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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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epertório discursivo que seja compreendi<strong>do</strong> e aceito por seus interlocutores. Este<br />

parece ser um requisito básico aos atores sociais que buscam, por meio de reformas,<br />

mudanças <strong>na</strong> sociedade. Neste caso, a estratégia de ação das ONGs dedicadas à<br />

promoção <strong>do</strong> desenvolvimento se aproximaria <strong>do</strong> que STOMPKA (1998, p.477)<br />

denomi<strong>na</strong> de “lógica expressiva <strong>do</strong> vetor da mudança pretendida”, ou seja, sua ação luta<br />

para afirmar sua identidade institucio<strong>na</strong>l, imagi<strong>na</strong>da como alter<strong>na</strong>tiva ao padrão<br />

<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que luta para obter aceitação para os novos valores<br />

defendi<strong>do</strong>s por sua proposta de mudança. Portanto, nesta perspectiva, a construção de<br />

suas propostas deve ter um caráter essencialmente articula<strong>do</strong>r. Na prática, a busca de<br />

fontes discursivas distintas para a construção de propostas atua de mo<strong>do</strong> a conectar<br />

interpretações que, salvo uma intenção e um méto<strong>do</strong> articula<strong>do</strong>res, não teriam maior<br />

aceitação entre os atores que decid<strong>em</strong> sobre a realização de mudanças <strong>na</strong> sociedade. 68<br />

Assim, quanto menos radical for a proposta colocada <strong>em</strong> ce<strong>na</strong>, maior será sua<br />

capacidade de aceitação pública e maior será sua capacidade de influenciar os processos<br />

de partilha <strong>do</strong> poder (DAGNINO, 2002).<br />

Este caráter articula<strong>do</strong>r (manifesta<strong>do</strong> mais recent<strong>em</strong>ente) da estratégia de ação<br />

das ONGs de desenvolvimento as afastaria da lógica instrumental <strong>do</strong> tipo de ação social<br />

que luta pela conquista <strong>do</strong> poder político para, por seu intermédio, impor as mudanças<br />

pretendidas <strong>na</strong> sociedade. Quanto à abrangência da mudança pretendida, a <strong>na</strong>tureza da<br />

ação das ONGs de desenvolvimento a situa, portanto, entre os atores sociais reformistas.<br />

Sua estratégia de ação não busca rupturas ou uma mudança total das estruturas, está<br />

mais próxima à participação ativa – geralmente por meio de ca<strong>na</strong>is institucio<strong>na</strong>is<br />

tradicio<strong>na</strong>is – nos processos de mudança parcial <strong>do</strong>s discursos políticos, das instituições,<br />

<strong>do</strong>s mecanismos estabeleci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> poder (principalmente o local) e, mais<br />

especificamente, no caso das ONGs de desenvolvimento rural, nos processos de<br />

mudanças culturais relacio<strong>na</strong>das aos mo<strong>do</strong>s sociais de organização da produção.<br />

Ao tratar diferentes tipos de movimentos sociais, STOMPKA (1998, p.474) propõe<br />

que eles devam ser diferencia<strong>do</strong>s, dentre outros aspectos, <strong>em</strong> relação à qualidade da<br />

mudança que pretend<strong>em</strong> provocar <strong>na</strong>s sociedades. Deste mo<strong>do</strong>, os movimentos pod<strong>em</strong><br />

ser diferencia<strong>do</strong>s entre “progressistas”, quan<strong>do</strong> enfatizam a inovação cultural, lutan<strong>do</strong><br />

para “introduzir novas instituições, novas leis, novas formas de vida [ou] novas<br />

crenças”, e “conserva<strong>do</strong>res ou retroativos”, quan<strong>do</strong> o objetivo de sua ação é “restaurar<br />

instituições, leis, mo<strong>do</strong>s de vida e crenças estabelecidas no passa<strong>do</strong> e desgastadas ou<br />

aban<strong>do</strong><strong>na</strong>das no curso da história”. Olhan<strong>do</strong> para a proposta de mudança contida nos<br />

discursos das ONGs de desenvolvimento, perceb<strong>em</strong>os como, <strong>na</strong> prática, os ideais<br />

progressistas e conserva<strong>do</strong>res conviv<strong>em</strong> la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> que haja uma clara distinção<br />

entre os pólos.<br />

Consideran<strong>do</strong> o caso daquelas que trabalham com a t<strong>em</strong>ática rural, notamos<br />

como a sua proposta tanto aponta para inovações institucio<strong>na</strong>is quanto para a<br />

restauração de algumas características de antigos mo<strong>do</strong>s de vida e de produção. Inovam<br />

quan<strong>do</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, reag<strong>em</strong> à centralidade administrativa e burocrática, característica<br />

tradicio<strong>na</strong>l das agências gover<strong>na</strong>mentais, e ao propor um maior protagonismo das<br />

68 A agroecologia, como proposta de reconversão <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as produtivos <strong>em</strong> prol de méto<strong>do</strong>s ecologicamente<br />

corretos, por ex<strong>em</strong>plo, não teria ti<strong>do</strong> uma enorme aceitação se não estivesse relacio<strong>na</strong>da à criação de nichos de<br />

merca<strong>do</strong> extr<strong>em</strong>amente lucrativos para aqueles aptos a explorar a força comercial propiciada pela revalorização<br />

de produtos tradicio<strong>na</strong>is, supostamente livres de agrotóxicos e mais saudáveis.<br />

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