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Superprotegida dentro da relação familiar, ou melhor, no interior do modelo da
família burguesa, como esposa ociosa, privada do trabalho doméstico, sob a idéia de
que as mulheres deveriam ser integralmente sustentadas pelos homens. A privação dos
direitos políticos, ou o não direito à administração dos bens, não representava um
verdadeiro problema para as mulheres mais favorecidas que acabaram por se
emancipar no plano dos costumes.
Já a mulher trabalhadora, operária, camponesa, mulher do povo, a mulher que
vivia fora do núcleo familiar burguês, permanecem à margem de qualquer direito no
centro das transformações sociais e econômicas do século XIX: excluídas do voto,
impedidas de alcançarem a educação e sujeitas a um direito laboral, se não omisso,
discriminatório, são as mulheres das classes desfavorecidas que mais sofrem os
efeitos de seu status jurídico, uma vez que o Direito foi pensado em função das
mulheres burguesas ou da família modelo, da moral e dos valores.
Rosalind Miles 239 , referindo-se aos mecanismos de controle e disciplina do
século XIX, observa que, apesar da educação, a sociedade produz ainda uma enorme
bateria de controles sociais legais que, além de revelar o nível de ansiedade masculina,
mostra a força de resistência da mulher. Havia uma visível recusa de consentimento à
sujeição.
239 MILES, Rosalind. A história do mundo pela mulher. Rio de Janeiro: Casa-Maria Editorial, 1988.
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