Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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3.1 Desenvolvimento desigual e predatório: a cor da revolução não era verde 69<br />
No Brasil <strong>do</strong> fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong>s anos 70, os indica<strong>do</strong>res de produção agropecuária<br />
permitiam perceber a extensão das iniciativas gover<strong>na</strong>mentais para desenvolver o agro<br />
no decorrer da última década. A a<strong>do</strong>ção de padrões tecnológicos modernos, associada à<br />
disponibilidade de crédito e de assistência técnica para uma parcela significativa de<br />
produtores rurais, representou, por um la<strong>do</strong>, a potencialização da capacidade produtiva<br />
da terra e <strong>do</strong> trabalho agrícola, possibilitan<strong>do</strong> consideráveis ganhos <strong>em</strong> produtividade. 70<br />
Em diversas regiões <strong>do</strong> país, as condições técnicas de produção agropecuária passaram<br />
por transformações radicais. Por outro la<strong>do</strong>, no desenvolvimento de suas bases materiais<br />
de produção, observou-se uma crescente subordi<strong>na</strong>ção da força de trabalho e <strong>do</strong>s<br />
processos de organização social da produção aos interesses econômicos imediatos e à<br />
sua racio<strong>na</strong>lidade, ambos cada vez mais distantes da localidade e mais relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s aos<br />
objetivos das macropolíticas de promoção <strong>do</strong> crescimento econômico, para as quais o<br />
desenvolvimento agrícola des<strong>em</strong>penhava um papel fundamental. 71<br />
Naquele con<strong>texto</strong>, a agricultura era estimulada a modernizar seus sist<strong>em</strong>as<br />
produtivos e sua base tecnológica, <strong>integra</strong>n<strong>do</strong>-os, <strong>em</strong> diversos níveis, à indústria. Ao<br />
setor agrícola caberia fornecer matérias-primas tanto para a exportação quanto para<br />
suprir as necessidades <strong>do</strong>s centros urbanos, cujos processos de crescimento<br />
populacio<strong>na</strong>l traziam novas e crescentes d<strong>em</strong>andas. A agricultura tradicio<strong>na</strong>l, de<br />
peque<strong>na</strong> escala de produção e baseada no trabalho familiar, histórica fornece<strong>do</strong>ra de<br />
alimentos básicos, era vista como um probl<strong>em</strong>a, um obstáculo às intenções<br />
desenvolvimentistas (MARTINE, 1990).<br />
No campo das teorias <strong>do</strong> desenvolvimento, entre as décadas de 50 e 60, perío<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> auge <strong>do</strong> discurso da “revolução verde”, o setor agrícola tradicio<strong>na</strong>l passou a ser visto<br />
a partir de uma perspectiva que identificava nele uma série de impedimentos estruturais<br />
à realização <strong>do</strong>s ideais de progresso (ABRAMOVAY, 1985). A partir de 1965, no Brasil,<br />
sob o coman<strong>do</strong> de um Esta<strong>do</strong> autoritário – e, por isso, quase onipresente no cenário<br />
político – o principal objetivo traça<strong>do</strong> para a ação gover<strong>na</strong>mental foi promover a<br />
superação daqueles obstáculos. Este processo implicou, como ponto de partida, o<br />
fortalecimento de uma imag<strong>em</strong> negativa atribuída aos agricultores tradicio<strong>na</strong>is,<br />
associan<strong>do</strong>-os ao atraso, ao apego a maneiras ultrapassadas de organização social e de<br />
cultivo da terra e à resistência a mudanças.<br />
69 “Green is not the color of the revolution” foi o título de uma seção <strong>do</strong> artigo “The corporate seed”, publica<strong>do</strong><br />
pelos editores da Revista Balai <strong>em</strong> 1983 (HOBBELINK, 1990).<br />
70 Houve crescimento, <strong>na</strong> década de 70, no número de estabelecimentos rurais, principalmente <strong>na</strong>s regiões de<br />
fronteira agrícola (Regiões Norte e Centro-Oeste), diversificação da produção, expansão das áreas cultivadas,<br />
crescimento <strong>do</strong>s rebanhos e melhorias da produtividade <strong>do</strong> trabalho e da produtividade física das culturas e da<br />
criação animal (SZMRECSÁNYI, 1990, p.73).<br />
71 Para GIDDENS (1991, pp.26-7), o “lugar” onde decorr<strong>em</strong> os processos sociais pode ser mais b<strong>em</strong> compreendi<strong>do</strong><br />
por intermédio da idéia de local, referi<strong>do</strong> aos “cenários físicos da atividade social situada geograficamente”. A<br />
modernização, para ele, significa um processo de crescente esvaziamento <strong>do</strong> local, de transferência de seu poder<br />
instituinte, exerci<strong>do</strong> sobre as relações sociais, para outras instâncias, situadas <strong>em</strong> outras esferas de sociabilidade.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, “o que estrutura o local não é ape<strong>na</strong>s <strong>aqui</strong>lo que está presente no cenário, a forma visível <strong>do</strong> local<br />
oculta relações distanciadas que determi<strong>na</strong>m a sua <strong>na</strong>tureza”.<br />
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