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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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organizações locais e <strong>do</strong>s próprios agricultores <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s rumos <strong>do</strong>s projetos<br />

que impl<strong>em</strong>entam. Ao relaxar<strong>em</strong> o poder da autoridade e de decisão <strong>do</strong> agente externo<br />

ou <strong>do</strong>s especialistas que buscam elaborar diagnósticos e difundir novas tecnologias, as<br />

ONGs tratam de tor<strong>na</strong>r os processos de assessoria mais complexos, contingentes, multidetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />

e, principalmente, mais politiza<strong>do</strong>s. Desta forma, idealmente, romp<strong>em</strong><br />

com determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s mecanismos de clientelismo, troca de favores ou perso<strong>na</strong>lismo tão<br />

comuns <strong>na</strong>s relações entre agentes de desenvolvimento e populações locais. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, a mudança pretendida assume um caráter conserva<strong>do</strong>r ou retroativo quan<strong>do</strong>, ao<br />

reagir a um tipo de modernização <strong>do</strong>s processos de produção <strong>na</strong> agricultura, olha para o<br />

passa<strong>do</strong> e busca resgatar antigos padrões ou mo<strong>do</strong>s de vida mais comunitários, nos<br />

quais a organização da produção é baseada no trabalho familiar e <strong>em</strong> tecnologias mais<br />

rudimentares, de baixo impacto sobre o equilíbrio ecológico <strong>do</strong> meio ambiente.<br />

Neste caso, a qualidade da mudança proposta pelas ONGs está principalmente<br />

relacio<strong>na</strong>da à construção de um outro interesse público sobre a promoção <strong>do</strong><br />

desenvolvimento. Por meio de sua ação, é possível perceber como foi mudan<strong>do</strong> a<br />

percepção geral sobre as carências <strong>do</strong>s grupos-alvo de ação. Como argumenta ESCOBAR<br />

(1995), o “discurso das necessidades” vinha sen<strong>do</strong> historicamente construí<strong>do</strong> pelos<br />

especialistas, por técnicos com qualificação para diagnosticar e traduzir tais<br />

necessidades <strong>em</strong> objetos da administração estatal. A satisfação destas necessidades<br />

colocava as organizações <strong>do</strong>s agricultores, por ex<strong>em</strong>plo, como clientes <strong>em</strong> relação ao<br />

Esta<strong>do</strong> e às políticas públicas. A ação das ONGs de desenvolvimento, ao politizar estas<br />

necessidades ou carências, modificou esta relação assimétrica de poder a favor <strong>do</strong>s<br />

grupos sociais de base ou das organizações de movimentos sociais.<br />

Se, num primeiro momento esta mudança foi bastante molecular, limitada à<br />

interação local entre comunidades atendidas e agentes de ONGs, ao passar <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po e<br />

com o crescimento das redes de intercâmbio, a proposta de mudança alcançou certa<br />

influência nos mo<strong>do</strong>s de concepção sobre a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento e <strong>na</strong><br />

formulação de políticas públicas. As “necessidades básicas”, como conseqüência,<br />

deixaram de ser meramente econômicas ou de “infra-estrutura”. Para as ONGs, politizar<br />

estas necessidades ou carências, significou proporcio<strong>na</strong>r qualificação técnica aos grupos<br />

trabalha<strong>do</strong>s e às suas organizações, aumentan<strong>do</strong>, desta forma, a sua capacidade de<br />

participação ativa nos processos decisórios que envolviam os projetos, ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

<strong>em</strong> que suas lideranças tor<strong>na</strong>ram-se mais capazes de se fazer<strong>em</strong> ouvir nos fóruns<br />

deliberativos que encaminhavam mudanças públicas nos mo<strong>do</strong>s de promoção <strong>do</strong><br />

desenvolvimento.<br />

Um número bastante significativo de ONGs t<strong>em</strong> assumi<strong>do</strong> essa tarefa [a da qualificação<br />

técnica] junto aos vários movimentos sociais. Várias delas – e outros setores da sociedade<br />

civil – conceb<strong>em</strong> a questão da qualificação técnica como parte de uma qualificação mais<br />

ampla, onde a dificuldade central é enfrentar o peso de uma matriz cultural hierárquica que<br />

favorece a submissão frente ao Esta<strong>do</strong> e aos setores <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes, além de afirmar a política<br />

como uma atividade privada das elites (DAGNINO, 2002, p.285).<br />

O processo de articulação de novos discursos para repensar o desenvolvimento,<br />

conduzi<strong>do</strong> pelas ONGs e pelas organizações de movimentos sociais, chama a atenção<br />

para a dimensão política <strong>do</strong> desenvolvimento. Como argumenta PIETERSE (1998), o<br />

desenvolvimento está mais relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> à política <strong>do</strong> que aos modelos expla<strong>na</strong>tórios<br />

sobre como promovê-lo. As mudanças observadas <strong>na</strong>s três últimas décadas confirmam<br />

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