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É no interior do sistema penal que a tradição de um direito patriarcal, embora
revestida de novos artifícios, encontra espaço para se perpetuar, pois das práticas
jurídicas emergem formas de subjetividade, formas de saber e formas de verdade que
produzem discurso e gênero, ou seja, o espaço público também produz subjetividades.
Mais do que em qualquer outra seara jurídica, é no campo penal que valem as
considerações de Richard Sennett. 155 Segundo o autor, quando se analisa as
transformações sociais, é preciso ter presente que há sempre a permanência de
padrões passados. Ou então, as referências simbólicas de cada período histórico são
formadas a partir dos traços de uma cultura tradicional e das características de uma
cultura ainda em formação. E, ainda, sustenta o autor, as marcas da cultura em
decadência apresentam-se como uma referência simbólica mais significativa do que os
traços da cultura em formação.
Toma também sentido aqui o entendimento de Hannah Arendt, segundo a qual
“o fim de uma tradição não significa necessariamente que os conceitos tradicionais
tenham perdido seu poder sobre a mente dos homens”. 156 Pelo contrário, assinala a
autora, “às vezes, parece que esse poder das noções e categorias cediças e puídas
torna-se mais tirânico à medida que a tradição perde sua força viva e se distancia da
memória de seu início”. 157 No entender da filósofa, a tradição pode mesmo revelar toda
155 SENNETT, Op. cit.
156 ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. Trad. Mario Barbosa de Almeida. São Paulo: Perspectiva, 1976,
p. 53.
157 Idem, ibidem.
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