Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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Estas recomendações, interessadas <strong>na</strong> busca de alter<strong>na</strong>tivas baratas à promoção<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento, lançavam um olhar sobre as diversas experiências locais –<br />
conduzidas, <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s casos, por ONGs – e sobre a crescente literatura<br />
inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l que orientava tais iniciativas. A crítica à agricultura moder<strong>na</strong>, elaborada<br />
nos ambientes institucio<strong>na</strong>is responsáveis por sua propagação, associava-se, de mo<strong>do</strong><br />
peculiar, aos argumentos ambientalistas e incorporava idéias de estu<strong>do</strong>s antropológicos<br />
para afirmar que a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento deveria se tor<strong>na</strong>r ecologicamente<br />
mais sustentável e ter “o produtor como protagonista e beneficiário de seu próprio<br />
desenvolvimento” (FAO, 1991, p.1). Estas recomendações tinham orig<strong>em</strong> uma literatura<br />
que argumentava sobre a falência <strong>do</strong> padrão tecnológico da revolução verde e buscava<br />
um novo modelo para a promoção <strong>do</strong> desenvolvimento. O diagnóstico era claro:<br />
This is a time for reassessment of research and development strategies for farmers of the<br />
third world. The “green revolution” of the 1960s has had dramatic impacts in food<br />
production especially with the new high yielding varieties (HYVs) of wheat and rice, but<br />
small farmers on rain fed lands have not benefited nearly as large operators of well irrigated<br />
farms. Although in some cases small farmers have clearly benefited from HYVs, it has<br />
became increasingly clear that a simple “trickle <strong>do</strong>wn” process will bring th<strong>em</strong> few of the<br />
potential fruits of agricultural research and development. Without a new strategy designed<br />
to meet the needs of small farmers, we can expect the much publicized strata of the rural<br />
poor to r<strong>em</strong>ain in their depressed condition (WHYTE, 1977, p.51).<br />
Nesta revisão <strong>do</strong>s discursos estava inclusa uma crítica às concepções científicas<br />
e meto<strong>do</strong>lógicas que <strong>em</strong>basavam o processo de modernização da agricultura tradicio<strong>na</strong>l.<br />
Em “Rural development: putting the last first”, um <strong>texto</strong> de enorme repercussão, Robert<br />
Chambers, sintetizan<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>s desenvolvi<strong>do</strong>s desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 70, argumentou<br />
que os erros cometi<strong>do</strong>s nos processos de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento estariam<br />
principalmente relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s à reprodução, <strong>na</strong> relação entre técnicos e agricultores, <strong>do</strong><br />
mesmo caráter de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ção que caracterizava as mediações entre os países ricos e<br />
pobres. Os técnicos tendiam a impor aos agricultores a sua visão sobre os meios mais<br />
apropria<strong>do</strong>s para superar seus probl<strong>em</strong>as s<strong>em</strong>, no entanto, levar <strong>em</strong> conta a visão destes<br />
agricultores (CHAMBERS, 1983). Para ir além desta mentalidade autoritária, Chambers<br />
propunha permitir aos agricultores o protagonismo <strong>do</strong>s processos de desenvolvimento,<br />
incentivan<strong>do</strong> a sua participação. 79 Para isto, argumentava que os profissio<strong>na</strong>is de<br />
desenvolvimento necessitavam de novos enfoques e méto<strong>do</strong>s para que pudess<strong>em</strong><br />
interagir e conhecer melhor a realidade <strong>do</strong>s agricultores, valorizan<strong>do</strong>, neste processo, os<br />
conhecimentos construí<strong>do</strong>s à marg<strong>em</strong> <strong>do</strong> pensamento científico tradicio<strong>na</strong>l. No fi<strong>na</strong>l das<br />
contas, previa, este esforço r<strong>em</strong>odelaria o próprio conhecimento científico.<br />
Os valores profissio<strong>na</strong>is <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes entre os cientistas envolvi<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pesquisa<br />
agropecuária prejudicam a sua capacidade de trabalhar com os pequenos produtores (...) é<br />
necessário que lhes alter<strong>em</strong> estes valores e comportamentos para que possam entender<br />
melhor o pequeno produtor e o meio <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong> e, também, que este fato se reflita <strong>na</strong><br />
pesquisa agropecuária por eles realizada. Para entender as mudanças necessárias, dev<strong>em</strong>os<br />
iniciar não pelos pequenos produtores, mas por aqueles que buscam conhecê-los melhor<br />
(CHAMBERS, 1984, p.5).<br />
79 Colocar o agricultor <strong>em</strong> primeiro lugar <strong>na</strong>s intenções e no planejamento <strong>do</strong>s programas tornou-se a desig<strong>na</strong>ção<br />
de um enfoque de desenvolvimento amplamente difundi<strong>do</strong> no início <strong>do</strong>s anos 80, o “Farmer First”. Robert<br />
Chambers tornou-se inter<strong>na</strong>cioalmente conheci<strong>do</strong> como um <strong>do</strong>s precursores das meto<strong>do</strong>logias participativas de<br />
diagnóstico rural, atualmente trabalha para o Institute of Development Studies da Universidade de Sussex,<br />
Inglaterra.<br />
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