unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...
unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...
unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
inscritos num espaço social, numa configuração epocal, constituin<strong>do</strong> redes de<br />
significa<strong>do</strong>s, esferas de poder, das quais emanam as suas verdades.<br />
Consideran<strong>do</strong> as variedades discursivas, observa-se que essas remetem a um<br />
discurso universal, forman<strong>do</strong> uma unidade significativa. É essa unidade de significa<strong>do</strong>s<br />
que institui o discurso da feminilidade 132 no Ocidente moderno e que subsiste enquanto<br />
referencial simbólico no inte<strong>rio</strong>r <strong>do</strong> sistema penal contemporâneo.<br />
Conforma<strong>do</strong> sob o ponto de vista tanto factual quanto ideológico, o discurso é<br />
elemento organiza<strong>do</strong>r da sociedade, uma vez que elege e determina verdades, dispõe<br />
e legitima lugares sociais, organiza o campo simbólico <strong>do</strong>s indivíduos. Vale dizer, o<br />
discurso fundamenta o homem dentro de suas relações sociais, ainda que ”o gesto<br />
instaura<strong>do</strong>r é sempre solidá<strong>rio</strong> de um gesto de segregação”. 133 A palavra que ordena é<br />
aquela que deve ser silenciada para que outra tome o seu lugar. A onipotência <strong>do</strong><br />
discurso também é a sua fragilidade.<br />
Assim sen<strong>do</strong>, o discurso que anuncia os enuncia<strong>do</strong>s necessá<strong>rio</strong>s também<br />
permite os enuncia<strong>do</strong>s possíveis. Por isso, a possibilidade de discursos periféricos,<br />
132 Este estu<strong>do</strong> concebe as categorias feminilidade e masculinidade enquanto identificações que estruturam o eu<br />
segun<strong>do</strong> os mo<strong>do</strong>s como cada cultura organiza os ideais para os gêneros. Esses ideais configuram o campo simbólico<br />
a partir <strong>do</strong> qual cada um, valen<strong>do</strong>-se de estratégias particulares, <strong>do</strong> seu desejo, das suas necessidades, se organiza<br />
enquanto sujeito. Assim, para compreender o que é específico da mulher, em sua posição tanto subjetiva quanto<br />
social, o discurso será toma<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que lhe é atribuí<strong>do</strong> por Michel Foucault, como produção de saberes,<br />
tanto <strong>do</strong>minantes quanto passa<strong>do</strong>s (recalca<strong>do</strong>s), conforme já aludi<strong>do</strong> em espaço ante<strong>rio</strong>r deste trabalho, com a<br />
contribuição <strong>do</strong> paradigma lacaniano, esse como uma forma de melhor compreensão de como a produção discursiva<br />
dispõe de lugares, estabelece senti<strong>do</strong>s e ideais para a vida <strong>do</strong>s sujeitos. Observa-se ainda que, quanto ao marco<br />
temporal, tem-se como referência o século XIX, por entender ser essa a tradição que impera no Direito Penal<br />
contemporâneo enquanto referencial de feminilidade.<br />
133 FOUCAUTL, Michel. O homem e o discurso. A arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Tempo<br />
Brasileiro, 1971, p. 14.<br />
65