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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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Deste mo<strong>do</strong>, no começo <strong>do</strong>s anos 80, o processo de identificação <strong>do</strong>s atores com<br />

a causa alter<strong>na</strong>tiva ia sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> <strong>em</strong> torno de determi<strong>na</strong>das leituras, interpretações<br />

e visões de futuro que, além de conferir<strong>em</strong> uma certa unidade discursiva, davam rumo<br />

às ações <strong>do</strong>s diversos grupos. Estas leituras iniciavam com um diagnóstico crítico sobre<br />

os processos de modernização da agricultura brasileira, resultan<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma valorização<br />

<strong>do</strong>s agricultores e <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as de produção tradicio<strong>na</strong>is. De acor<strong>do</strong> com esta visão, era<br />

para estes agricultores e para os seus mo<strong>do</strong>s técnicos e sociais de organização da<br />

produção que as atenções deveriam estar voltadas, quan<strong>do</strong> da elaboração de alter<strong>na</strong>tivas<br />

à agricultura moder<strong>na</strong>. Uma segunda leitura bastante valorizada era a que imagi<strong>na</strong>va<br />

estes agricultores tradicio<strong>na</strong>is (ou “os pobres <strong>do</strong> campo”) como os verdadeiros “sujeitos<br />

<strong>do</strong>s processos <strong>em</strong>ancipatórios” (ABRAMOVAY, 2000).<br />

Operava-se, neste senti<strong>do</strong>, uma reversão da tendência <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, que concebia<br />

os técnicos e especialistas como as legítimas autoridades <strong>do</strong>s processos de mudança<br />

social <strong>na</strong> agricultura, projetan<strong>do</strong> aos agricultores tradicio<strong>na</strong>is um desejo e uma<br />

capacidade de organização e de resistência política aos processos modernizantes. Nesta<br />

leitura, as entidades de apoio eram tidas como assessorias de caráter t<strong>em</strong>porário para<br />

facilitar o processo de autonomia e <strong>em</strong>ancipação da agricultura tradicio<strong>na</strong>l <strong>em</strong> relação à<br />

dependência estatal e à subordi<strong>na</strong>ção aos merca<strong>do</strong>s.<br />

A terceira leitura compartilhada pelos atores interessa<strong>do</strong>s <strong>na</strong> promoção da<br />

agricultura alter<strong>na</strong>tiva era aquela que, coerente com a anterior, defendia que a difusão<br />

de novidades tecnológicas deveria ser um processo construí<strong>do</strong> de dentro para fora <strong>do</strong>s<br />

ambientes de interação entre técnicos e agricultores. A elaboração <strong>do</strong>s novos<br />

conhecimentos e técnicas deveria partir <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> das realidades e experiências<br />

<strong>do</strong>s agricultores locais, aproprian<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>s seus interesses e se opon<strong>do</strong>, deste mo<strong>do</strong>, ao<br />

caráter invasivo da intervenção gover<strong>na</strong>mental que geralmente impunham às localidades<br />

os conhecimentos e as técnicas exter<strong>na</strong>s, não levan<strong>do</strong> <strong>em</strong> consideração as suas<br />

especificidades, o que, no fi<strong>na</strong>l das contas, gerava dependência destes agricultores aos<br />

insumos e processos modernos de produção. Por fim, compreendia-se que o Esta<strong>do</strong> era<br />

o maior responsável pela situação desfavorável enfrentada pelos pequenos produtores e<br />

que, por isso, a construção da agricultura alter<strong>na</strong>tiva teria que, forçosamente, ocorrer à<br />

sua marg<strong>em</strong>. O caráter anti-Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento revelava-se com força <strong>na</strong>quele<br />

momento. Portanto, <strong>na</strong>quele con<strong>texto</strong>, a agricultura alter<strong>na</strong>tiva:<br />

(...) aponta para novas formas de organização social e técnica da produção agrícola – uma<br />

nova agricultura – que vai sen<strong>do</strong> gerada <strong>na</strong> luta cotidia<strong>na</strong>, alimentada pelo saber<br />

acumula<strong>do</strong>, pela criatividade e pelo aprendiza<strong>do</strong> no enfrentamento e equacio<strong>na</strong>mento pelos<br />

pequenos produtores <strong>do</strong>s seus próprios probl<strong>em</strong>as (ALMEIDA, 1991, p.2).<br />

Ao construir uma outra interpretação sobre os processos de promoção <strong>do</strong><br />

desenvolvimento, os atores que defendiam a agricultura alter<strong>na</strong>tiva imagi<strong>na</strong>vam também<br />

outras maneiras de identificar e satisfazer as necessidades <strong>do</strong>s grupos carentes com os<br />

quais trabalhavam. O seu discurso chamava a atenção para as diferenças culturais e para<br />

a necessidade de autodetermi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s pequenos produtores, claman<strong>do</strong> por justiça<br />

econômica e social. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, tratavam de reivindicar uma maior consideração<br />

pelas variáveis ambientais, denuncian<strong>do</strong> os abusos <strong>do</strong> modelo convencio<strong>na</strong>l de<br />

desenvolvimento, basea<strong>do</strong> no estímulo ao uso de recursos <strong>na</strong>turais não-renováveis e<br />

insumos químicos e mecânicos <strong>em</strong> larga escala. Questio<strong>na</strong>va, por fim, uma concepção<br />

de modernidade baseada <strong>na</strong> crença iluminista no progresso ilimita<strong>do</strong>, <strong>na</strong> qual a ciência e<br />

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