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Os agentes das ONGs de desenvolvimento geralmente não são originários <strong>do</strong>s<br />
grupos locais que se beneficiam de sua ação. Vários autores destacam que a orig<strong>em</strong><br />
sócio-cultural destes agentes está muito mais próxima “<strong>do</strong>s grupos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes que <strong>do</strong>s<br />
grupos <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>do</strong>s da sociedade” (BEBBINGTON & FARRINGTON, 1993). Os vínculos e as<br />
relações de confiança e lealdade com estes grupos vão se construin<strong>do</strong> à medida <strong>do</strong><br />
desenrolar das atividades ou projetos (PADRÓN, 1982). Grosso mo<strong>do</strong>, seus funda<strong>do</strong>res<br />
são profissio<strong>na</strong>is que tiveram acesso à formação universitária. A sua afinidade<br />
ideológica com as causas <strong>do</strong>s setores populares os conduziu, muitas vezes, à vivência de<br />
situações-limite como a ação política clandesti<strong>na</strong> ou o exílio força<strong>do</strong>. A vida no interior,<br />
próxima a comunidades rurais ou a vida <strong>em</strong> grandes centros urbanos <strong>na</strong> Europa<br />
possibilitou a estes atores o acúmulo de experiências e conhecimentos que, mais tarde,<br />
se revelariam fundamentais para a construção de novas leituras sobre a situação <strong>do</strong>s<br />
grupos ou segmentos para os quais direcio<strong>na</strong>riam sua ação.<br />
As visões construídas por estes atores, de um mo<strong>do</strong> geral, se opõ<strong>em</strong> aos mo<strong>do</strong>s e<br />
às concepções que fundamentam os tipos de intervenção gover<strong>na</strong>mental e privada<br />
quan<strong>do</strong> direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s a ações de desenvolvimento social. De acor<strong>do</strong> com LANDIM (1987,<br />
p.31), estes atores reuniram-se <strong>em</strong> torno de uma identidade comum, “balizada pela<br />
atuação voltada para a questão social referida a setores populares <strong>na</strong> cidade e no<br />
campo”. Geralmente atuam por intermédio de redes sociais de intercâmbio de<br />
informações e apoio, mobilizan<strong>do</strong> organizações diversas que referendam ou legitimam<br />
suas propostas e ações locais.<br />
O conjunto de características anteriormente descrito tende a identificar as ONGs<br />
de desenvolvimento como arranjos institucio<strong>na</strong>is pouco burocratiza<strong>do</strong>s, nos quais a<br />
hierarquização de funções e o <strong>do</strong>mínio especialista <strong>do</strong> conhecimento – como objeto<br />
nortea<strong>do</strong>r das práticas – têm papéis secundários <strong>na</strong> gestão de sua ação. Neste caso, estas<br />
ONGs confer<strong>em</strong> maior importância à possibilidade de construção de relações menos<br />
verticalizadas – ou <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>das pelo “argumento da autoridade” – entre os atores<br />
envolvi<strong>do</strong>s nos processos, seja dentro da própria organização, seja com os agentes das<br />
outras instituições das quais interdepend<strong>em</strong>, seja com o público-alvo de sua intervenção<br />
(SENNA FILHO, 1994, DOIMO, 1995). Esta opção política e meto<strong>do</strong>lógica supostamente<br />
amplia o compartilhamento <strong>do</strong> poder decisório entre diversos atores, contribuin<strong>do</strong> para a<br />
maior participação <strong>do</strong>s beneficiários <strong>na</strong> definição <strong>do</strong>s rumos <strong>do</strong>s projetos e para a maior<br />
flexibilização de suas propostas às d<strong>em</strong>andas que são processualmente identificadas. A<br />
negação <strong>do</strong>s tipos de intervenção que tradicio<strong>na</strong>lmente caracterizam a agência<br />
gover<strong>na</strong>mental – principalmente <strong>em</strong> relação à centralização <strong>do</strong>s processos decisórios –<br />
tende a identificá-las como instituições preocupadas <strong>em</strong> possibilitar uma maior<br />
interação entre os valores e os conhecimentos que são atribuí<strong>do</strong>s aos seus beneficiários<br />
e aqueles defendi<strong>do</strong>s pelos projetos que conduz<strong>em</strong>. Tais características, aparent<strong>em</strong>ente,<br />
intensificam as interdependências de compreensões entre agentes e público beneficiário,<br />
impulsio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> os processos de desenvolvimento sob sua gestão (FISHER, 1998).<br />
Por to<strong>do</strong>s estes qualificativos, dentre outros, as ONGs que trabalham com a<br />
t<strong>em</strong>ática <strong>do</strong> desenvolvimento passaram a ser identificadas como porta<strong>do</strong>ras de uma<br />
proposta de mudança política das concepções e <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s de intervenção relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />
às d<strong>em</strong>andas sociais segmentadas ou localizadas. Muitas vezes, a direção destas<br />
mudanças, nos discursos construí<strong>do</strong>s por seus agentes, está pautada por referentes<br />
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