26.06.2013 Views

Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

leitura da Abong, as ONGs não deveriam ser consideradas, como davam a entender os<br />

discursos oficiais sobre o papel terceiro setor, como “substitutas <strong>do</strong>s processos<br />

participativos, n<strong>em</strong> mesmo como agentes de uma nova assistência social minimalista”<br />

BOCAYUVA (2000, p.18). Para Leilah Landim, a noção de terceiro setor surgia com a<br />

intenção política de homogeneizar e despolitizar o campo das ONGs tradicio<strong>na</strong>is ou<br />

históricas.<br />

Eu sou daquelas pessoas que trabalharam <strong>na</strong> construção <strong>do</strong> nome ONG, um nome que<br />

distinguia um conjunto de organizações da sociedade civil brasileira que seriam autônomas,<br />

voltadas para a construção da cidadania e para a prestação de serviços também, mas dentro<br />

de um ideário de d<strong>em</strong>ocracia, cidadania, participação – um campo que se colocava à<br />

esquerda <strong>do</strong> espectro político <strong>do</strong> país, um campo que foi importante no processo de<br />

d<strong>em</strong>ocratização, de construção <strong>do</strong>s movimentos sindicais <strong>na</strong>s décadas de 70 e 80, no<br />

movimento de criação de identidades, no movimento de mulheres, no movimento negro, e<br />

por aí vai. 46<br />

Para o campo das iniciativas não-gover<strong>na</strong>mentais <strong>em</strong> desenvolvimento social, a<br />

conjuntura <strong>do</strong>s anos 90 apresentou si<strong>na</strong>is bastante complexos que, aparent<strong>em</strong>ente,<br />

ofereciam distintas e conflituosas orientações para as suas ações. Por um la<strong>do</strong>, a cultura<br />

política autoritária cedia, gradativamente, espaço às práticas d<strong>em</strong>ocráticas de gestão<br />

pública, abrin<strong>do</strong> possibilidades a uma participação popular mais qualificada. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, estes espaços também foram possibilita<strong>do</strong>s por um movimento de privatização das<br />

políticas públicas, articula<strong>do</strong> com o surgimento de processos políticos mais<br />

territorializa<strong>do</strong>s. Os partidários da privatização e<strong>na</strong>lteciam o potencial das ONGs como<br />

prove<strong>do</strong>ras substitutas de serviços estatais <strong>na</strong> nova conjuntura. Quanto aos governos<br />

municipais, eles assumiram maiores responsabilidades <strong>na</strong> promoção <strong>do</strong><br />

desenvolvimento e alguns convocaram os movimentos sociais e suas organizações para<br />

conduzir, cooperativamente, determi<strong>na</strong>das atividades. Tanto as ONGs quanto os<br />

movimentos sociais passaram a assumir a gestão pública como um t<strong>em</strong>a diretamente<br />

vincula<strong>do</strong> à sua atuação, rompen<strong>do</strong> com a tradicio<strong>na</strong>l postura anti-Esta<strong>do</strong>.<br />

Para as ONGs dedicadas à t<strong>em</strong>ática <strong>do</strong> desenvolvimento social, esta conjuntura<br />

se des<strong>do</strong>brou <strong>na</strong> necessidade de reconstruir seus formatos e estratégias institucio<strong>na</strong>is. O<br />

desafio seria preservar, de algum mo<strong>do</strong>, as características que compunham seu perfil<br />

histórico, que as posicio<strong>na</strong>va criticamente <strong>em</strong> relação aos mo<strong>do</strong>s de intervenção estatal<br />

diante <strong>do</strong>s “novos patamares de eficiência organizacio<strong>na</strong>l, transparência e<br />

responsabilidade pública” exigi<strong>do</strong>s pelo con<strong>texto</strong> de redução da atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

(ARMANI, 2001). A<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> esta conjuntura a partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de seis casos de<br />

parcerias (ou, <strong>na</strong>s palavras da autora, “encontros”) entre ONGs e governos, TEIXEIRA<br />

(2002, p.121), afirma que:<br />

Os me<strong>do</strong>s da cooptação, da perda de autonomia, da manipulação <strong>do</strong>s governos, são comuns<br />

aos discursos destas organizações que, mesmo com to<strong>do</strong>s estes receios, se lançaram <strong>na</strong><br />

arriscada aventura de encontros com órgãos gover<strong>na</strong>mentais, acreditan<strong>do</strong> que as políticas<br />

46 Entrevista concedida a Fausto Rego para o sítio www.rits.org.br, publicada online <strong>em</strong> janeiro de 2002. Landim<br />

é antropóloga, conduziu diversos estu<strong>do</strong>s sobre ONGs e, atualmente, preside o Conselho Deliberativo da FASE.<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!