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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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enesses da modernização. 37 Em seu ambiente formativo e ao longo <strong>do</strong> processo de<br />

construção de sua identidade, as ONGs passaram a enfrentar as contradições que<br />

<strong>em</strong>ergiam de sua própria atuação. Por um la<strong>do</strong>, o cerceamento <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>is tradicio<strong>na</strong>is de<br />

atuação política somente permitia a ação <strong>em</strong> con<strong>texto</strong>s localiza<strong>do</strong>s, impelin<strong>do</strong>-as a um<br />

tipo de agência pautada <strong>em</strong> pequenos projetos de desenvolvimento comunitário, muitas<br />

vezes de caráter meramente assistencial. Por outro la<strong>do</strong>, a leitura marxista que parecia<br />

informar estas ações apontava <strong>na</strong> direção da necessidade de transformações estruturais,<br />

como único caminho possível à superação da conjuntura adversa. 38 Como argumenta<br />

DOIMO (1995, p.94), os próprios movimentos sociais para os quais os centros, e<br />

posteriormente as ONGs, se diziam estar a serviço e com os quais interagiam,<br />

comportavam, <strong>em</strong> suas práticas e concepções, interesses ambíguos <strong>em</strong> relação ao seu<br />

papel social. Se, por um la<strong>do</strong>, sua ação elaborava uma perspectiva de transformação<br />

social, “contestan<strong>do</strong> o caráter excludente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> capitalista”, por outro, interpelavase<br />

o la<strong>do</strong> prove<strong>do</strong>r deste mesmo Esta<strong>do</strong>, reivindican<strong>do</strong>-se uma maior <strong>integra</strong>ção social<br />

<strong>do</strong>s grupos organiza<strong>do</strong>s a partir de d<strong>em</strong>andas ou carências específicas. As ONGs<br />

dedicadas às questões <strong>do</strong> desenvolvimento social são filhas e herdeiras desta<br />

ambigüidade formativa. Em uma conjuntura <strong>na</strong> qual se impunha a dicotomia como<br />

padrão a<strong>na</strong>lítico para a compreensão da realidade, os limites da construção de um<br />

projeto de transformação social estavam da<strong>do</strong>s aos agentes que dedicavam sua atuação<br />

aos projetos das ONGs.<br />

A construção da identidade deste conjunto de ONGs ocorreu <strong>em</strong> um movimento<br />

de que guardava continuidades com as tradicio<strong>na</strong>is obras de assistência social,<br />

conduzidas principalmente pela Igreja Católica. Este movimento, ao mesmo t<strong>em</strong>po,<br />

procurava romper com determi<strong>na</strong>das características destas obras, prezan<strong>do</strong> por uma<br />

postura mais crítica quanto à sua intervenção política junto aos grupos sociais de base<br />

(FERNANDES & CARNEIRO, 1994). As contradições deste processo formativo tor<strong>na</strong>ramse<br />

evidentes. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que, num primeiro momento, o discurso das ONGs<br />

rechaçava, por ex<strong>em</strong>plo, o assistencialismo das práticas tradicio<strong>na</strong>is, este mesmo<br />

discurso interagiu, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre de mo<strong>do</strong> crítico, com aquele construí<strong>do</strong> a partir da<br />

retórica das agências cooperação inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, cuja ação t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> tradicio<strong>na</strong>lmente<br />

fundada <strong>em</strong> campanhas caritativas e assistenciais, evitan<strong>do</strong>-se enfrentar ou resolver as<br />

contradições inerentes aos processos sociais que geram as situações de desigualdade<br />

entre grupos ou classes sociais. Portanto, desde suas origens, as ONGs que dedicam sua<br />

ação à t<strong>em</strong>ática <strong>do</strong> desenvolvimento social lidam com a ambigüidade <strong>do</strong>s discursos que<br />

constro<strong>em</strong> e que fundamentam o processo de construção de sua identidade nos<br />

ambientes de relações que lhes dão sustento e legitimidade institucio<strong>na</strong>is; lidam com a<br />

tentativa, conflituosa, de atribuir um senti<strong>do</strong> crítico ao tipo de agência que propõ<strong>em</strong>, de<br />

mo<strong>do</strong> a aproximá-la de um processo participativo de geração de autonomia nos grupos<br />

atingi<strong>do</strong>s por seu trabalho.<br />

37 FIORI (1995, p.76) argumenta que as características principais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> desenvolvimentista centram-se “<strong>na</strong><br />

ampliação <strong>do</strong> papel econômico des<strong>em</strong>penha<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> <strong>na</strong> regulação e condução da acumulação. Tal<br />

intervenção [no caso brasileiro no con<strong>texto</strong> <strong>do</strong>s anos 70] foi responsável pela ampliação continuada da burocracia<br />

estatal e, <strong>em</strong> particular, de seu aparelho econômico, dan<strong>do</strong> lugar ao aparecimento de uma tecnocracia ligada a<br />

uma gestão quase s<strong>em</strong>pre autoritária da máqui<strong>na</strong> estatal”.<br />

38 O início de toda transformação estrutural, rezava a cartilha marxista, seria o desvelamento da realidade para<br />

aqueles que a vivenciam s<strong>em</strong> estar<strong>em</strong> “conscientes” de seu papel <strong>na</strong> reprodução de suas próprias condições<br />

adversas; segue-se, neste prognóstico, a necessidade de união <strong>do</strong>s “oprimi<strong>do</strong>s” e necessidade de tomada <strong>do</strong> poder<br />

político das mãos <strong>do</strong>s opressores.<br />

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