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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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vanguardas, a derrocada das forças políticas opressoras e estabelecer novas relações de<br />

poder. Como se sabe, isto não aconteceu. Na autocrítica construída então, diagnosticouse<br />

a pr<strong>em</strong>ente necessidade de enraizamento <strong>do</strong>s grupos de vanguarda <strong>na</strong>s dinâmicas<br />

próprias <strong>do</strong>s movimentos populares.<br />

Nos rumos toma<strong>do</strong>s por este movimento de autocrítica é possível reconhecer uma espécie<br />

de culto às virtudes da “paciência pedagógica” (...) s<strong>em</strong> cancelar estratégias revolucionárias<br />

elaboradas <strong>em</strong> pequenos círculos conspirativos, procuram enraizá-las <strong>na</strong>s massas,<br />

vinculan<strong>do</strong>-se às ações coletivas de resistência, por diminutas que foss<strong>em</strong>. Pensavam que<br />

ao longo dessas experiências – e desde que orienta<strong>do</strong>s por suas “vanguardas” – os<br />

trabalha<strong>do</strong>res fariam o aprendiza<strong>do</strong> que levaria à consciência de classe (...) era cada vez<br />

maior o número de militantes que – individualmente ou <strong>em</strong> grupo – começava a se<br />

desprender dessas organizações e manter suas atividades junto aos trabalha<strong>do</strong>res já s<strong>em</strong> as<br />

referências totaliza<strong>do</strong>ras das estratégias revolucionárias (SADER, 1995, pp.172-3).<br />

Naquele momento, os militantes de esquerda trataram de se aproximar das<br />

organizações populares, <strong>do</strong>s sindicatos e das associações, principalmente. Carrega<strong>do</strong>s de<br />

valores ideológicos, caberia aos que estavam ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s grupos populares, “mobilizar,<br />

organizar e conscientizar os pobres”, para incorporá-los à luta mais ampla pela<br />

conquista <strong>do</strong> poder político. Somente assim, imagi<strong>na</strong>va-se, poder-se-ia transformar o<br />

sist<strong>em</strong>a (STEIN, 1989). De tal mo<strong>do</strong>, estes agentes partiram para o trabalho cotidiano de<br />

conscientização <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res quanto o papel <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como legitima<strong>do</strong>r das<br />

condições de desigualdade (política, econômica...) prevalecentes. Em sua fala, o mais<br />

importante era enunciar, a partir de concepções marxistas <strong>do</strong> processo histórico, como<br />

capitalismo engendrava a sua lógica explora<strong>do</strong>ra; explicar como os movimentos<br />

populares, uma vez uni<strong>do</strong>s e conscientes de sua condição de classe explorada, poderiam,<br />

a partir de sua experiência e de sua história, transformar esta realidade.<br />

O programa revolucionário passou a ser reconstruí<strong>do</strong> a partir de experiências<br />

cotidia<strong>na</strong>s, <strong>do</strong> espaço microsocial e <strong>do</strong> paciente trabalho de conscientização <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res. Não s<strong>em</strong> conflitos ou contradições estabeleci<strong>do</strong>s com os ideais mais<br />

amplos de transformação social. Em um momento <strong>em</strong> que as estratégias revolucionárias<br />

e a própria teoria marxista, de um mo<strong>do</strong> geral, estavam sen<strong>do</strong> questio<strong>na</strong>das, restava, aos<br />

que se identificavam com a militância de esquerda, olhar para o cotidiano e para as<br />

experiências <strong>do</strong> povo explora<strong>do</strong>.<br />

O senti<strong>do</strong> desta reorganização de estratégias de ação social direcio<strong>na</strong>da aos<br />

setores populares, promovida tanto pela Igreja Católica quanto pela militância de<br />

esquerda, era influencia<strong>do</strong>, de um mo<strong>do</strong> geral, por um tipo de leitura que a<br />

intelectualidade fazia da então <strong>em</strong>ergente crise <strong>do</strong> marxismo a partir, principalmente, da<br />

obra de Gramsci, evidencian<strong>do</strong> o papel da cultura popular <strong>em</strong> oposição ao centralismo<br />

d<strong>em</strong>ocrático. Visualizava-se, nesta leitura, a possibilidade de construção <strong>do</strong> poder<br />

popular por intermédio <strong>do</strong> conceito de heg<strong>em</strong>onia. Além disso, ao fazer a releitura <strong>do</strong><br />

clientelismo e <strong>do</strong> populismo, reelaborava-se a importância <strong>do</strong> senso comum, <strong>do</strong> saber<br />

popular no cotidiano e buscava-se resgatar a capacidade ativa <strong>do</strong> povo contra as<br />

tradicio<strong>na</strong>is práticas de cooptação e de manipulação política, tão presentes <strong>na</strong>s<br />

organizações de representação tradicio<strong>na</strong>is. Naturalmente, to<strong>do</strong> esse raciocínio<br />

associava o exercício intelectual a uma vivência prática, a um engajamento comunitário<br />

vincula<strong>do</strong> ao desejo de criar um “contra-poder” ou um poder paralelo, que surgiria a<br />

partir das bases; <strong>do</strong> estímulo direto à organização das comunidades (FERNANDES &<br />

CARNEIRO, 1994; DOIMO, 1995).<br />

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