Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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desenvolvimento tecnológico da agricultura, heg<strong>em</strong>ônico <strong>na</strong> sociedade brasileira de<br />
então. 106<br />
O Encontro Nacio<strong>na</strong>l da Rede PTA, <strong>em</strong> 1988, foi o momento <strong>em</strong> que os limites<br />
da agricultura alter<strong>na</strong>tiva como referencial para a construção de propostas de promoção<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento foram postos <strong>em</strong> discussão. Não era somente a insatisfação com o<br />
mo<strong>do</strong> centraliza<strong>do</strong> de coorde<strong>na</strong>ção da ação vinha assumin<strong>do</strong> o PTA-FASE. Os próprios<br />
resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelas equipes de TA e pelos CTAs, nos diversos caminhos que a<br />
proposta trilhava <strong>em</strong> cada con<strong>texto</strong>, pareciam indicar uma crescente fragmentação de<br />
experiências produtivas, que se tor<strong>na</strong>vam carentes de unidade meto<strong>do</strong>lógica e até de<br />
objetivos gerais comuns. Para o PTA-FASE, <strong>na</strong>quele momento, os objetivos políticos<br />
de sua ação estavam da<strong>do</strong>s e pareciam claros: as tecnologias alter<strong>na</strong>tivas promoveriam<br />
as mudanças desejadas a partir de sua crescente diss<strong>em</strong>i<strong>na</strong>ção. No entato, a prática<br />
d<strong>em</strong>onstrou que a capacidade normativa deste discurso se diluía ao decorrer da<br />
mediação com a diversidade das equipes locais, com seus con<strong>texto</strong>s políticos de<br />
inserção e da realização de sua dimensão produtiva.<br />
Nas palavras de Sílvio Gomes de Almeida, o projeto político defendi<strong>do</strong> insiria a<br />
proposta da Rede PTA <strong>na</strong> luta <strong>do</strong>s pequenos produtores <strong>em</strong> seu “confronto com as<br />
políticas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e com as forças da produção e <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s que tend<strong>em</strong> a expulsálos<br />
<strong>do</strong> campo” (ALMEIDA, 1991, p.5). Tanto o Esta<strong>do</strong> quanto os merca<strong>do</strong>s eram vistos<br />
como legitima<strong>do</strong>res das concepções <strong>do</strong> modelo da Revolução Verde. Não eram<br />
imagi<strong>na</strong><strong>do</strong>s como parceiros, o que era coerente com a imag<strong>em</strong> que se construía da<br />
proposta até então: um conjunto de experiências e iniciativas que aconteciam à marg<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s e <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Com isto, <strong>em</strong> grande medida, negava-se que o processo de<br />
afirmação de uma alter<strong>na</strong>tiva política para a peque<strong>na</strong> produção ocorresse por meios<br />
institucio<strong>na</strong>liza<strong>do</strong>s afirman<strong>do</strong>, ao contrário, que ele deveria ser construí<strong>do</strong> por meio da<br />
afirmação de sua autonomia.<br />
Este caráter da ação, principalmente a sua postura anti-Esta<strong>do</strong>, estava, como<br />
vimos, relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> ao con<strong>texto</strong> político originário da proposta. A imag<strong>em</strong> negativa<br />
atribuída ao Esta<strong>do</strong> afirmava o desejo da não-cooperação, fundamenta<strong>do</strong> <strong>na</strong> existência<br />
de projetos políticos opostos e inconciliáveis. A paulati<strong>na</strong> perda de senti<strong>do</strong> das grandes<br />
utopias políticas trouxe, além das desilusões, a possibilidade para pensar outros tipos de<br />
encaminhamento para a luta. Neste con<strong>texto</strong>, a negação da institucio<strong>na</strong>lidade pública e a<br />
afirmação da postura anti-Esta<strong>do</strong> poderiam ser mantidas ao preço de uma autonomia<br />
que se des<strong>do</strong>braria <strong>em</strong> isolamento. Uma postura que enfrentava um con<strong>texto</strong> políticoeconômico<br />
que indicava uma ampla revisão <strong>do</strong>s padrões estatais de promoção <strong>do</strong><br />
desenvolvimento, si<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong> a possibilidade de incorporação de novas concepções.<br />
Nesta revisão, a dimensão “local” <strong>do</strong> desenvolvimento ganhava relevância,<br />
operacio<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong>-se por meio <strong>do</strong> estímulo a processos de descentralização<br />
administrativa (TREJOS, 1998). Ao fortalecer esta dimensão local, eram abertas<br />
106 Heg<strong>em</strong>onia e consenso, neste caso, são usa<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s acepções mais radicais que lhes confere NOGUEIRA (2003,<br />
p.2). Heg<strong>em</strong>onia, então, faz referência à “capacidade que um grupo t<strong>em</strong> de dirigir eticamente um novo campo de<br />
liderança”. Consenso, por sua vez, significa a qualificação de “uma articulação pluralista de idéias e valores, uma<br />
unidade <strong>na</strong> diversidade”. O autor argumenta que ambos os conceitos são usualmente <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong><br />
enviesa<strong>do</strong>. Heg<strong>em</strong>onia, por ser uma palavra de orig<strong>em</strong> militar é normalmente aproximada à idéia de “monopólio<br />
ou uso intensivo <strong>do</strong> poder, quer dizer, vê<strong>em</strong>-<strong>na</strong> muito mais como sinônimo de força, autoridade e imposição. O<br />
conceito de consenso sofre algo pareci<strong>do</strong>: (...) acaba por ser reduzi<strong>do</strong> a ausência de dissenso e divergência, uma<br />
situação mais de silêncio passivo e u<strong>na</strong>nimidade que de ruí<strong>do</strong> e multiplicidade”.<br />
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