discurso <strong>do</strong> imaginário<br />
d<strong>em</strong>ocrático que, ao clamar por justiça econômica e social, direitos humanos etc.,<br />
reivindicava <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, dentre outras coisas, um maior protagonismo das organizações<br />
da sociedade civil <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s rumos políticos da promoção <strong>do</strong><br />
desenvolvimento.<br />
Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o Esta<strong>do</strong>, no plano das macroestruturas políticas, fortaleceu o<br />
discurso neoliberal que reclamava, dentre outros aspectos, a diminuição <strong>do</strong> seu<br />
tamanho, a redução de suas responsabilidades e a restrição de seu papel <strong>em</strong>preende<strong>do</strong>r,<br />
inclusive aquele relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> às d<strong>em</strong>andas sociais mais básicas, incentivan<strong>do</strong>, diante da<br />
sua anunciada ausência, a ação social de organizações privadas ou voluntárias (DOIMO,<br />
1995, NEVES, 2001, DAGNINO, 2002). Ambos discursos, <strong>em</strong>bora essencialmente tão<br />
distintos, por força da conjuntura e por linhas tortas, se encontraram. Nos vínculos entre<br />
as dinâmicas macro e micro <strong>do</strong>s processos sociais, estes fatores se mesclaram à<br />
descrença <strong>na</strong>s práticas revolucionárias, tão caras aos ativistas sociais que lutaram contra<br />
o regime autoritário, e à chegada aos poderes executivo e legislativo, via eleições<br />
diretas, de vários políticos simpáticos às causas <strong>do</strong>s movimentos sociais. Neste<br />
processo, relativizaram-se posturas críticas mais radicais que afastavam aqueles ativistas<br />
de qualquer tipo de vínculo com a institucio<strong>na</strong>lidade gover<strong>na</strong>mental. Este con<strong>texto</strong><br />
contribuiu para explicar tanto a postura reformista pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte a partir de então,<br />
quanto a enorme aceitação das mudanças propostas pelas ONGs a partir <strong>do</strong>s anos 90.<br />
Ao discutir a historicidade das ONGs e sua influência sobre mudanças<br />
institucio<strong>na</strong>is <strong>na</strong> sociedade, é também importante compreender o lugar social que deu<br />
orig<strong>em</strong> ao seu discurso sobre a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento e o mo<strong>do</strong> como ele foi<br />
socializa<strong>do</strong> com outros atores. Uma primeira constatação indica que as ONGs<br />
construíram seus discursos a partir de suas ações com os grupos sociais mais carentes,<br />
beneficiários <strong>do</strong>s projetos que <strong>em</strong>preend<strong>em</strong>. Seus atores falam a estes grupos como<br />
assessores e, não raro, de certo mo<strong>do</strong>, falam por eles quan<strong>do</strong> diagnosticam sua situação,<br />
quan<strong>do</strong> negociam com seus fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>res ou parceiros ou quan<strong>do</strong> discursam à<br />
sociedade sobre o trabalho que executam. Portanto, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que lhes<br />
proporcio<strong>na</strong>m novas capacidades, estes agentes também estão interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />
apreender seus costumes, mo<strong>do</strong>s de vida e de produção para que possam traduzi-los,<br />
quan<strong>do</strong> explicita<strong>do</strong>s <strong>em</strong> outras redes de comunicação, <strong>em</strong> novas d<strong>em</strong>andas que<br />
justifiqu<strong>em</strong> seus projetos. Deste mo<strong>do</strong>, também trabalham para re-significar as carências<br />
destes grupos a partir de sua visão sobre os processos de desenvolvimento e <strong>do</strong><br />
diagnóstico que constro<strong>em</strong> das realidades <strong>na</strong>s quais trabalham. Detêm, portanto, uma<br />
posição privilegiada, para entender e traduzir d<strong>em</strong>andas locais e para construir discursos<br />
alter<strong>na</strong>tivos que sejam compreendi<strong>do</strong>s e aceitos quan<strong>do</strong> falam para além das<br />
comunidades com as quais compartilham suas propostas.<br />
Embora estejam mais próximos <strong>do</strong>s grupos locais, a orig<strong>em</strong> de seus agentes é,<br />
geralmente, outra. Eles são, <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, profissio<strong>na</strong>is originários da assim-<br />
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