Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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Para pôr <strong>em</strong> prática esta proposta, Gutiérrez 23 mencio<strong>na</strong> a necessidade <strong>do</strong> teólogo (religioso<br />
ou leigo) tor<strong>na</strong>r-se um novo tipo de “intelectual orgânico”. Conforme a expressão de<br />
Gramsci, isto é, organicamente liga<strong>do</strong> ao projeto popular de libertação (...) O povo<br />
organiza<strong>do</strong> é uma condição prévia para transformações maiores. Para a Teologia da<br />
Libertação estas organizações assum<strong>em</strong> a forma de comunidades eclesiais de base, isto é,<br />
voltadas para a Igreja, e com participação não hierarquizada entre leigos e religiosos<br />
(SHERER-WARREN, 1987, p.127-8/132).<br />
O ímpeto <strong>do</strong>s movimentos desencadea<strong>do</strong>s a partir destas idéias sofreu o duro<br />
impacto <strong>do</strong> golpe militar de 1964. A ação da Igreja junto aos movimentos populares<br />
passou a ser reprimida. Tanto os núcleos militantes da Ação Católica e <strong>do</strong> MEB quanto<br />
os agentes <strong>do</strong>s sindicatos rurais incentiva<strong>do</strong>s pela Igreja foram persegui<strong>do</strong>s pelos<br />
militares, sob a acusação de incentivo a práticas subversivas. Dentro da própria Igreja,<br />
os setores mais conserva<strong>do</strong>res retomaram o espaço conquista<strong>do</strong> pelos progressistas e<br />
“aban<strong>do</strong><strong>na</strong>ram à própria sorte os grupos então persegui<strong>do</strong>s” (SADER, 1995, p.151).<br />
Naquele momento, a participação popular pública foi praticamente anulada e,<br />
com o recrudescimento <strong>do</strong> regime militar a partir de 1968, as lideranças <strong>do</strong>s<br />
movimentos populares quan<strong>do</strong> não eram transforma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> presos ou desapareci<strong>do</strong>s<br />
políticos, seguiam para o exílio. Para os que permaneceram restava a intervenção<br />
clandesti<strong>na</strong>, <strong>na</strong> maioria das vezes desenvolvida no interior, longe das capitais e da<br />
visibilidade pública, sob a guarda institucio<strong>na</strong>l da ala progressista da Igreja Católica,<br />
cujos agentes, <strong>em</strong>bora t<strong>em</strong>erosos <strong>do</strong> poder da repressão política, resistiam e trabalhavam<br />
<strong>na</strong> organização popular, <strong>em</strong> busca da retomada da d<strong>em</strong>ocracia e <strong>do</strong>s direitos políticos<br />
usurpa<strong>do</strong>s pelos militares. Esta resistência, como argumenta SADER (1995, p.151), fazia<br />
referência e alimentava-se da “mística <strong>do</strong>s cristãos persegui<strong>do</strong>s que não t<strong>em</strong>iam<br />
sacrificar-se pela boa causa”. A experiência da repressão deixou marcas profundas no<br />
ânimo <strong>do</strong>s ativistas cristãos, por vezes fortalecen<strong>do</strong> a crença <strong>em</strong> sua “missão redentora”.<br />
A <strong>na</strong>rrativa transcrita a seguir simboliza esta crença:<br />
Também no Brasil fiz<strong>em</strong>os essa experiência durante a repressão. Qu<strong>em</strong> passou pelas celas<br />
de tortura da OBAN e <strong>do</strong> DOPS, pensa no mun<strong>do</strong> diferente. Quebram-se barreiras de<br />
séculos, reviv<strong>em</strong>-se experiências da Igreja primitiva, <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po das perseguições;<br />
compartilham-se situações s<strong>em</strong>elhantes às <strong>do</strong>s profetas, no t<strong>em</strong>po da humilhação e <strong>do</strong><br />
exílio, ou as descritas pelo autor <strong>do</strong>s Atos <strong>do</strong>s Apóstolos, referentes às comunidades de<br />
Jerusalém e de Antioquia: a opressão se desmacara, a mensag<strong>em</strong> de justiça <strong>do</strong>s Evangelhos<br />
se concretiza, descobre-se uma fraternidade de fun<strong>do</strong>, uma solidariedade misteriosa unin<strong>do</strong><br />
os oprimi<strong>do</strong>s independent<strong>em</strong>ente de suas crenças e ideologias (CATÃO, 1986, p.26-7).<br />
Nos fi<strong>na</strong>l da década de 60, a nova postura da Igreja Católica para a América<br />
Lati<strong>na</strong> teve um papel decisivo <strong>na</strong> rearticulação <strong>do</strong>s espaços participativos cercea<strong>do</strong>s<br />
pelo regime militar. Na encíclica Populorum Progressio, lançada <strong>em</strong> referência à<br />
realidade latino-america<strong>na</strong> <strong>na</strong> segunda metade da década de 60, a Igreja Católica já se<br />
posicio<strong>na</strong>va diante das desigualdades sociais provocadas pelo modelo de<br />
desenvolvimento então <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. A partir da Conferência de Bispos de Medellin 24 , <strong>na</strong><br />
Colômbia, <strong>em</strong> 1968, a ação da Igreja, relacio<strong>na</strong>da à assistência social, passou por um<br />
processo de reorientação <strong>do</strong>utrinária, <strong>em</strong> resposta ao Concílio Vaticano II, passan<strong>do</strong> a<br />
23 “Gustavo Gutierrez, filósofo e teólogo peruano, com formação também <strong>em</strong> psicologia, é considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />
mais importantes pensa<strong>do</strong>res, propanga<strong>do</strong>res e militantes da teologia da libertação” (SHERER-WARREN, 1987,<br />
p.120).<br />
24 Conferência Geral <strong>do</strong> Conselho Episcopal Latino-Americano.<br />
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