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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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Ambos aparatos, o de pesquisa e o de ensino, passaram os anos 70 legitiman<strong>do</strong><br />

os direcio<strong>na</strong>mentos políticos <strong>do</strong> projeto moderniza<strong>do</strong>r. A pesquisa aplicada tratou de<br />

enfatizar a adaptação de tecnologias agropecuárias importadas, enquanto o ensino<br />

agronômico baseava seus projetos pedagógicos <strong>na</strong> reprodução de receituários e manuais<br />

(com forte influência norte-america<strong>na</strong>) que pouco ou <strong>na</strong>da tinham a ver com a<br />

diversidade real vivida pela maioria <strong>do</strong>s agricultores. O pensamento crítico ainda era<br />

<strong>em</strong>brionário <strong>na</strong>quela época. A depender <strong>do</strong>s acadêmicos e pesquisa<strong>do</strong>res, encanta<strong>do</strong>s<br />

com as possibilidades tecnológicas da modernização, a <strong>integra</strong>ção <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a social<br />

objetivada pelo ideário modernizante estaria assegurada. 73<br />

As estratégias políticas de reprodução deste padrão de desenvolvimento<br />

passavam pela manutenção da estrutura fundiária, com o incentivo à pre<strong>do</strong>minância de<br />

médias e grandes propriedades e pela colonização das áreas de fronteira. Os eleva<strong>do</strong>s<br />

índices de produtividade da agricultura de larga escala, obti<strong>do</strong>s a partir de então,<br />

mantinham-se às custas de pesa<strong>do</strong>s investimentos <strong>em</strong> insumos químicos e mecânicos, da<br />

exploração <strong>do</strong> trabalho assalaria<strong>do</strong> e de uma sist<strong>em</strong>ática exaustão <strong>do</strong>s recursos <strong>na</strong>turais<br />

(GRAZIANO NETO, 1985). Os altos investimentos eram necessários para garantir a<br />

máxima artificialização <strong>do</strong>s ambientes utiliza<strong>do</strong>s, possibilitan<strong>do</strong> a instalação e o bom<br />

rendimento <strong>do</strong>s monocultivos. S<strong>em</strong> insumos como fertilizantes químicos e agrotóxicos,<br />

uso intensivo de m<strong>aqui</strong>nário para o preparo <strong>do</strong>s solos e irrigação abundante não seria<br />

possível garantir a produtividade <strong>do</strong>s cultivares geneticamente melhora<strong>do</strong>s. Eles eram<br />

“melhora<strong>do</strong>s” justamente para responder à máxima artificialização <strong>do</strong> meio ambiente, à<br />

mecanização e a quantidades crescentes de fertilizantes químicos (EHLERS, 1999).<br />

Ao contrário das médias e grandes propriedades, as peque<strong>na</strong>s unidades de<br />

produção baseadas <strong>na</strong> mão-de-obra familiar, foram postas à marg<strong>em</strong> <strong>do</strong>s incentivos<br />

gover<strong>na</strong>mentais, <strong>em</strong>bora delas viesse a maior parte <strong>do</strong>s gêneros alimentícios básicos. 74<br />

Quan<strong>do</strong> algum programa gover<strong>na</strong>mental as alcançava, estabelecia-se, como regra, uma<br />

relação bastante desigual entre os técnicos e os agricultores. Os técnicos geralmente<br />

detinham os conhecimentos considera<strong>do</strong>s váli<strong>do</strong>s e o poder de decisão. Os pacotes<br />

tecnológicos disponibiliza<strong>do</strong>s aos agricultores associavam o crédito à aceitação de uma<br />

proposta de mudança <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a produtivo. O poder de negociação <strong>do</strong>s agricultores era<br />

praticamente nulo. Para ter crédito e assistência técnica eles deveriam se submeter a<br />

projetos fecha<strong>do</strong>s e a técnicas que, muitas vezes, lhes eram estranhas e de difícil<br />

compreensão. A resistência <strong>do</strong>s agricultores às novidades impostas pelos técnicos era<br />

vista como teimosia, me<strong>do</strong> da mudança, apego ao passa<strong>do</strong>, falta de iniciativa e de<br />

caráter <strong>em</strong>preende<strong>do</strong>r. As estratégias extensionistas, <strong>na</strong>quele con<strong>texto</strong>, não viam a<br />

agricultura como um mo<strong>do</strong> de vida, reduziam-<strong>na</strong> ao <strong>em</strong>prego de técnicas e mo<strong>do</strong>s de<br />

organização da produção para torná-la economicamente mais eficiente. Assim, os<br />

73 Logicamente, houve exceções profissio<strong>na</strong>is que começaram, pouco a pouco, a despertar um pensamento crítico<br />

sobre as conseqüências sócio ambientais da modernização da agricultura. Um ex<strong>em</strong>plo foi a atuação da Federação<br />

das Associações de Engenheiros Agrônomos <strong>do</strong> Brasil (FAEAB), que se apresentaria, nos fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 70,<br />

como uma das principais articula<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s Encontros Brasileiros de Agricultura Alter<strong>na</strong>tiva (EBAA), ocorri<strong>do</strong>s a<br />

partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s anos 80 (FEAB, 1987).<br />

74 De acor<strong>do</strong> com GRAZIANO DA SILVA et al. (1983, p.29), <strong>em</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 70, o conjunto <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos rurais com até 30 ha de área total representavam 83% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s estabelecimentos. Embora<br />

ocupass<strong>em</strong> ape<strong>na</strong>s 14% <strong>do</strong> total de terras agricultáveis, produziam 43% <strong>do</strong> valor total da produção agropecuária.<br />

Para estes estabelecimentos eram direcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s 21% <strong>do</strong> valor total <strong>do</strong>s fi<strong>na</strong>nciamentos agrícolas. Os<br />

estabelecimentos com até 50 ha “agluti<strong>na</strong>vam quase 70% da força de trabalho total <strong>em</strong>pregada <strong>na</strong> agricultura<br />

brasileira, sen<strong>do</strong> que retêm 83% <strong>do</strong> total da mão-de-obra familiar não r<strong>em</strong>unerada”.<br />

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