Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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s<strong>em</strong>pre repetida: o que a palavra de Deus nos diz, a nós que <strong>aqui</strong> estamos, neste lugar, com<br />
tais probl<strong>em</strong>as e tais esperanças?.<br />
A criação de milhares de CEBs ocorreu ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>do</strong> surgimento de<br />
diversas peque<strong>na</strong>s organizações que apareceram <strong>em</strong> seu entorno e que se diziam estar a<br />
serviço <strong>do</strong>s grupos e <strong>do</strong>s movimentos sociais, prestan<strong>do</strong>-lhes assessoria e, de acor<strong>do</strong><br />
com o discurso que enunciavam, promoven<strong>do</strong> o desenvolvimento da sociedade. Estas<br />
organizações geralmente se autodenomi<strong>na</strong>vam “centros” (uma referência a “um lugar<br />
para convergência”) e se dedicavam à promoção da educação popular, à alfabetização<br />
das classes populares pelo méto<strong>do</strong> Paulo Freire e, como l<strong>em</strong>bra SADER (1995, p.148),<br />
dedicavam-se a formar “consciências críticas no interior de coletividades autoorganizadas”.<br />
Por to<strong>do</strong> o país proliferaram centros de promoção social e de educação<br />
popular apoia<strong>do</strong>s, muitos deles, por programas inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de cooperação ao<br />
desenvolvimento que fomentavam o trabalho comunitário ou a intervenção local. Neles,<br />
grosso mo<strong>do</strong>, pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>va o voluntarismo de muitos de seus agentes, a pr<strong>em</strong>ência das<br />
relações interpessoais <strong>em</strong> oposição ao padrão burocrático das repartições públicas, os<br />
pequenos projetos econômicos, os trabalhos de educação e de animação das bases e as<br />
assessorias esporádicas a diversos grupos sociais. FERNANDES (1994. p.43) argumenta<br />
que a proliferação <strong>do</strong>s movimentos sociais e das organizações que surgiam para a sua<br />
assessoria, <strong>em</strong> ple<strong>na</strong> ditadura militar, foi possível por sua atuação bastante localizada,<br />
reunin<strong>do</strong> poucas pessoas, por isso, quan<strong>do</strong> “vistos de cima, não pareciam ameaçar os<br />
centros <strong>do</strong> poder”.<br />
As estratégias de ação <strong>do</strong>s Centros aproximavam-lhes, num primeiro momento,<br />
de um enfoque assistencialista tradicio<strong>na</strong>l muito s<strong>em</strong>elhante àquele difundi<strong>do</strong> pelas<br />
ações da Igreja Católica. Gradativamente foi ganhan<strong>do</strong> força a necessidade de<br />
desenvolver uma consciência crítica, <strong>na</strong>s comunidades trabalhadas, sobre as condições<br />
<strong>na</strong>s quais elas se encontravam e sobre as possíveis alter<strong>na</strong>tivas de reversão das<br />
realidades desfavoráveis. A educação popular, até então uma prática vinculada às<br />
experiências de alfabetização de adultos, começou a ser utilizada como méto<strong>do</strong> de<br />
atuação para conscientizar as pessoas, <strong>em</strong> clara oposição à assim diagnosticada ênfase<br />
dada pelos projetos gover<strong>na</strong>mentais às reformas de estruturas físicas, à ação<br />
assistencialista e pontual e ao teleologismo de suas meto<strong>do</strong>logias de trabalho. 27 Por<br />
intermédio das práticas de educação popular difundia-se a “crença de que as pessoas ao<br />
pensar<strong>em</strong> juntas serão capazes de transformar a si próprias e o mun<strong>do</strong>” (FERNANDES,<br />
1994, p.39). Deste mo<strong>do</strong>, os Centros foram paulati<strong>na</strong>mente reelaboran<strong>do</strong> o seu perfil,<br />
distancian<strong>do</strong>-se das práticas assistencialistas ou filantrópicas que os caracterizaram<br />
inicialmente, afastan<strong>do</strong>-os da ação das diversas entidades privadas que, como vimos,<br />
dedicaram esforços à promoção <strong>do</strong> desenvolvimento. 28<br />
27 BRANDÃO (1984) concebe a educação popular como “to<strong>do</strong> tipo de prática de mediação que promove ou<br />
assessora os movimentos populares (...), cuja teoria desde Paulo Freire, faz a denúncia <strong>do</strong>s usos políticos da<br />
educação opressora e cuja prática converte o trabalho pedagógico <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r <strong>em</strong> favor <strong>do</strong> trabalho político <strong>do</strong>s<br />
subalternos.”<br />
28 O assistencialismo e o filantropismo estavam intimamente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à ideologia <strong>do</strong> desenvolvimento de<br />
comunidades propalada pela Aliança para o Progresso, que fi<strong>na</strong>nciou vários destes programas e projetos através<br />
da Agência Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de Desenvolvimento <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s (USAID) e <strong>do</strong> Banco Interamericano de<br />
Desenvolvimento (BID). SCHILLING apud. SILVA (1982) assim descreve a Aliança para o Progresso: “O<br />
enuncia<strong>do</strong> <strong>do</strong> Governo Kennedy ‘Aliança para o Progresso’ constitui-se num projeto de auxílio às<br />
transformações das estruturas sociais latino america<strong>na</strong>s: reformar para não revolucio<strong>na</strong>r.”<br />
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