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exter<strong>na</strong> às localidades. Ao contestar tal <strong>do</strong>mínio, o desenvolvimento alter<strong>na</strong>tivo, <strong>na</strong><br />
visão <strong>do</strong> pós-desenvolvimento, buscou ape<strong>na</strong>s formas pontuais para rever determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s<br />
objetivos e méto<strong>do</strong>s, não engendrou uma crítica radical à idéia da promoção <strong>do</strong><br />
desenvolvimento. Contra esta idéia e este <strong>do</strong>mínio, os argumentos pósdesenvolvimentistas,<br />
converg<strong>em</strong> para busca de um outro <strong>do</strong>mínio perceptivo, que vá<br />
além <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> desenvolvimento. Os diversos autores, de acor<strong>do</strong> com ESCOBAR<br />
(1995), compartilham argumentos como a construção de uma perspectiva crítica <strong>em</strong><br />
relação ao conhecimento científico tradicio<strong>na</strong>l, a defesa da autonomia local ou<br />
comunitária <strong>em</strong> relação à sua economia e cultura e argumentação de que os movimentos<br />
pluralistas e de base são as legítimas fontes das verdadeiras alter<strong>na</strong>tivas.<br />
Perante a evidência <strong>do</strong>s efeitos sociais e ambientais perversos da produção capitalista e da<br />
cultura materialista e instrumental que a tor<strong>na</strong> possível, a fonte de alter<strong>na</strong>tivas ao<br />
desenvolvimento encontra-se <strong>na</strong>s culturas híbridas ou minoritárias, das quais pod<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong>ergir outras formas de construir economias, de satisfazer as necessidades básicas, de<br />
viver <strong>em</strong> sociedade (SANTOS & RODRÍGUEZ, 2002, p.55).<br />
Ao reviver<strong>em</strong> as manifestações expressas <strong>na</strong>s lutas contra os diversos tipos de<br />
colonialismo, os teóricos <strong>do</strong> pós-desenvolvimento tend<strong>em</strong> a ressaltar as capacidades das<br />
comunidades locais, <strong>em</strong> suas batalhas cotidia<strong>na</strong>s contra as forças da globalização. O<br />
local passa a ser associa<strong>do</strong> ao que seria verdadeiramente autêntico e origi<strong>na</strong>l, <strong>em</strong><br />
contraste ao que chega de fora da comunidade, geralmente para corromper seus valores.<br />
De alguma forma, nestes discursos, pobreza e pureza são equacio<strong>na</strong>das, r<strong>em</strong>eten<strong>do</strong> às<br />
idéias construídas pela critica romântica ao capitalismo, para a qual a comunidade,<br />
contraposta à sociedade moder<strong>na</strong>, é fort<strong>em</strong>ente idealizada. LÖWY (1988, p.131)<br />
argumenta que esta visão idealizada da comunidade foi, de certo mo<strong>do</strong>, construída pela<br />
própria sociologia, fundan<strong>do</strong> uma visão dualista da realidade, opon<strong>do</strong> a comunidade<br />
ideal ao mun<strong>do</strong> moderno. Para o sociólogo al<strong>em</strong>ão Ferdi<strong>na</strong>nd Tönnies, o primeiro a<br />
tratar da noção de comunidade, ela poderia ser descrita como:<br />
(...) pequenos grupos de seres humanos viven<strong>do</strong> <strong>em</strong> relação direta, com base <strong>em</strong> uma certa<br />
cultura espiritual, religiosa, comum, como <strong>na</strong> família tradicio<strong>na</strong>l, patriarcal, ou <strong>na</strong> peque<strong>na</strong><br />
aldeia, e <strong>na</strong>s peque<strong>na</strong>s paróquias da Igreja. Contraposto a esta comunidade, há o mun<strong>do</strong><br />
moderno da sociedade, no qual as relações huma<strong>na</strong>s são utilitárias, puramente superficiais,<br />
onde pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>m grandes conjuntos nos quais a vida social é anônima e os indivíduos já<br />
não têm relações diretas: as fábricas, as grandes cidades, os grandes centros da vida<br />
política, profissio<strong>na</strong>l, burocrática etc.<br />
O ideais românticos se encontraram, da<strong>do</strong> momento, com a crítica marxista às<br />
sociedades capitalistas. Deste mo<strong>do</strong>, a partir <strong>do</strong> trabalho de Georg Lukács desenvolveuse<br />
a idéia de um anticapitalismo romântico que buscaria, contra a civilização industrial<br />
capitalista, pôr <strong>em</strong> evidência e resgatar determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s valores que estariam <strong>em</strong> um<br />
passa<strong>do</strong> comunitário, fosse ele real ou imaginário. Esta visão crítica da modernidade,<br />
caracterizada por um movimento conserva<strong>do</strong>r de tentativa de volta ao passa<strong>do</strong>, terá uma<br />
relação muito próxima com o pensamento <strong>do</strong>s teólogos da libertação <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>.<br />
Influencia<strong>do</strong>s pela visão difundida pela Teologia da Libertação, ativistas sociais<br />
e agentes pastorais, nos anos 70, saíram <strong>em</strong> defesa das comunidades camponesas e<br />
indíge<strong>na</strong>s, tentan<strong>do</strong> defender suas tradições diante <strong>do</strong> avanço das forças capitalistas<br />
modernizantes (LÖWY, 1988). Deste apego às comunidades, à parte a sua idealização,<br />
derivou uma preocupação meto<strong>do</strong>lógica com os mecanismos e processos políticos<br />
cotidianos de manifestação <strong>do</strong> poder – <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como os teorizou Michel Foucault – e<br />
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