Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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trabalho de assessoria é concebi<strong>do</strong> como episódico <strong>na</strong> dinâmica organizativa local. A<br />
sua intervenção, além de oferecer novos princípios para a ação, é imagi<strong>na</strong>da como algo<br />
que possibilitará aos agricultores e às suas organizações uma outra capacidade de<br />
expressar publicamente suas d<strong>em</strong>andas, negociar com parceiros, principalmente o<br />
Esta<strong>do</strong>, e gerir o seu próprio caminho <strong>em</strong> busca de melhores condições de vida e<br />
produção (SABOURIN et al., 2000). Assim, o processo de mobilização social, de<br />
fortalecimento político das organizações <strong>do</strong>s agricultores e de construção de redes e<br />
alianças, além de ser imagi<strong>na</strong><strong>do</strong> como di<strong>na</strong>miza<strong>do</strong>r da cultura organizativa local, é<br />
também visto como um meio para pressio<strong>na</strong>r o Esta<strong>do</strong> a cumprir o papel de fornece<strong>do</strong>r<br />
de serviços, infra-estrutura e políticas públicas. O poder público tor<strong>na</strong>-se, assim, o foco<br />
<strong>do</strong> trabalho de assessoria. A mobilização <strong>do</strong>s agricultores e de suas organizações t<strong>em</strong><br />
como um <strong>do</strong>s seus objetivos a construção de um outro Esta<strong>do</strong> ou de um outro interesse<br />
público sobre os processos de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento, de mo<strong>do</strong> a garantir, por<br />
meio <strong>do</strong>s princípios agroecológicos, a <strong>em</strong>ancipação <strong>do</strong>s agricultores familiares.<br />
Esta aposta <strong>em</strong> um Esta<strong>do</strong> forte, <strong>em</strong>preende<strong>do</strong>r, d<strong>em</strong>ocrático e participativo foi<br />
reforçada durante o Encontro Nacio<strong>na</strong>l de Agroecologia (ENA), realiza<strong>do</strong> no Rio de<br />
Janeiro <strong>em</strong> julho de 2002. O Encontro, organiza<strong>do</strong> por quinze entidades, reuniu mais de<br />
mil pessoas vinculadas a “experiências concretas de promoção da agroecologia nos mais<br />
diversos ramos de atividade”. 119 No oitavo ano de governo de Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Henrique<br />
Car<strong>do</strong>so e às vésperas das eleições presidenciais, havia um ambiente de enorme<br />
expectativa quanto à eleição de um candidato que, fi<strong>na</strong>lmente, promovesse mudanças<br />
políticas <strong>em</strong> prol <strong>do</strong>s setores populares. Além das expectativas, havia a certeza que<br />
aquele era o momento para afirmação da força política da proposta agroecológica diante<br />
das negociações e disputas que aconteciam:<br />
As grandes manobras para definir programas e futuros ministros já estão <strong>em</strong> curso no PT. A<br />
questão da fome saiu <strong>na</strong> frente <strong>na</strong> lista das definições programáticas deste parti<strong>do</strong>, mas de<br />
uma forma criticada por muitos petistas e não petistas. T<strong>em</strong>e-se que os acadêmicos que<br />
cercam o candidato <strong>do</strong> PT acab<strong>em</strong> por fazer valer uma visão da agricultura que não admite<br />
lugar para a agricultura familiar e para a agroecologia senão margi<strong>na</strong>lmente. Esta é uma<br />
razão a mais para fazer <strong>do</strong> ENA um grande momento de mobilização política que possa<br />
influenciar as campanhas eleitorais (...) A estratégia a ser seguida neste ano eleitoral será a<br />
de dar a maior visibilidade possível às experiências exitosas <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o país para acumular<br />
forças junto à opinião pública e às organizações de agricultores familiares, confian<strong>do</strong> que<br />
estes últimos acabarão por influenciar os parti<strong>do</strong>s e governos (AS-PTA, 2001, p.13).<br />
Estas expectativas políticas deram o tom <strong>do</strong>s debates <strong>do</strong> evento. A agroecologia<br />
e o desenvolvimento pauta<strong>do</strong> <strong>em</strong> seus princípios assumiam o caráter de proposta<br />
política que alinhavava um certo consenso <strong>em</strong> meio à diversidade de experiências,<br />
percepções e d<strong>em</strong>andas que eram manifestadas no Encontro. Em certos debates era<br />
comum alguém reclamar não saber o que significava, afi<strong>na</strong>l, “agroecologia”. Cada<br />
ora<strong>do</strong>r ou cada experiência relatada parecia designá-la de uma maneira diferente. Mas o<br />
importante era afirmá-la como necessária, como expressão da mudança desejada. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, os relatos de experiências que ocorriam nos “Grupos de Trabalho T<strong>em</strong>ático”<br />
119 De acor<strong>do</strong> com a Carta Convocatória <strong>do</strong> Encontro.<br />
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