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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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Na proposta de um novo mo<strong>do</strong> de relação entre a agricultura e a <strong>na</strong>tureza, o<br />

princípio que defende a auto-suficiência <strong>do</strong>s agricultores familiares t<strong>em</strong> um papel<br />

preponderante. Este princípio está intimamente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à idéia de seguridade<br />

alimentar que, neste caso, defende como d<strong>em</strong>anda básica, o livre acesso <strong>do</strong>s agricultores<br />

ao patrimônio genético <strong>na</strong>tural necessário tanto à sua sobrevivência quanto à sua<br />

reprodução econômica. Os sist<strong>em</strong>as econômicos de proteção, patenteamento e<br />

comercialização das s<strong>em</strong>entes e cultivares contrariam este princípio ao instituir o<br />

merca<strong>do</strong> de bens biológicos e biotecnológicos, composto por variedades geneticamente<br />

modificadas, de eleva<strong>do</strong> custo, criadas para atender aos requisitos de sist<strong>em</strong>as de cultivo<br />

mecaniza<strong>do</strong>s e dependentes de insumos industrializa<strong>do</strong>s (BUTTEL et al., 1985).<br />

Na construção <strong>do</strong> discurso persuasivo a favor da estratégia agroecológica, o<br />

princípio da auto-suficiência evoca o ideal da autonomia campesi<strong>na</strong>. Assim, a opção por<br />

sist<strong>em</strong>as de cultivos mais diversifica<strong>do</strong>s conferiria tanto menores riscos à economia <strong>do</strong>s<br />

agricultores quanto maior preservação de espécies e variedades locais, buscan<strong>do</strong> evitar a<br />

erosão genética <strong>do</strong>s cultivares considera<strong>do</strong>s de baixo apelo comercial. Além disso, ao<br />

diversificar<strong>em</strong> sua produção, os agricultores correriam menos riscos econômicos, pois<br />

não dependeriam <strong>do</strong> bom des<strong>em</strong>penho de ape<strong>na</strong>s um cultivo ou criação, como faz<strong>em</strong> os<br />

monocultores, para garantir<strong>em</strong> sua renda. Ad<strong>em</strong>ais, a diversidade de cultivos e criações<br />

garantiria um eleva<strong>do</strong> patamar de auto-suprimento, inclusive de s<strong>em</strong>entes próprias,<br />

diminuin<strong>do</strong> a dependência aos merca<strong>do</strong>s externos. Este princípio apregoa <strong>na</strong>da mais que<br />

o reencontro <strong>do</strong>s agricultores com práticas e mo<strong>do</strong>s de produção tradicio<strong>na</strong>is,<br />

ecologicamente mais adequa<strong>do</strong>s.<br />

É importante percebermos que <strong>na</strong> defesa <strong>do</strong>s princípios agroecológicos como<br />

estratégia alter<strong>na</strong>tiva de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento local, a AS-PTA não incorpora a<br />

possibilidade de valorização econômica das práticas culturais mais tradicio<strong>na</strong>is aos<br />

argumentos que poderiam convencer os agricultores e d<strong>em</strong>ais interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> aderir à<br />

sua proposta. Ao dar ênfase a práticas culturais mais tradicio<strong>na</strong>is, a agregação de um<br />

“valor <strong>na</strong>tural” ou “tradicio<strong>na</strong>l” à produção agroecológica não faz parte <strong>do</strong> discurso<br />

elabora<strong>do</strong>. Nos argumentos construí<strong>do</strong>s pela AS-PTA, o interesse comercial ou a<br />

possibilidade de obtenção de uma maior rentabilidade fi<strong>na</strong>nceira proporcio<strong>na</strong>da pelos<br />

alimentos “tradicio<strong>na</strong>is” ou ecologicamente corretos não alcança, ao menos <strong>em</strong> seu<br />

discurso, qualquer relevância. Novamente, <strong>na</strong> fala construída, as diferenças são b<strong>em</strong><br />

d<strong>em</strong>arcadas. Nela se elabora uma distinção entre lógicas distintas que guiariam os<br />

objetivos da produção agrícola: a lógica insustentável <strong>do</strong> capital e <strong>do</strong> lucro contra a<br />

lógica <strong>do</strong> “produtor campesino”, idealizada como não produtivista e baseada nos valores<br />

culturais que os une, atávica e culturalmente, à sua terra:<br />

A organização técnica da produção agrícola desenvolvida pelo e para o capitalismo no<br />

campo é boa para o capitalismo, mas se contrapõe e tende a desorganizar a lógica, a<br />

racio<strong>na</strong>lidade e as condições de reprodutividade da peque<strong>na</strong> produção agrícola familiar.<br />

Essa não se fundamenta <strong>na</strong> acumulação e maximinização <strong>do</strong> lucro (...) <strong>na</strong>da <strong>na</strong><br />

contracorrente <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong> capitalismo no campo, da exacerbação da divisão social <strong>do</strong><br />

trabalho social, da separação campo-cidade e da crescente subordi<strong>na</strong>ção da agricultura à<br />

indústria (ALMEIDA, 1991, p.4).<br />

Para el productor campesino la lógica es distinta. La agricultura para él es más que u<strong>na</strong><br />

fuente de lucro. El es capaz de mantenerse en la tierra aún cuan<strong>do</strong> es posible que podría<br />

ga<strong>na</strong>r más en otro sector. Solamente cuan<strong>do</strong> la miséria lo obliga es que este migra,<br />

aban<strong>do</strong><strong>na</strong>n<strong>do</strong> sus raíces (WEID, 1994, p.13)<br />

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