Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ
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de cultivo, tendiam a elevar as taxas de erosão e de queda da fertilidade <strong>na</strong>tural. Além<br />
disso, foi possível constatar que os solos eram <strong>na</strong>turalmente áci<strong>do</strong>s, com poucos<br />
nutrientes imediatamente disponíveis às plantas. A difícil situação fi<strong>na</strong>nceira <strong>do</strong>s<br />
agricultores familiares era uma severa restrição ao uso de corretivos e adubos químicos<br />
que pudess<strong>em</strong> aliviar a condição daqueles solos. No caso <strong>do</strong> manejo da biodiversidade,<br />
o diagnóstico indicava uma crescente especialização produtiva <strong>do</strong>s agricultores, que<br />
substituíam as variedades locais pelas comerciais, implican<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, perda<br />
de recursos genéticos, tanto vegetais quanto animais. Quanto ao manejo agroflorestal,<br />
constatou-se que a floresta de araucária (Araucaria brasilienses) vinha sen<strong>do</strong><br />
sist<strong>em</strong>aticamente desmatada, ceden<strong>do</strong> espaço para o cultivo de pinus (Pinus lin<strong>na</strong>eus).<br />
Em to<strong>do</strong>s os casos, o processo de modernização <strong>do</strong>s cultivos e manejos trouxe uma série<br />
de danos socioambientais (WEID, 2001, PETERSEN, TARDIN & MAROCHI, 2002).<br />
Para enfrentar o probl<strong>em</strong>a <strong>do</strong>s solos, buscaram-se as práticas mais tradicio<strong>na</strong>is<br />
que já vinham sen<strong>do</strong> utilizadas por alguns agricultores, como adubos verdes, cultivos<br />
intercala<strong>do</strong>s, fertilizantes orgânicos e compostag<strong>em</strong>. Com estas técnicas montaram-se<br />
experimentos para avaliar seu potencial e diss<strong>em</strong>i<strong>na</strong>r sua prática entre os agricultores.<br />
Nestes processos também eram introduzidas técnicas mais elaboradas, como o plantio<br />
direto e a prática da <strong>do</strong>sag<strong>em</strong> controlada de corretivos e fertilizantes <strong>na</strong>turais. Estas<br />
alter<strong>na</strong>tivas de manejo também estavam associadas à intenção de revalorizar os recursos<br />
genéticos locais, <strong>na</strong> tentativa de enfrentar o probl<strong>em</strong>a da perda da biodiversidade diante<br />
<strong>do</strong> avanço <strong>do</strong>s monocultivos. Para tanto, foi realiza<strong>do</strong>, por técnicos e agricultores, um<br />
trabalho de pesquisa que buscou identificar as variedades tradicio<strong>na</strong>is de milho, feijão e<br />
batata que vinham, paulati<strong>na</strong>mente, sen<strong>do</strong> substituídas por outras de maior interesse<br />
comercial, para reintroduzi-las nos sist<strong>em</strong>as de cultivo.<br />
O objetivo era resgatar antigas variedades e técnicas de cultivo utilizadas pelos<br />
agricultores que, entendia-se, possibilitava-lhes produzir e armaze<strong>na</strong>r suas próprias<br />
s<strong>em</strong>entes s<strong>em</strong> depender da compra ou da obtenção junto a órgãos gover<strong>na</strong>mentais. Para<br />
o cultivo da erva-mate (Ilex paraguariensis), outra cultura ancestral da região, a<br />
proposta foi introduzir novas técnicas de manejo agroflorestal, tentan<strong>do</strong> melhorar,<br />
assim, o méto<strong>do</strong> tradicio<strong>na</strong>l de cultivo. Neste aspecto, também foram introduzidas<br />
plantas medici<strong>na</strong>is para a criação de um programa de fitoterapia (AS-PTA, 1998, WEID,<br />
2001).<br />
Todas as propostas para mudança e melhoria <strong>do</strong> manejo <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as de cultivo<br />
e produção diagnostica<strong>do</strong>s implicavam a<strong>do</strong>ção de novas técnicas e méto<strong>do</strong>s. Embora as<br />
técnicas n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foss<strong>em</strong> novidade para os agricultores, afi<strong>na</strong>l tratava-se, <strong>em</strong> alguns<br />
casos, de resgatar procedimentos ancestrais, o mo<strong>do</strong> de inserção destes procedimentos<br />
no cotidiano de suas práticas era uma considerável inovação. O processo de<br />
desenvolvimento desencadea<strong>do</strong> pelo programa local da AS-PTA previa que os próprios<br />
agricultores avaliass<strong>em</strong>, conduzin<strong>do</strong> experimentos <strong>em</strong> suas propriedades, o potencial de<br />
a<strong>do</strong>ção e de difusão das novas técnicas. Também era necessário, <strong>em</strong> alguns casos,<br />
adaptá-las a condições locais específicas. De acor<strong>do</strong> com os princípios agroecológicos,<br />
estes experimentos deveriam ocorrer no próprio ambiente de orig<strong>em</strong> sócio-cultural das<br />
técnicas, rompen<strong>do</strong> com a noção de que ape<strong>na</strong>s os testes conduzi<strong>do</strong>s sob rigorosas<br />
condições de controle experimental, <strong>em</strong> campos de pesquisa, teriam validade. Surge,<br />
assim, a figura <strong>do</strong> “agricultor-experimenta<strong>do</strong>r”, aquele que apreende os princípios<br />
agroecológicos conduzin<strong>do</strong> experimentos e avalian<strong>do</strong> novos méto<strong>do</strong>s e possibilidades<br />
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