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Para realizar estas mudanças, as ações de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento não<br />
deveriam considerar as especificidades históricas das diversas comunidades, povos ou<br />
<strong>na</strong>ções. Ao contrário, as realidades, objeto das intenções de desenvolvimento, é que<br />
deveriam ser, de algum mo<strong>do</strong>, homogeneizadas, <strong>na</strong> tentativa de facilitar sua<br />
aproximação ao padrão de convergência considera<strong>do</strong>. Aos contingentes populacio<strong>na</strong>is<br />
atingi<strong>do</strong>s pelas agências <strong>em</strong> prol <strong>do</strong> desenvolvimento restariam o ajustamento e a<br />
adaptação aos seus ditames. Esta concepção parece ser coerente com o projeto teórico<br />
da modernidade, <strong>do</strong> qual as <strong>na</strong>rrativas universalizantes são sig<strong>na</strong>tárias.<br />
Um importante conceito <strong>na</strong> idéia de progresso v<strong>em</strong> com a época das descobertas<br />
geográficas. Tor<strong>na</strong>-se visível que as sociedades huma<strong>na</strong>s, culturas, organizações políticas e<br />
econômicas, não são todas <strong>do</strong> mesmo tipo. A enorme variedade de estruturas sociais <strong>em</strong><br />
várias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tor<strong>na</strong>-se evidente. Porém, para preservar a idéia de unidade da<br />
espécie huma<strong>na</strong> e de sua progressão necessária, a diversidade é interpretada de maneira<br />
peculiar. Declara-se que a variedade é devida aos diferentes estágios de desenvolvimento ,<br />
ou de progresso, atingi<strong>do</strong>s pelas diferentes sociedades. As mais primitivas são vistas como<br />
situadas nos estágios iniciais, mostran<strong>do</strong> às mais civilizadas a imag<strong>em</strong> de seu próprio<br />
passa<strong>do</strong>; estas, por sua vez, representam estágios posteriores, oferecen<strong>do</strong> às mais primitivas<br />
um vislumbre de seu futuro. Existe o pressuposto de uma trajetória comum ao longo da<br />
qual todas as sociedades se mov<strong>em</strong> (SZTOMPKA, 1998, p.59).<br />
A construção da idéia de desenvolvimento também esteve associada ao desejo de<br />
determi<strong>na</strong>r um caráter previsível ao desenrolar <strong>do</strong>s processos sociais de mudança. Neste<br />
caso, as pesquisas históricas e comparativas cumpriram um papel fundamental à<br />
determi<strong>na</strong>ção de parâmetros que deveriam ser segui<strong>do</strong>s pelas sociedades atrasadas. Na<br />
prática, os países <strong>em</strong> vias de desenvolvimento trilhariam os mesmos rumos daqueles<br />
que passaram por processos b<strong>em</strong> sucedi<strong>do</strong>s. A crença <strong>em</strong> uma espécie de contínua<br />
evolução econômica se des<strong>do</strong>brou <strong>na</strong> possibilidade de estabelecimento de leis, estágios<br />
ou etapas que deveriam ser obedecidas para se alcançar o desenvolvimento econômico,<br />
garantin<strong>do</strong> um certo grau de previsibilidade sobre o des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong>s processos. 54 As<br />
concepções sobre o desenvolvimento foram historicamente informadas por esta<br />
compreensão, a ciência e a tecnologia proveriam a expansão e o aperfeiçoamento<br />
ilimita<strong>do</strong>s. No entanto, de acor<strong>do</strong> com BOTTOMORE (1975), somente para <strong>do</strong>is casos,<br />
relacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s entre si, parece ser possível aplicar a noção de desenvolvimento com<br />
alguma previsão, quan<strong>do</strong> se trata <strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> conhecimento humano sobre<br />
determi<strong>na</strong><strong>do</strong> assunto ou t<strong>em</strong>a e quan<strong>do</strong> se refere ao “crescimento <strong>do</strong> controle humano<br />
sobre o meio <strong>na</strong>tural, evidencia<strong>do</strong> pela eficiência tecnológica e econômica”.<br />
Na maioria <strong>do</strong>s escritos sociológicos recentes, o termo “desenvolvimento” t<strong>em</strong> si<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong> de maneira b<strong>em</strong> diferente, primeiro para diferenciar <strong>do</strong>is amplos tipos de<br />
sociedade – de um la<strong>do</strong>, todas aquelas sociedades industriais, e, de outro la<strong>do</strong>, todas aquelas<br />
sociedades (muito mais diversas sob outros aspectos) pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>nt<strong>em</strong>ente rurais, agrícolas e<br />
pobres – e segun<strong>do</strong>, para descrever o processo de industrialização ou modernização (…)<br />
Além disso, os estu<strong>do</strong>s de desenvolvimento nesse senti<strong>do</strong> concentram-se principalmente no<br />
desenvolvimento econômico (BOTTOMORE, 1975, p.262-3).<br />
Para que foss<strong>em</strong> b<strong>em</strong> sucedi<strong>do</strong>s, os processos de promoção <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
não poderiam ser dissocia<strong>do</strong>s da necessidade ou da existência de algum tipo de tutela<br />
54 Neste caso, a busca de leis gerais, <strong>em</strong>piricamente fundamentadas, é coerente com a tradição sociológica<br />
positivista. Para esta tradição, argumenta LEVINE (1997), o estabelecimento de leis gerais permitiria a predição<br />
sobre o desenrolar <strong>do</strong>s processos sociais, o quê conferiria maiores poderes, aos agentes, para a solução <strong>do</strong>s<br />
probl<strong>em</strong>as práticos enfrenta<strong>do</strong>s <strong>na</strong>s ações concretas.<br />
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