Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A noção de desenvolvimento associada a esta orig<strong>em</strong> s<strong>em</strong>ântica foi, ao longo <strong>do</strong><br />
t<strong>em</strong>po, socialmente reconstruída de acor<strong>do</strong> com as percepções e sensibilidades <strong>do</strong>s<br />
diversos atores e campos teóricos de disputa que reivindicavam seus significa<strong>do</strong>s para<br />
nomear ou legitimar suas ações e propostas. Assim, não é possível imagi<strong>na</strong>r que, hoje,<br />
quan<strong>do</strong> a AS-PTA fala sobre desenvolvimento, mesmo s<strong>em</strong> enunciar formalmente o que<br />
quer significar, ou quan<strong>do</strong> diz<strong>em</strong>os, <strong>na</strong> análise que segue, que ela elabora e defende uma<br />
proposta de desenvolvimento rural, estejamos nos referin<strong>do</strong> a processos de mudança que<br />
ignoram as pessoas, seus desejos e valores culturais, e mecanicamente buscam um fim<br />
predetermi<strong>na</strong><strong>do</strong>. Ao falar sobre desenvolvimento, a AS-PTA, por um la<strong>do</strong>, constrói e<br />
defende o seu modelo ideal de desenvolvimento, ou seja, o significa<strong>do</strong> que ela gostaria<br />
que o desenvolvimento assumisse <strong>em</strong> suas práticas. Por outro la<strong>do</strong>, ela convive com<br />
uma imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> desenvolvimento que a sua própria história de intervenção <strong>na</strong> realidade<br />
permitiu elaborar. N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estas imagens (a <strong>do</strong> desejo e da prática) converg<strong>em</strong> para<br />
um mesmo senti<strong>do</strong>.<br />
Ao longo da trajetória da AS-PTA, as concepções ideais atribuídas à noção<br />
desenvolvimento variaram de acor<strong>do</strong> com o próprio decorrer das experiências e de sua<br />
avaliação reflexiva <strong>em</strong> diálogos, intencio<strong>na</strong>is ou não, estabeleci<strong>do</strong>s com as revisões que,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po, ocorriam nos campos político e acadêmico. Por ter esta característica,<br />
a noção de desenvolvimento, <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como ela é enunciada pela AS-PTA, é muito<br />
mais referida a meios e processos, sujeitos a diversas contingências, <strong>do</strong> que a fins ou<br />
estágios derradeiros como resulta<strong>do</strong> de intervenções planificadas. O desenvolvimento,<br />
neste senti<strong>do</strong>, t<strong>em</strong> a ver tanto com o incr<strong>em</strong>ento de determi<strong>na</strong>das capacidades pessoais e<br />
institucio<strong>na</strong>is quanto com a difusão de inovações técnicas introduzidas nos sist<strong>em</strong>as<br />
agrícolas de produção. Ele é quase s<strong>em</strong>pre referi<strong>do</strong> a intervenções locais que se baseiam<br />
e constro<strong>em</strong> méto<strong>do</strong>s de conhecimento e ação sobre a realidade e tend<strong>em</strong> a gerar mais<br />
princípios para a ação <strong>do</strong> que modelos reproduzíveis <strong>em</strong> larga escala.<br />
Usar o termo desenvolvimento para definir sua atividade também é, para a AS-<br />
PTA, um requisito para adentrar determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s campos de relação e reconhecimento que<br />
viabilizam e legitimam a própria existência da organização perante determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s atores.<br />
A sua proposta seria um tanto menos inteligível e aceitável para os seus fi<strong>na</strong>ncia<strong>do</strong>res,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, caso não se proclamasse como uma proposta de desenvolvimento, <strong>em</strong>bora,<br />
<strong>em</strong> alguns casos, o que a organização faz, <strong>na</strong> realidade, possa estar relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> a outros<br />
el<strong>em</strong>entos e objetivos que vão além <strong>do</strong> que dá a entender a idéia de “desenvolver” ou de<br />
promover “processos de desenvolvimento”. O mesmo ocorre com as relações e diálogos<br />
estabeleci<strong>do</strong>s com instituições acadêmicas e administrativas que lidam com o estu<strong>do</strong>, a<br />
elaboração ou a gestão de políticas públicas. Estas políticas, afi<strong>na</strong>l, são baseadas <strong>em</strong><br />
intenções de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, ao falar para a própria organização ou para os seus parceiros<br />
históricos – aqueles que ajudaram a construir a proposta e trabalharam <strong>na</strong> consolidação<br />
de uma identidade própria <strong>em</strong> torno da idéia de agricultura alter<strong>na</strong>tiva – o discurso<br />
elabora<strong>do</strong> pela AS-PTA traz à ce<strong>na</strong> outros signos e definições para o tipo de trabalho<br />
que realiza. Por isso, assum<strong>em</strong> destaque as noções de “assessoria” e “agricultura<br />
alter<strong>na</strong>tiva”. Não s<strong>em</strong> razão este último termo permanece <strong>em</strong> seu nome, <strong>em</strong>bora seja a<br />
agroecologia, e não mais a agricultura alter<strong>na</strong>tiva, o el<strong>em</strong>ento que dá coesão à dimensão<br />
utópica da proposta. Manter a utopia de transformação social viva <strong>em</strong> sua proposta é<br />
fundamental para dar um senti<strong>do</strong> estratégico ao trabalho e mobilizar partidários.<br />
5