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Este diagnóstico geral concorda, <strong>em</strong> parte, com aquele elabora<strong>do</strong> por FURTADO<br />
(1995, p.103), quan<strong>do</strong> este autor afirma que, a partir <strong>do</strong> golpe militar de 1964, toda a<br />
política econômica brasileira “passa a ser estritamente uma política de industrialização,<br />
intensifican<strong>do</strong> a exclusão social (...), criou-se uma profunda antinomia entre<br />
desenvolvimento e projeto social”. Naquela conjuntura, os atores envolvi<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s<br />
primeiras ações não-gover<strong>na</strong>mentais direcio<strong>na</strong>das a projetos de promoção social<br />
diagnosticavam que a intervenção das agências gover<strong>na</strong>mentais pautava-se <strong>em</strong> um<br />
modelo econômico que, além de não beneficiar os setores populares, excluin<strong>do</strong>-os de<br />
condições de melhoria de sua situação precária, impossibilitava a manifestação de<br />
outras propostas – decorrentes de outras leituras da realidade – e de outras práticas que,<br />
supostamente, melhor atendess<strong>em</strong> as d<strong>em</strong>andas daqueles setores. A partir da defesa<br />
deste diagnóstico, estes atores situam-se <strong>em</strong> posições políticas d<strong>em</strong>arcadamente opostas<br />
à assim diagnosticada “posição <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>” e, <strong>em</strong> conseqüência, opostas ao modelo de<br />
desenvolvimento que a institucio<strong>na</strong>lidade gover<strong>na</strong>mental possibilitava.<br />
A leitura que possibilita o discurso das ONGs, <strong>na</strong>quela época, evidencia a<br />
pre<strong>do</strong>minância de uma concepção monolítica <strong>do</strong> aparato estatal (ALMEIDA, 1996, DIAS,<br />
1998). As categorias de análise utilizadas pelos atores sociais vincula<strong>do</strong>s às ONGs − ao<br />
menos até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 80 − são referidas, grosso mo<strong>do</strong>, aos instrumentais teóricos<br />
da economia política, sob influência marxista. A leitura que elaboram da realidade se<br />
aproximava aos referenciais <strong>do</strong> estruturalismo e <strong>do</strong> determinismo econômico. A partir<br />
desta leitura, o Esta<strong>do</strong> era compreendi<strong>do</strong> como um instrumento político da classe<br />
<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, um aparato burocrático e administrativo construí<strong>do</strong> para impor e para<br />
legitimar ideologicamente, <strong>na</strong>quela conjuntura, um modelo geral de desenvolvimento<br />
para a sociedade. O Esta<strong>do</strong> era representa<strong>do</strong> como o ator social responsável pela<br />
realização de um projeto de desenvolvimento, que alcançaria um eleva<strong>do</strong> grau de<br />
homogeneidade ao percorrer a institucio<strong>na</strong>lidade gover<strong>na</strong>mental, realizan<strong>do</strong>-se <strong>em</strong> suas<br />
práticas.<br />
Esta compreensão sobre o mo<strong>do</strong> de atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> relação aos processos<br />
de desenvolvimento fornecia o contraponto à construção de propostas e à consolidação<br />
da identidade institucio<strong>na</strong>l das ONGs que trabalhavam com a t<strong>em</strong>ática <strong>do</strong>s processos de<br />
desenvolvimento. Para estas ONGs, os discursos que enunciavam suas propostas<br />
permitiam perceber que estas deveriam ser elaboradas de mo<strong>do</strong> a: (a) valorizar<br />
intenções como o desvelamento <strong>do</strong>s conflitos que eram obscureci<strong>do</strong>s pelos ideais<br />
totalizantes que, sob sua ótica, fundavam as <strong>do</strong>utri<strong>na</strong>s de desenvolvimento defendidas<br />
pela institucio<strong>na</strong>lidade gover<strong>na</strong>mental; (b) valorizar a participação <strong>do</strong>s beneficiários <strong>do</strong>s<br />
projetos <strong>em</strong> todas as suas fases de elaboração − neste caso, a participação era concebida<br />
como exercício de compartilhamento de poder decisório entre to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s no<br />
processo; e (c) valorizar a diss<strong>em</strong>i<strong>na</strong>ção de práticas supostamente mais b<strong>em</strong><br />
contextualizadas às realidades locais, <strong>em</strong> uma tentativa de gerar autonomia nos grupos<br />
trabalha<strong>do</strong>s (WELLARD, 1993, SCHERER-WARREN, 1995).<br />
As ONGs de desenvolvimento, ao longo <strong>do</strong>s anos 80, legitimaram seu papel<br />
social e ganharam, paulati<strong>na</strong>mente, maior visibilidade, defenden<strong>do</strong> o argumento da<br />
falência da <strong>do</strong>utri<strong>na</strong> econômica desenvolvimentista como instrumento para possibilitar a<br />
melhoria das condições de vida da maioria da população que não usufruía as supostas<br />
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