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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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asileiros, para efeito <strong>do</strong> que interessava. Quanto a isso e sobretu<strong>do</strong>, esses exila<strong>do</strong>s<br />

trouxeram consigo − repetin<strong>do</strong> as histórias de outras idas e vindas para o exterior de gente<br />

de ONGs − as relações de confiança construídas com agências não gover<strong>na</strong>mentais<br />

fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>ras (...) trouxeram não só um capital acumula<strong>do</strong> <strong>em</strong> relações, mas também um<br />

maior <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> funcio<strong>na</strong>mento dessas organizações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, <strong>em</strong> diversos países,<br />

de sua <strong>na</strong>tureza, de seus papéis e possibilidades, de suas políticas inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s − da<br />

complexidade das forças sociais e políticas <strong>em</strong> jogo <strong>na</strong> sua atuação.<br />

Entre os funda<strong>do</strong>res das primeiras ONGs, a sua orig<strong>em</strong> bastante diversificada e<br />

as distintas contribuições <strong>em</strong> termos de conhecimentos e habilidades geraram várias<br />

ambigüidades ou tensões impressas, ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, à identidade destas<br />

organizações. Estes atores, via de regra, haviam perdi<strong>do</strong> espaço <strong>em</strong> seus ambientes de<br />

atuação profissio<strong>na</strong>l por conta da conjuntura política vivida no país. Trabalhar <strong>em</strong> um<br />

centro de educação popular ou <strong>em</strong> uma organização similar poderia significar a<br />

possibilidade de reencontrar ou reconstruir sua inserção profissio<strong>na</strong>l de mo<strong>do</strong><br />

socialmente mais crítico. O depoimento a seguir é <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ático:<br />

Em 68 eu tinha participa<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento estudantil, entra<strong>do</strong> de cabeça n<strong>aqui</strong>lo, e tinha<br />

descoberto as organizações de esquerda clandesti<strong>na</strong>s. Escapei da repressão e alguns anos<br />

depois voltei à universidade. Fiquei trabalhan<strong>do</strong> <strong>em</strong> pesquisas com o campesi<strong>na</strong>to, pelo<br />

interior <strong>do</strong> país, pela primeira vez entrei <strong>em</strong> contato mais direto com esta realidade.<br />

Resolvi, então, sair da universidade e trabalhar nesta entidade (de educação popular), aí tive<br />

outro momento de grande descoberta. Fui mandada para fazer uma espécie de assessoria no<br />

interior <strong>do</strong> Pará, e aí conheci o trabalho o trabalho que o pessoal da Igreja (Católica) estava<br />

fazen<strong>do</strong>, padres, freiras, leigos. Fiquei absolutamente maravilhada: eram pessoas com outro<br />

tipo de cabeça que eu não conhecia, de um humanismo profun<strong>do</strong>, que moravam há anos lá<br />

no meio <strong>do</strong> mato, com os camponeses, misturan<strong>do</strong> religião com luta política, parecen<strong>do</strong><br />

<strong>integra</strong><strong>do</strong>s com a população. Algo completamente diferente da esquerda que eu conhecia.<br />

Parecia uma alter<strong>na</strong>tiva, <strong>na</strong> época. 35<br />

Como afirma LANDIM (1998, p.38), as ONGs também foram criadas por conta<br />

das limitações à ação e por conta <strong>do</strong>s cortes de <strong>em</strong>pregos <strong>em</strong> instituições tradicio<strong>na</strong>is,<br />

surgin<strong>do</strong> como “possibilidade alter<strong>na</strong>tiva de ação autônoma e ‘flexível’”. Ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que vislumbravam esta nova possibilidade de orientação profissio<strong>na</strong>l, os<br />

atores conviviam com a tarefa de compatibilizar valores como ativismo, voluntarismo e<br />

aversão à burocratização, característicos da militância política que envolvia sua ação e a<br />

necessidade, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre manifestada, de identificar<strong>em</strong> a nova atividade com a<br />

estabilidade tradicio<strong>na</strong>l que deveria caracterizar um <strong>em</strong>prego formal. Além disso,<br />

imagi<strong>na</strong>va-se que a assessoria aos movimentos sociais seria algo t<strong>em</strong>porário. Tão logo<br />

capacita<strong>do</strong>s, os grupos assisti<strong>do</strong>s e as organizações de movimentos sociais não teriam<br />

mais necessidade de apoio ou assessoria, poden<strong>do</strong> caminhar com suas próprias per<strong>na</strong>s.<br />

A nova inserção profissio<strong>na</strong>l também requeria uma habilidade específica no trato<br />

e <strong>na</strong> convivência com os grupos populares, socialmente distantes <strong>do</strong>s meios de orig<strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>s ativistas <strong>do</strong>s grupos de assessoria. E esta era uma outra fonte de tensão entre os<br />

militantes e os movimentos. No entanto, no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 70 diversos novos atores<br />

incorporaram a assessoria aos movimentos sociais como sua atividade principal. Eram<br />

egressos de organizações de esquerda de cunho marxista, ativistas que fugiram da<br />

repressão buscan<strong>do</strong> a clandestinidade, exila<strong>do</strong>s de volta ao país e egressos de quadros de<br />

movimentos estudantis <strong>do</strong>s anos 60. Em busca de trabalho após o perío<strong>do</strong> de<br />

35 Entrevista com uma agente de ONG, realizada <strong>em</strong> janeiro de 1987 (LANDIM, 1988, p.33).<br />

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