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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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promoção <strong>do</strong> desenvolvimento é auferida ao processo de mediação entre os<br />

conhecimentos técnicos <strong>do</strong>s agentes incumbi<strong>do</strong>s desta promoção e os conhecimentos<br />

acumula<strong>do</strong>s pelo público-alvo. Um <strong>do</strong>s des<strong>do</strong>bramentos desta concepção seria<br />

possibilitar um outro tipo de distribuição <strong>do</strong> poder decisório entre os atores envolvi<strong>do</strong>s<br />

no processo, distinto daquele que costumeiramente ocorre <strong>na</strong>s relações tradicio<strong>na</strong>is<br />

entre agentes de desenvolvimento e público-alvo, <strong>na</strong>s quais os primeiros detêm, além<br />

<strong>do</strong>s conhecimentos técnicos supostamente váli<strong>do</strong>s, o poder de decisão sobre a escolha<br />

das soluções e sobre os rumos das ações. Na perspectiva da AS-PTA, ambos tipos de<br />

conhecimento, <strong>do</strong>s agricultores e <strong>do</strong>s técnicos, interagin<strong>do</strong>, permitiriam um<br />

“cruzamento dessas percepções, uma nova visão de cada um e <strong>do</strong> conjunto” (WEID,<br />

1991a, p.31). No discurso construí<strong>do</strong> pela AS-PTA nos anos 90, este ideário é<br />

defendi<strong>do</strong> com vigor:<br />

Desconsiderar o di<strong>na</strong>mismo e as especificidades das variáveis sociais, culturais e<br />

ambientais no planeamento de programas de desenvolvimento é um convite ao insucesso<br />

(...) A ideologia que despreza o agricultor como ser pensante com idéias, iniciativas e<br />

conhecimentos próprios é extr<strong>em</strong>amente generalizada. Isto se manifesta, via de regra, pela<br />

tendência <strong>do</strong>s técnicos a considerar que o seu conhecimento (supostamente valida<strong>do</strong><br />

cientificamente) é superior ao <strong>do</strong> produtor e que portanto as soluções <strong>do</strong>s probl<strong>em</strong>as vivi<strong>do</strong>s<br />

por este depend<strong>em</strong> das propostas que os primeiros sejam capazes de produzir (...) A decisão<br />

pela a<strong>do</strong>pção de uma determi<strong>na</strong>da prática pelo agricultor é resulta<strong>do</strong> de um longo processo<br />

de experimentação e avaliação sujeito a inúmeros factores subjectivos, sen<strong>do</strong> que muitos<br />

<strong>do</strong>s quais sequer são percebi<strong>do</strong>s pelos técnicos (...) Os pequenos agricultores tradicio<strong>na</strong>is<br />

funcio<strong>na</strong>m com uma lógica camponesa e não com uma lógica <strong>em</strong>presarial (...) são<br />

depositários de conhecimentos valiosos e sua vontade e decisão [são] uma condição<br />

imprescindível para qualquer processo de alteração <strong>do</strong>s seus agroecossist<strong>em</strong>as<br />

(PETERSEN, 1996, pp.2-4).<br />

Os diagnósticos participativos tor<strong>na</strong>ram-se, portanto, o principal instrumento<br />

meto<strong>do</strong>lógico para o conhecimento gradual das realidades <strong>na</strong>s quais os probl<strong>em</strong>as<br />

relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à ausência de desenvolvimento se manifestavam e para definição da ação a<br />

ser <strong>em</strong>preendida. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, eles cumpriam o papel de mecanismos de<br />

mediação, estabelecen<strong>do</strong> ca<strong>na</strong>is de troca de informações, entre os atores que<br />

participavam <strong>do</strong> processo. Os acor<strong>do</strong>s resultantes da prática de diagnósticos<br />

determi<strong>na</strong>vam, de um mo<strong>do</strong> geral, os des<strong>do</strong>bramentos da intervenção técnica futura,<br />

guiada pela busca de soluções para as causas <strong>do</strong>s probl<strong>em</strong>as identifica<strong>do</strong>s. Neste<br />

processo, a qualidade da participação <strong>do</strong>s agricultores estava indissociavelmente<br />

relacio<strong>na</strong>da a “um razoável grau de organização e de interesse das bases envolvidas,<br />

assim como a qualidade de sua liderança” (WEID, 1991a, p.31). Este grau de<br />

organização presente no público-alvo da intervenção possibilitaria “mecanismos de<br />

interação/comunicação internos que facilitariam os processos participativos que<br />

consideramos essenciais para o sucesso das intervenções nos agroecossist<strong>em</strong>as” (WEID,<br />

1991, p.7). Por isso, o trabalho de assessoria é bastante seletivo. Ele ocorre por meio da<br />

d<strong>em</strong>anda de associações, organizações e entidades ligadas aos agricultores. Estes atores<br />

dão legitimidade à intervenção local <strong>do</strong>s técnicos da AS-PTA e, obviamente, comungam<br />

de sua proposta alter<strong>na</strong>tiva de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento local.<br />

Um aspecto importante no processo de afirmação de uma proposta alter<strong>na</strong>tiva de<br />

promoção <strong>do</strong> desenvolvimento, argumenta DIESEL (1999), é o fato dela construir seu<br />

poder persuasivo fundamentan<strong>do</strong>-o, inicialmente, <strong>em</strong> exercício de deslegitimação <strong>do</strong>s<br />

discursos concorrentes. Como geralmente ocorre com campos discursivos <strong>em</strong> disputa,<br />

os atores que defend<strong>em</strong> uma proposta alter<strong>na</strong>tiva frente a outra que é socialmente<br />

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