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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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por barragens organizaram-se <strong>em</strong> um movimento que buscava a reconstituição de seus<br />

mo<strong>do</strong>s de vida e de trabalho, após ser<strong>em</strong> desloca<strong>do</strong>s de suas terras para dar espaço à<br />

construção de usi<strong>na</strong>s hidroelétricas; no Norte <strong>do</strong> país, os seringueiros resistiam à<br />

decadência de sua atividade extrativista e à invasão <strong>do</strong>s pastos, que destruíam os<br />

seringais <strong>na</strong>tivos; e os pequenos produtores, à marg<strong>em</strong> das benesses da modernização,<br />

vislumbravam poucas alter<strong>na</strong>tivas à sua reprodução social. Muitos desses agricultores:<br />

(...) ou perderam suas terras ou percebiam que seus filhos dificilmente teriam acesso a ela, e<br />

constituíram o contingente que acabou por conformar a identidade política de “s<strong>em</strong>-terra”<br />

(...) Além disso, outras reivindicações <strong>em</strong>ergiam e requalificavam a questão agrária. As<br />

d<strong>em</strong>andas por parcelas de pequenos produtores, que conseguiram se tecnificar, por<br />

melhores preços para os seus produtos, por crédito etc., e as mobilizações decorrentes<br />

mostravam a existência de um vasto segmento que, <strong>em</strong>bora detentor da propriedade da terra<br />

e, <strong>em</strong> alguma medida, beneficiário <strong>do</strong> desenvolvimento tecnológico <strong>do</strong>s anos 70,<br />

necessitava de políticas específicas de apoio para garantir suas condições de produção e<br />

tor<strong>na</strong>vam o Esta<strong>do</strong> objeto de interpelação (MEDEIROS, 1994, pp. 15-6).<br />

O processo gradual de abertura política e red<strong>em</strong>ocratização social, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s<br />

anos 70 e início <strong>do</strong>s 80, possibilitou a vocalização destas várias d<strong>em</strong>andas. 75 As novas<br />

formas de organização e de encaminhamento das lutas no campo tinham os agentes<br />

pastorais de setores progressistas da Igreja Católica – aqueles mais próximos aos ideais<br />

da Teologia da Libertação – como os seus principais media<strong>do</strong>res, sobretu<strong>do</strong> os atuantes<br />

<strong>na</strong> Comissão Pastoral da Terra (CPT) (SCHERER WARREN, 1989, p.41) 76 . Nos discursos<br />

construí<strong>do</strong>s pela diversidade de atores, <strong>na</strong> época, sobressaia a constatação de que a luta<br />

pela terra não acabava com a conquista de sua posse, havia necessidade de criar<br />

alter<strong>na</strong>tivas à permanência, no campo, <strong>do</strong>s agricultores que produziam <strong>em</strong> peque<strong>na</strong><br />

escala e que tinham a mão-de-obra familiar como principal meio de suporte aos<br />

sist<strong>em</strong>as de produção.<br />

Naquele momento, formava-se um amplo e heterogêneo campo de contestação e<br />

de crítica endereça<strong>do</strong> às políticas públicas de desenvolvimento direcio<strong>na</strong>das para o agro.<br />

A modernização da agricultura era questio<strong>na</strong>da por seu caráter conserva<strong>do</strong>r e parcial.<br />

Aos novos movimentos sociais e aos seus media<strong>do</strong>res interessava questio<strong>na</strong>r o perfil<br />

centraliza<strong>do</strong>r das intervenções gover<strong>na</strong>mentais e buscar espaços políticos para realizar<br />

as mudanças reivindicadas. Neste vasto campo de contestação, a busca por estratégias<br />

de ação alter<strong>na</strong>tivas era enfrentada por grupos da sociedade civil que se fundamentam<br />

<strong>em</strong> distintas concepções políticas, objetivos e meto<strong>do</strong>logias de ação. A nível <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o<br />

padrão tecnológico da agricultura moder<strong>na</strong> passou a ser questio<strong>na</strong><strong>do</strong> por sindicatos de<br />

trabalha<strong>do</strong>res, por cooperativas rurais, por organizações de produtores, por associações<br />

75 Para SCHERER-WARREN (1989, p.42), as mais importantes formas de organização no campo, surgidas até<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 80 foram: O Movimento <strong>do</strong>s Agricultores Atingi<strong>do</strong>s por Barragens (a partir de 1976, com<br />

Sobradinho e Itaparica no Nordeste; de 1978, com Itaipu Bi<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; <strong>na</strong> década de 80, <strong>na</strong> Bacia <strong>do</strong> Rio Uruguai<br />

nos esta<strong>do</strong>s de Santa Catari<strong>na</strong> e Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Tucuruí, no Pará, dentre outras), o Movimento <strong>do</strong>s<br />

Trabalha<strong>do</strong>res Rurais S<strong>em</strong>-Terra (a partir de 1979, no Sul e Sudeste) e o Movimento de Mulheres Agricultoras (a<br />

partir de 1981). Outras três mobilizações populares tiveram importância ao “incorporar<strong>em</strong> de forma <strong>em</strong>ergencial<br />

alguns el<strong>em</strong>entos de conscientização sobre um novo mo<strong>do</strong> de fazer política”, quais sejam: o movimento de<br />

saques no nordeste (durante a grande seca de 1979-83), o movimento de bóias-frias, com suas greves, a partir <strong>do</strong><br />

fi<strong>na</strong>l da década de 70, e a mobilização <strong>do</strong>s seringueiros no norte <strong>do</strong> país.<br />

76 Esta autora também destaca a participação “de uma corrente <strong>do</strong> sindicalismo no campo denomi<strong>na</strong>da de ‘novo<br />

sindicalismo’ ou ‘sindicalismo combativo’”. A novidade destes movimentos sociais estaria <strong>na</strong>s novas formas de<br />

organização, que privilegiariam “a luta pela ampliação <strong>do</strong> espaço da cidadania, incluin<strong>do</strong>-se aí a busca de<br />

modificações <strong>em</strong> nível de relações sociais cotidia<strong>na</strong>s” (SCHERER WARREN, 1989, p.42).<br />

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