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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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O quadro referencial comum que parecia cimentar a identidade das ONGs pode<br />

ser compreendi<strong>do</strong>, inicialmente, a partir da análise das diversas trajetórias individuais de<br />

seus funda<strong>do</strong>res e suas de relações com as também diversas trajetórias institucio<strong>na</strong>is que<br />

caracterizaram os campos relacio<strong>na</strong>is que deram suporte ao surgimento e à legitimação<br />

das ONGs. Estas trajetórias direcio<strong>na</strong>m suas estratégias de ação e seus esforços<br />

cognitivos à viabilização de uma alter<strong>na</strong>tiva institucio<strong>na</strong>l à conjuntura política adversa e<br />

aos mo<strong>do</strong>s de inserção das instituições tradicio<strong>na</strong>is <strong>na</strong>quela conjuntura. É deste mo<strong>do</strong><br />

que LANDIM (1998, p.34) sintetiza os el<strong>em</strong>entos-chave estrutura<strong>do</strong>res <strong>do</strong> ambiente<br />

social das primeiras ONGs. Estes seriam caracteriza<strong>do</strong>s pela:<br />

(...) criação de redes de relações sociais horizontais entre determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s agentes da<br />

sociedade brasileira; [pelo] estabelecimento de relações com organizações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

basicamente também não-gover<strong>na</strong>mentais (as quais por sua vez terão um papel <strong>na</strong><br />

estruturação daquelas relações no país); e [pela] existência de relações diretas com grupos<br />

sociais <strong>na</strong> base da sociedade.<br />

Na construção desta identidade parecia estar <strong>em</strong> jogo a intenção de d<strong>em</strong>arcar as<br />

distintas e opostas compreensões da realidade brasileira e a conseqüente elaboração de<br />

projetos de mudanças ou transformações sociais. No amplo campo oposicionista à<br />

ditadura militar começou a ser construí<strong>do</strong> um universo institucio<strong>na</strong>l arquiteta<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

contraposição àquele projeto de sociedade que era identifica<strong>do</strong> como <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nte. Um<br />

universo organizativo que também foi erigi<strong>do</strong> contra dadas permanências institucio<strong>na</strong>is,<br />

localizadas principalmente <strong>na</strong> burocracia estatal que, de acor<strong>do</strong> com o diagnóstico que<br />

faziam os atores <strong>do</strong> campo oposicionista, tentavam impor à sociedade brasileira uma<br />

leitura da modernidade por intermédio de um ideal de progresso funda<strong>do</strong>, por sua vez,<br />

<strong>em</strong> uma lógica desenvolvimentista, de mo<strong>do</strong> a desconsiderar ou simplesmente negar<br />

to<strong>do</strong>s os tipos possíveis de tradicio<strong>na</strong>lidades culturais diversas que a este projeto de<br />

modernização oferecess<strong>em</strong> algum obstáculo. 36<br />

No con<strong>texto</strong> <strong>do</strong>s anos 70 e 80 − época de modernização e de diversificação da<br />

sociedade brasileira − os atores que participavam da formação das ONGs<br />

diagnosticavam que as leituras da realidade, caracterizadas por interpretações<br />

totaliza<strong>do</strong>ras da dinâmica social, pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>vam entre aqueles que decidiam os rumos<br />

políticos e econômicos <strong>do</strong> país. Estas leituras influenciavam, de mo<strong>do</strong> determi<strong>na</strong>nte, as<br />

compreensões sobre os mo<strong>do</strong>s de desenvolvimento econômico, principalmente, e, de<br />

acor<strong>do</strong> com a leitura <strong>do</strong>s atores das ONGs <strong>na</strong> época, se des<strong>do</strong>braram − de mo<strong>do</strong> mais<br />

evidente a partir <strong>do</strong> pós-guerra − <strong>em</strong> grandes projetos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de desenvolvimento,<br />

que privilegiavam o setor industrial e colocavam <strong>em</strong> segun<strong>do</strong> plano qualquer iniciativa<br />

que vislumbrasse o desenvolvimento social, até porque a melhoria das condições sociais<br />

era compreendida como uma decorrência <strong>do</strong> desenvolvimento econômico. Estes grandes<br />

projetos passaram a ser sucessivamente impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong>s pelos governos militares,<br />

fundamenta<strong>do</strong>s <strong>na</strong> cultura política autoritária imposta à sociedade e apresentan<strong>do</strong><br />

particularidades, de acor<strong>do</strong> com jogo político instituí<strong>do</strong> a cada momento histórico, que<br />

não descaracterizavam sua essência totalizante e excludente (PÉCAULT, 1990).<br />

36 A noção de tradicio<strong>na</strong>lidade é <strong>aqui</strong> utilizada para significar o que GIDDENS (1991) argumentar ser uma tentativa<br />

reflexiva, de um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> grupo social, para não sucumbir a uma investida exter<strong>na</strong> que, de algum mo<strong>do</strong>,<br />

venha-lhe impor o desrespeito ou o “desligamento” <strong>do</strong>s valores e <strong>do</strong>s símbolos que “contém e perpetuam a<br />

experiência de gerações”.<br />

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