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sociais <strong>do</strong>s diversos atores são definidas pelo caráter assumi<strong>do</strong> pelo trabalho de<br />
assessoria.<br />
Como defin<strong>em</strong> FERNANDES & CARNEIRO (1994), o trabalho de assessoria pode<br />
ser compreendi<strong>do</strong> como uma relação que pressupõe confiança mútua e afinidade de<br />
propósitos entre as partes envolvidas. Para as organizações e grupos que receberão<br />
assessoria, a sua proposição deve revelar si<strong>na</strong>is claros quanto à possibilidade de lhes<br />
oferecer respostas aos probl<strong>em</strong>as que eles enfrentam. Estes si<strong>na</strong>is estão intrinsecamente<br />
vincula<strong>do</strong>s à própria história da entidade que presta assessoria e ao mo<strong>do</strong> como esta<br />
organização adentra o con<strong>texto</strong> <strong>do</strong>s grupos locais. No caso da AS-PTA, a proposição <strong>do</strong><br />
seu trabalho de assessoria percorre geralmente a rede de relações formada por agentes<br />
pastorais, mais característica <strong>do</strong> início de sua trajetória, e por atores de organizações de<br />
movimentos sociais, sindicatos ou até mesmo de outras ONGs. Mais recent<strong>em</strong>ente, com<br />
a a<strong>do</strong>ção da agroecologia e <strong>do</strong> desenvolvimento local como referenciais para a<br />
construção de alter<strong>na</strong>tivas de ação, a legitimação da proposta tendeu a ser mais<br />
referendada nos meios acadêmicos e nos meios políticos referi<strong>do</strong>s principalmente às<br />
institucio<strong>na</strong>lidades municipais. Portanto, as relações de confiança e afinidade de<br />
propósitos são construídas, quase s<strong>em</strong>pre, por meio de atores que já possu<strong>em</strong> uma maior<br />
inserção <strong>na</strong>s localidades, que buscam alter<strong>na</strong>tivas para a sua atuação e que, por isso,<br />
d<strong>em</strong>andam assessoria <strong>do</strong> agente externo.<br />
A construção destes vínculos de confiança e afinidade é fundamental ao bom<br />
andamento da ação local. Por meio destes vínculos e de sua inserção nos méto<strong>do</strong>s de<br />
participativos é que são construídas novas percepções sobre a situação, as d<strong>em</strong>andas e<br />
carências <strong>do</strong>s grupos locais. Assim, por ex<strong>em</strong>plo, ao incorporar o caráter participativo<br />
<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de diagnóstico, o trabalho de assessoria começa a construir relações de<br />
mediação entre as distintas percepções sobre a realidade <strong>do</strong> local e as alter<strong>na</strong>tivas para<br />
superar os limites que se apresentam. As motivações e o próprio senti<strong>do</strong> da ação a ser<br />
impl<strong>em</strong>entada pelo trabalho de assessoria pod<strong>em</strong> se origi<strong>na</strong>r e ser<strong>em</strong> conseqüência deste<br />
processo mediação. Obviamente, somente o desenrolar das relações concretas<br />
estabelecidas <strong>em</strong> cada caso pode revelar até que ponto os ideais participativos<br />
contribu<strong>em</strong> para que esta diversidade de concepções se manifeste, o poder de persuasão<br />
e influência que cada uma delas terá e seu alcance sobre a determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> da<br />
ação propriamente dita.<br />
É também evidente que não pod<strong>em</strong>os imagi<strong>na</strong>r que as ações estabelecidas, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, entre assessores e agricultores, qualificadas de participativas e idealmente<br />
sujeitas a diversas contingências, ocorram a partir de um vazio de intenções no qual as<br />
disputas por sua direção estejam francamente abertas. Há, claro, orientações e senti<strong>do</strong>s<br />
predetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pela própria organização de assessoria, defini<strong>do</strong>s pelos pressupostos de<br />
seu méto<strong>do</strong> e pelo acúmulo de experiências e d<strong>em</strong>andas institucio<strong>na</strong>is. As outras<br />
organizações que interag<strong>em</strong> neste processo também disputam o poder para influenciar a<br />
direção das ações <strong>em</strong> prol <strong>do</strong>s seus objetivos. Quan<strong>do</strong> menos estruturadas for<strong>em</strong> as<br />
entidades locais, representantes <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s beneficiários <strong>do</strong> processo de<br />
assessoria, menor será o seu poder de barganha <strong>na</strong> definição <strong>do</strong>s rumos deste processo.<br />
O caráter de mediação assumi<strong>do</strong> pelo trabalho de assessoria também se revela<br />
<strong>na</strong>s relações entre as ONGs e seus fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>res. É comum, <strong>na</strong> literatura sobre o t<strong>em</strong>a, a<br />
afirmação de que as ONGs têm o poder de conectar o local com o global. Isto ocorre,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, <strong>na</strong> tradução das d<strong>em</strong>andas locais <strong>em</strong> projetos de intervenção fi<strong>na</strong>nciáveis.<br />
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