unijuí – universidade regional do noroeste do estado do rio grande ...
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Ou seja, sobrevive através <strong>do</strong> Direito Criminal contemporâneo uma rede sutil de<br />
discursos, latente em to<strong>do</strong>s os níveis <strong>do</strong> corpo social, que se traduz em técnicas<br />
disciplinares e procedimentos regula<strong>do</strong>res, méto<strong>do</strong>s de poder capazes de majorar ou<br />
sujeitar as forças, as aptidões, a vida em geral para a garantia das relações, não só de<br />
produção 301 , como defende o autor, mas as relações de gênero segun<strong>do</strong> o modelo<br />
tradicional.<br />
O sexo, enquanto acesso à vida <strong>do</strong> corpo e à vida da espécie, insere-se<br />
simultaneamente como matriz das disciplinas e como princípio das regulações, alvo<br />
central de um poder que se organiza em torno da vida 302 . Com o limiar da modernidade,<br />
nasce toda uma tecnologia <strong>do</strong> sexo, dan<strong>do</strong> lugar a “controles constantes, a ordenações<br />
espaciais de extrema meticulosidade, a exames médicos e psicológicos infinitos, a to<strong>do</strong><br />
um micropoder sobre o corpo” 303 por um la<strong>do</strong>, e de outro, também “dá margem a<br />
301 O discurso da sexualidade que emerge a partir <strong>do</strong> século VXIII foi, segun<strong>do</strong> Michel Foucault, elemento<br />
indispensável ao desenvolvimento <strong>do</strong> capitalismo, “que só pôde ser garanti<strong>do</strong> à custa da inserção controlada <strong>do</strong>s<br />
corpos no aparelho de produção e por meio de um ajustamento <strong>do</strong>s fenômenos de população aos processos<br />
econômicos”. In: FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza<br />
da Costa Albuquerque e J. A Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988, p. 132. Este processo foi<br />
dinamiza<strong>do</strong> com o desenvolvimento <strong>do</strong>s <strong>grande</strong>s aparelhos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, das instituições presentes em to<strong>do</strong>s os níveis<br />
<strong>do</strong> corpo social: a família, o exército, a escola, a política, a medicina, a administração das coletividades. Além de<br />
agirem no nível <strong>do</strong>s processos econômicos, no seu desenrolar, forças em ação em tais processos operaram também<br />
enquanto fatores de segregação “e de hierarquização social, agin<strong>do</strong> sobre as forças representativas tanto de uns como<br />
de outros, garantin<strong>do</strong> relações de <strong>do</strong>minação e efeitos de hegemonia [...]”. In: FOUCAULT. Op. cit., p. 133.<br />
302 Consoante Michel Foucault, o sexo, ou a sexualidade enquanto foco de disputa política é parte de uma nova moral,<br />
é a entrada <strong>do</strong>s fenômenos próp<strong>rio</strong>s à vida da espécie humana na ordem <strong>do</strong> saber e <strong>do</strong> poder, no campo das técnicas<br />
políticas. Até então, sublinha o autor, o contato da vida com a história era da<strong>do</strong> sob o signo da morte: epidemias e<br />
fome eram ameaças constantes. Com o desenvolvimento da agricultura e com o aumento da produtividade e <strong>do</strong>s<br />
recursos, as <strong>grande</strong>s devastações deixaram de ser uma ameaça. “O homem ocidental aprende pouco a pouco o que é<br />
ser uma espécie viva, ter um corpo, condições de existência, probabilidade de vida, saúde individual e coletiva [...].<br />
Pela primeira vez na história, sem dúvida, o biológico reflete-se no político”. In: FOUCAULT. Op. cit., p. 134.<br />
303 Idem, p. 137.<br />
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