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Faça aqui o download do texto na integra em pdf. - R1 - UFRRJ

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marcada pela cultura de setores progressistas da Igreja Católica e pelo ativismo político<br />

de esquerda, esta identidade fundamentou um forte caráter anti-institucio<strong>na</strong>l, dirigi<strong>do</strong><br />

aos processos burocráticos que, de acor<strong>do</strong> com a leitura construída <strong>na</strong> época, tendiam a<br />

legitimar a subordi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> aos interesses das classes <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes. Os atores que<br />

atuavam a partir das ONGs contestavam a idéia de que o Esta<strong>do</strong> seria o único ator social<br />

legitima<strong>do</strong> a conduzir processos de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento da sociedade. Por<br />

isso, ao se posicio<strong>na</strong>r<strong>em</strong> ao la<strong>do</strong> e a serviço <strong>do</strong>s movimentos populares defendiam,<br />

dentre outras coisas, o estabelecimento de um tipo distinto de inserção profissio<strong>na</strong>l para<br />

aqueles que não vislumbravam possibilidade de transformação da sociedade por meio<br />

da atuação <strong>em</strong> organizações estatais e privadas e que acreditavam <strong>na</strong> necessidade de<br />

fortalecimento político das organizações <strong>do</strong>s movimentos sociais como meio para<br />

alcançar tal transformação. As mudanças defendidas contestavam o cerceamento <strong>do</strong>s<br />

direitos políticos, imposto pelo regime militar, e os rumos das políticas de<br />

desenvolvimento conduzidas pelo Esta<strong>do</strong>. A idéia de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento, <strong>na</strong><br />

avaliação destes atores, deveria ser pautada pelo caráter utópico e revolucionário que<br />

vinculava o trabalho de “conscientização” <strong>do</strong>s setores populares ao processo de<br />

“transformação social”.<br />

Na construção da identidade das ONGs, esta postura anti-Esta<strong>do</strong> começou a ser<br />

relativizada a partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 80 com o evento da “Nova República”, diante<br />

da conjuntura de crescente abertura <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>is políticos-institucio<strong>na</strong>is à participação de<br />

organizações da sociedade civil. Naquele con<strong>texto</strong>, a dimensão utópica <strong>do</strong> projeto de<br />

transformação social destas ONGs foi ceden<strong>do</strong> espaço à busca por maior afirmação<br />

pública e visibilidade para as experiências e propostas alter<strong>na</strong>tivas. Esta mudança de<br />

postura, ao longo <strong>do</strong>s anos 90, passou a mediar com a diss<strong>em</strong>i<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> discurso de<br />

valorização da ação das organizações sociais no con<strong>texto</strong> da revisão neoliberal <strong>do</strong> papel<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Deste mo<strong>do</strong>, as ONGs históricas foram reafirman<strong>do</strong> sua identidade, olhan<strong>do</strong><br />

para o Esta<strong>do</strong> com outros olhos e buscan<strong>do</strong> exercer uma maior influência sobre os<br />

processos de elaboração e gestão de políticas públicas. Também se preocuparam <strong>em</strong><br />

profissio<strong>na</strong>lizar sua intervenção, <strong>em</strong> um con<strong>texto</strong> de maior participação <strong>na</strong> disputa por<br />

recursos públicos e de crescentes exigências por resulta<strong>do</strong>s concretos por parte das<br />

agências inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de fi<strong>na</strong>nciamento.<br />

Para muitas ONGs, <strong>na</strong>quele momento, o Esta<strong>do</strong> passou a ser visto como o ente<br />

social imprescindível à realização das mudanças defendidas <strong>em</strong> suas propostas. Estas,<br />

por sua vez, diante de tal conjuntura política, assumiram um caráter mais reformista. A<br />

partir de então, as propostas deste conjunto de ONGs passaram a dialogar com o caráter<br />

ambíguo de sua relação com o Esta<strong>do</strong>. Assim, por um la<strong>do</strong>, como traço característico de<br />

sua formação, rejeitam a institucio<strong>na</strong>lidade gover<strong>na</strong>mental, construin<strong>do</strong> sua identidade<br />

<strong>em</strong> oposição aos formatos e projetos por elas assumi<strong>do</strong>s; por outro la<strong>do</strong>, responden<strong>do</strong> às<br />

mudanças conjunturais e a avaliação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s de suas intervenções, reivindicam,<br />

ao la<strong>do</strong> das organizações de movimentos sociais, muitas vezes vocalizan<strong>do</strong> suas<br />

d<strong>em</strong>andas, o caráter prove<strong>do</strong>r deste mesmo Esta<strong>do</strong>, diante <strong>do</strong> qual desejam ter maior<br />

capacidade de influência <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong>s rumos de suas políticas.<br />

A análise deste quadro social e histórico de orig<strong>em</strong> das ONGs permitiu perceber<br />

que a elaboração de suas propostas alter<strong>na</strong>tivas partiu da constatação de que os enfoques<br />

convencio<strong>na</strong>is, heg<strong>em</strong>ônicos ou <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>ntes utiliza<strong>do</strong>s para guiar os processos de<br />

promoção <strong>do</strong> desenvolvimento não conseguiram estendê-lo a parcelas amplas das<br />

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